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quarta-feira, 1 de março de 2023

Pesquisa mostra opinião de juízes sobre uso de toga e crucifixo

A maioria dos juízes brasileiros acredita que o uso de toga durante a realização de audiências é uma tradição que deve ser mantida no Poder Judiciário: 51%. No caso de Porto Rico, a aprovação à medida chega a 100%. Em último lugar no ranking de países da América Latina, o Uruguai registrou 18% de concordância.

Os dados integram a pesquisa “Perfil da Magistratura Latinoamericana”, realizado pelo Centro de Pesquisas Judiciais (CPJ) da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) em parceria com a Federação Latinoamericana de Magistrados (FLAM) e o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe).

O estudo ouviu 1.573 juízes, de 16 países, entretanto, somente 11 deles constaram do relatório final – Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, El Salvador, Panamá, Porto Rico, República Dominicana, Uruguai e Brasil –, pois não se obteve um quantitativo mínimo de respostas para os demais.

De acordo com o presidente da AMB, Frederico Mendes Júnior, os resultados indicam a disposição da magistratura de se conectar com o contexto atual ao mesmo tempo em que cultiva características que sempre distinguiram o Judiciário. “A toga não influencia o trabalho do juiz, mas a forma como ele é visto pela sociedade”, explicou. “No final, o que importa, claro, é a manutenção de uma postura imparcial diante das provas do processo.

O presidente da AMB também chama a atenção para outras estatísticas apresentadas no levantamento, como a que demonstra que 96% dos juízes brasileiros concordam que os magistrados devem usar linguagem acessível em audiências e sessões, de modo que todos os presentes compreendam o que está em discussão.  “O acesso à Justiça é um direito constitucional que vai além da possibilidade de o cidadão ingressar com uma ação judicicial”, complementou Frederico Mendes Júnior. “Sem compreender o que se passa nos tribunais, a população não poderá exigir a plena garantia de seus direitos.”

Matheus Leitão - Jornalista, Revista VEJA


sexta-feira, 4 de março de 2022

Os negros e o Partido Republicano - Revista Oeste

John James, Candace Owens, Larry Elder, Winsome Sears, Vernon Jones e Herschel Walker | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
John James, Candace Owens, Larry Elder, Winsome Sears, Vernon Jones e Herschel Walker | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

O mundo assiste hoje, e quase em tempo real, à guerra na Ucrânia. Imagens de soldados russos e ucranianos, assim como de civis fugindo do terror da guerra, são divulgadas pelas redes sociais numa velocidade impressionante. No entanto, mesmo em um mundo globalmente conectado devido aos grandes avanços tecnológicos, checar a veracidade de imagens e informações pode ser uma tarefa difícil. Em meio a tanques e armamento militar pesado, a guerra das narrativas também é um estado atual do conflito na Ucrânia. A propaganda que os lados divulgam, no entanto, não é uma arma recente em situações como essa. Propagandistas na mídia atuam como soldados disciplinados. E nem é preciso um mundo conectado à tecnologia como o atual para que um ataque à verdade seja iniciado, bastam os jornalistas certos para as causas de cada lado.

Na década de 1890, o governo espanhol e os nacionalistas cubanos começaram a lutar pelo desejo de Cuba de ser independente da Espanha. Em 1895, Cuba e Porto Rico eram as últimas propriedades coloniais daquele país no hemisfério ocidental e, para lutar contra as revoltas, o governo espanhol começou a realocar vilas cubanas para suprimir qualquer ajuda que os rebeldes pudessem estar recebendo. Ao mover essas aldeias, milhares de civis começaram a passar fome, adoecer e morrer.

Enquanto alguns líderes cubanos não queriam que os Estados Unidos interferissem, outros procuraram os Estados Unidos em busca de ajuda. Na América, as pessoas simpatizavam com os cubanos que lutavam pela independência de seu país natal, uma vez que sua luta lembrava a batalha das colônias pela independência dos britânicos, em 1776. Os Estados Unidos entrariam na Guerra Hispano-Americana em abril de 1898 para ajudar Cuba a alcançar a independência — e um dos fatores que contribuíram para que os cidadãos norte-americanos exigissem que o país entrasse no conflito foi o chamado “jornalismo amarelo”.

O yellow journalism nada mais era do que o sensacionalismo de histórias na mídia. Durante o final dos anos 1800, os gigantes da mídia americana William Randolf Hearst e Joseph Pulitzer competiam para vender jornais. Para ganhar leitores, Hearst e Pulitzer frequentemente permitiam que seus repórteres exagerassem nos fatos e nos detalhes de suas histórias. O modus operandi da imprensa de hoje não é uma coisa tão nova assim.

A luta cubana pela independência, claro, ganhou a atenção de Pulitzer e Hearst, que enviaram repórteres a Cuba para contar as histórias dos campos de concentração cubanos liderados pelo general espanhol Butcher Weyler. A cobertura sobre os conflitos e o sofrimento que ocorriam em Cuba chamou a atenção do público norte-americano, envolvendo emocionalmente os leitores. Para aumentar a indignação e as tensões entre os países, uma carta roubada de Enrique Depuy de Lome, ministro espanhol, com comentários negativos sobre o presidente norte-americano William McKinley foi publicada — embora esse não tenha sido o estopim para a entrada norte-americana na guerra. Então, em 15 de fevereiro de 1898, o navio americano USS Maine explodiu no Porto de Havana, evento que colocaria os Estados Unidos de vez no conflito. O governo dos EUA havia enviado originalmente o Maine a Cuba para proteger os interesses econômicos norte-americanos e prover informações sobre a batalha, mas Pulitzer e Hearst publicaram rapidamente que a explosão tinha sido um ataque espanhol.

A Marinha dos Estados Unidos começou a investigar a explosão do navio e determinou que ela não havia sido resultado de atos subversivos, mas de um mau funcionamento do navio. Enquanto as descobertas da Marinha dos EUA eram anunciadas, a cobertura jornalística sensacionalista da explosão motivou o público norte-americano a pedir ao governo que declarasse guerra à Espanha. Nunca houve retratação pelas fakes news da época.

O racismo republicano
Mas esse “jornalismo amarelo” não é exclusividade de eventos em guerras apenas. A maneira como esses agentes atuam, seja na imprensa seja com revisionismos factuais, pode ser eficiente e apagar as verdadeiras páginas dos livros de história. Uma atuação eficaz, que rende frutos até hoje na sociedade norte-americana, foi o brilhante twist histórico entoado por centenas de historiadores e jornalistas militantes de que o Partido Republicano nos EUA, o GOP, é um partido racista, que sempre pregou a segregação das minorias, principalmente dos negros.

Fundado em 1854, o Partido Republicano foi criado para promover a igualdade afro-americana e lutar pela liberdade dos negros, um dos pilares da Guerra Civil, o conflito que mais matou norte-americanos na história. Abraham Lincoln e os Republicanos Radicais no Congresso lutaram para acabar com a escravidão e dar aos negros cidadania plena. A própria Guerra Civil desmonta a falácia de que republicanos são racistas desde a sua origem, já que o partido foi criado exatamente para combater os racistas democratas do sul. Regimentos compostos de negros durante a Guerra Civil Americana existiram apenas no norte, onde os republicanos abolicionistas conduziam seus Estados livres. (Recomendo o filme “Tempo de Glória”, de 1989, com Denzel Washington, Morgan Freeman e Matthew Broderick, que conta a história real do 54º Regimento de Infantaria de Massachusetts, o primeiro regimento afro-americano do Exército da União na Guerra Civil Americana.) Intelectuais, jornalistas e professores negros eram todos atrelados ao Partido Republicano, que promovia a congregação de todos os cidadãos.

Logo após a Guerra de Secessão e nas décadas seguintes, os primeiros políticos eleitos — com muito suor e luta contra o preconceito — eram todos do Partido Republicano. Os democratas administravam praticamente todos os Estados do sul e, mesmo após a Guerra Civil, trataram de aprovar legislações segregacionistas, as chamadas Jim Crow Laws — leis que excluíam e separavam os negros da vida cotidiana na sociedade norte-americana.

Por mais que tentem esconder nos porões do atual debate público, o conservadorismo negro e suas raízes antirracistas estão enraizados em várias comunidades de ascendência africana nos EUA. Os conservadores negros enfatizam o tradicionalismo, o patriotismo, a autossuficiência e o forte apelo cultural e social dentro do contexto da igreja cristã. A era da Reconstrução iniciou a maior mudança de afro-americanos conservadores na história moderna da política norte-americana. Durante esse período, os eleitores negros começaram a se alinhar mais com o Partido Republicano e suas ideologias conservadoras, que promoviam a liberdade, não apenas física, mas intelectual.

O preconceito da imprensa
Nas últimas três décadas, um tipo de conservadorismo defendido por um grupo de intelectuais negros tornou-se um marco no cenário político da América, promovendo debates políticos sobre alguns dos assuntos mais urgentes que confrontam a sociedade norte-americana contemporânea. Suas ideias foram negligenciadas por estudiosos da experiência afro-americana, e grande parte da responsabilidade de explicar o significado histórico e contemporâneo do conservadorismo negro recaiu sobre jornalistas altamente alinhados com o Partido Democrata. Normalmente, esses “especialistas” retratam os conservadores negros como estúpidos e incoerentes. Condolezza Rice, Ben Carson, Larry Elder, Candace Owens, o juiz da Suprema Corte Clarence Thomas, os escritores e economistas Shelby Stelle e Walter Williams, Alveda King, sobrinha de Martin Luther King Jr, e até o espetacular e necessário Thomas Sowell são constantemente chamados de Uncle Toms, uma expressão pejorativa, algo como “capitão do mato” no Brasil.

A mídia continua a se voltar preguiçosamente para o Black Lives Matter, como se esse grupo falasse por todos os negros

Thomas Sowell já se acostumou com um certo olhar da mídia progressista, geralmente de entrevistadores brancos. Eles sempre questionam como um conservador negro consegue lidar com críticas dos colegas negros. Em uma entrevista recente, Sowell, agora com 90 anos, desafiou a premissa de que os negros estão mais alinhados com as políticas dos progressistas democratas: “Não sei se podemos dizer que vou contra a corrente dos afro-americanos”, disse. “Não acho que colegas intelectuais negros sejam diferentes dos intelectuais brancos. Todos eles estão desalinhados com o que a comunidade, de fato, pensa. Negros regularmente me param em público e elogiam minhas opiniões. Quando saí do meu hotel nesta manhã, o segurança negro veio e disse: ‘Você é o Sowell?’; eu disse, ‘sim’. Ele andou comigo por todo o corredor e conversamos sobre isso e sobre aquilo… Então, não é Sowell contra negros. São os intelectuais progressistas negros”.

Sowell tem um escopo distinto de trabalho em teoria social e história econômica que é separado de seus estudos sobre raça, cultura e desigualdade. O grande volume dos textos e artigos de Thomas Sowell é superado por poucos contemporâneos, negros ou não. A amplitude e a profundidade de sua erudição tornam o rótulo “conservador negro”, seja qual for a definição do termo, limitada demais. Sua vasta obra será estudada e apreciada por muito tempo depois que ele partir.

Black Lives Matter
E a longa história de confundir os interesses de norte-americanos negros com os de organizações negras, jornalistas negros, acadêmicos negros e outras elites segue firme. 
A mídia continua a se voltar preguiçosamente para esses grupos, como o Black Lives Matter, como se eles falassem por todos os negros. 
Felecia Killings, uma jovem negra e CEO do Movimento Conservador Consciente, viaja o país contando sua história e despertando jovens negros das correntes que muitos têm com os democratas progressistas. Killings conta que seu pai a criou para ser conservadora e explica ainda que os negros norte-americanos são conservadores em seus valores. 
 
Sua organização, Conscious Conservative, tenta preencher a lacuna de educação e treinamento entre os negros norte-americanos e o conservadorismo, defendido pelo Partido Republicano: “Trata-se de entender a história negra, trata-se de entender que essa história está do lado do conservadorismo e, se pudermos adotar essas mensagens de uma maneira mais firme, em oposição a uma maneira degradante e desumanizante, veremos mais negros norte-americanos, millennials negros, especialmente entre os eleitores negros do sexo masculino; e começaremos a ver mais deles se alinhando com a política conservadora. Só o conservadorismo protege nossa liberdade e nossa crescente riqueza que estamos construindo avidamente dia após dia”.

Os comentários da jovem Killings vieram depois que Winsome Sears, vice-governadora eleita da Virgínia, tornou-se a primeira mulher negra a ser eleita em todo o Estado. Sears, candidata do Partido Republicano, atribuiu sua vitória ao fato de os eleitores estarem cansados de ver negros e brancos sendo colocados uns contra os outros: “Eles estão cansados de negros contra brancos e asiáticos contra latinos. Eles estão cansados disso e estão cansados de políticos que não deixam as feridas do passado cicatrizarem”.

Apesar de sua derrota nas eleições de 2020, o ex-presidente Donald Trump pode se gabar de um sucesso que intrigou os pesquisadores — ele era mais popular entre os eleitores de minorias étnicas do que em 2016, e o republicano presidencial com o maior número de votos nesses grupos desde 1969. Alguns podem achar isso surpreendente, já que seus críticos o acusaram durante quatro anos de racismo. Trump negava as acusações e acusava os democratas de subestimar os eleitores afro-americanos. Enquanto na Casa Branca o republicano foi ativo em políticas como independência financeira para as comunidades negras e latinas, com a implementação de programas eficazes de isenção fiscal, entre eles o “Opportunity Zones” para condados com baixo investimento do capital privado. Também cortou fundos federais para a indústria do aborto e suas clínicas espalhadas principalmente nas comunidades negras, o que fez elevar sua aprovação entre negros e latinos cristãos.

Questões como a imigração, sobre a qual o presidente Trump foi notoriamente linha-dura, a comunidade latina se mostrou menos monolítica do que alguns supõem. Uma pesquisa Gallup de 2017, por exemplo, descobriu que 67% dos hispânicos disseram que se preocupavam muito ou bastante com a imigração ilegal — número maior do que a proporção de brancos não hispânicos (59%), que responderam da mesma maneira. O presidente republicano ganhou seis pontos porcentuais entre os homens negros em 2020 e cinco pontos porcentuais entre as mulheres hispânicas. Isso significa que alguns eleitores mudaram de ideia, depois de não votar nele ou votar em outro candidato em 2016.

(...)

Quando em 2022 um lado do espectro político-ideológico ainda prega a segregação silenciosa, baseada na ideia de que a cor de sua pele pode predominar sobre o seu caráter, o que eu posso dizer é que sinto muito por essas pessoas. Por pura cegueira ideológica, alimentada por sementes vis de políticos racistas e inescrupulosos, eles deixam de ler e conhecer homens como Wilson William e Thomas Sowell. Homens que além, muito além da cor da pele engrandecem, expandem e enriquecem o mundo das ideias de todos nós.

Leia também “Tempo de escolha”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


sábado, 5 de janeiro de 2019

As meninas em uma crise humanitária

Reconhecer o direito à vida digna de uma menina nômade é reconhecer como sua sobrevivência depende da proteção de seus direitos sexuais e reprodutivos

Quando falamos em crise humanitária, nossa imaginação é curta para ter a América Latina e o Caribe no mapa global. A lista tem tsunamis na Indonésia ou conflito armado na Síria. Não há Haiti pós-terremoto, Nicarágua em conflito armado, Porto Rico ainda no chão após o furacão Maria ou os milhares de caminhantes venezuelanos que atravessam a fronteira do norte da Colômbia todos os dias. As crianças aprisionadas na fronteira entre o México e o Estados Unidos foram as que ascenderam à comoção internacional, sem que a elas seja concedido o título de vítimas de uma tragédia humanitária. Um dos principais desafios para 2019 é incluir a América Latina e Caribe na geopolítica global das crises humanitárias.

Milhares de venezuelanos na fronteira com a Colômbia. REUTERS


Nomear uma crise humanitária exige pensar as causas, antecipar soluções e apresentar-se às suas vítimas. As tragédias ambientais ou políticas recebem nome, como foi o furacão Maria ou o populismo na Venezuela, mas as vítimas são aglomeradas em estatísticas populacionais. São mais de mil caminhantes os que atravessam a fronteira da Venezuela e da Colômbia diariamente em Alta Guajira — a cena é de um desamparo inesquecível. Muitas são famílias indígenas Wayuu que carregam o que podem pelo nomadismo sem fronteiras. Nem tanto venezuelanos ou colombianos, os indivíduos transitam entre um lado e outro à espera que sejam protegidos ou reconhecidos por um ou outro país. Se estima que metade dos caminhantes diários sejam indígenas.

Os caminhantes são o corpo do desamparo imposto por uma crise humanitária. É gente que antes tinha teto, trabalho, nome e sobrenome. Peregrinam para sobreviver — por isso, caminham. Os caminhantes da Venezuela são nômades que atravessam a fronteira da Colômbia ou do Brasil. Os que escolhem a região andina seguem marcha até o Chile e Argentina, mas alguns param pelo caminho. Os que arriscam o Brasil vivem em campos de confinamento, em um país pouco cuidador aos refugiados ou desalojados forçados. Tomamos a missão como um fardo ou favor. [o socorro aos refugiados pode, e deve, ser prestado, mas tendo em conta um aspecto que não pode ser olvidado: nenhum país pode abrir suas fronteiras a refugiados sem antes pensar se tem ou não condições para tal gesto humanitário;
que adianta abrigar 10.000 refugiados, prover meios de subsistência para eles, se temos bem milhares e milhares, no caso do Brasil, milhões de desempregados, de famintos, que fatalmente terão suas agruras agravadas?
Deve ser também considerado as causas da busca de refúgio;

havendo condições todos devem ser abrigados, sem levar em conta a causa da tragédia; mas, sendo a capacidade de conceder refúgio, amparo, abrigo e proteção, limitada, temos que priorizar os que foram vítimas de desastres naturais, eventos totalmente fora do controle humano.

Os refugiados da Venezuela - apesar de ser uma consequência do apoio dado ao chavismo, ao bolivarianismo - merecem abrigo, todo o amparo, todo o tratamento digno, mas, no momento de comparar com a necessidade dos haitianos vitimados por terremotos, das vítimas do furacão Maria e outras esmagados por cataclismos, temos que priorizar estes e não os venezuelanos.
Mesmo assim, não pode ser olvidado que a prioridade deve ser sempre dada aos naturais do país objeto da busca de refúgio.]


Os campos de refugiados são espaços complexos à imaginação política nacionalista que não reconhece os caminhantes como gente em busca de amparo existencial. Essas pessoas são definidas como “sem estado, ou seja, vivem em uma espécie de purgatório terrestre, como se ninguém tivesse o dever de reconhecê-las ou protegê-las. Na multidão nômade das crises humanitárias, há populações mais vulneráveis que outras. Uma delas são as meninas e mulheres — são as que mais tardiamente iniciam a fuga dos espaços de risco e quando migram seus riscos são semelhantes aos contextos de conflito armado, em que a violência e o estupro são práticas comuns. Conhecemos mulheres na ponte da travessia em Alta Guajira, na Colômbia, que, no trajeto sem rumo, engravidavam e batiam à porta de nossas clínicas para realizar um aborto legal por estupro. Conhecemos outras milhares que chegaram em busca de anticoncepção, escapando da fome e da desesperança, imaginando um futuro sem rumo.

A dramática conexão entre migração, gênero e saúde foi descrita em um relatório recente da prestigiosa revista acadêmica The Lancet. No marco de crises humanitárias de migração forçada, refugiados e desalojados podem se diferenciar pelas causas que provocam o deslocamento, mas se assemelham na insegurança vivida para sobreviver típica dos peregrinos involuntários. Somente na região conhecida como o triângulo norte da América Central (El Salvador, Guatemala e Honduras) se estima que 215.000 pessoas se puseram em marcha no primeiro semestre de 2017, um número que aumentou em 2018. Ainda sabemos pouco como sobrevivem as meninas nesta multidão de gente que caminha, como fazem para sobreviver ao trauma de um estupro ou de uma gravidez forçada.

Se ignoramos que há crise humanitária em nossa região, somos incapazes de imaginar quais vítimas são mais vulneráveis. Se a todos os peregrinos involuntários as causas da crise podem ser compartilhadas — como mudanças climáticas, corrupção política ou violência do Estado — as formas de cuidado e enfrentamento do desamparo são específicas às mulheres e meninas em nomadismo forçado.

Reconhecer o direito à vida digna de uma menina nômade é reconhecer como sua sobrevivência depende da proteção de seus direitos sexuais e reprodutivos. Não é um corpo que caminha, é uma menina que carrega consigo o desamparo prévio imposto pela desigualdade de gênero que define os efeitos das crises humanitárias em nossa região.



El País

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Temor do zika vírus ameaça disparar aborto clandestino na América Latina

Virus Zika

Falta de acesso a métodos contraceptivos e a proibição do aborto levam a práticas inseguras 

O alerta contra o zika vírus no continente americano e sua vinculação com casos de microcefalia em bebês nascidos de mães infectadas têm levado as autoridades de países como Equador, Colômbia e El Salvador a aconselhar que mulheres evitem a gravidez. 

 Uma recomendação difícil de cumprir em uma região onde os programas de educação sexual são quase inexistentes. Cerca de 24 milhões de mulheres não têm acesso a métodos contraceptivos modernos na região, segundo a ONU. O vírus também se espalha por uma das regiões com mais restrições à interrupção da gestação no mundo: apenas seis países permitem o aborto por malformação fetal; em outros sete, não é autorizado nem para salvar a vida da mulher. Especialistas alertam que as dúvidas sobre os riscos do zika vírus, somadas à falta de opções para que as mulheres decidam se querem ou não ser mães, podem causar um aumento dos abortos clandestinos, inclusive no Brasil. [o fato de ser constatado no feto o desenvolvimento da microcefalia não apresenta nenhuma razão ética ou moral que justifique o assassinato de um ser humano inocente e indefeso.
Também não enquadra o assassinato nos casos em que a lei - erroneamente - permite sua realização.]

Na América Latina e no Caribe, cerca de 56% das gestações não são planejadas, como mostra a pesquisa do Instituto Guttmacher — especializado em saúde sexual —, com base em dados do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Conseguir preservativos, contraceptivos farmacológicos (como a pílula) ou DIU é complicado para 33% das mulheres em idade fértil e com parceiro fixo no Haiti; 17% das mulheres na Guatemala; 15% das argentinas; ou 12% das salvadorenhas (segundo dados do UNFPA de 2015). Não são apenas barreiras econômicas, mas também socioculturais, numa região em que, além disso, as taxas de violência sexual são muito elevadas.

As mulheres mais pobres e de zonas rurais combinam as maiores dificuldades de acesso a contraceptivos com a menor quantidade de informações sobre a doença, diz Giselle Carino, diretora-adjunta da Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF, na sigla em inglês). Também fazem parte do grupo mais vulnerável ao zika, um vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti o mesmo da dengue e do chikungunya —, que se prolifera em áreas com menor nível de saneamento e mais locais com água parada.

Atualmente, Equador, Porto Rico, Colômbia, República Dominicana, El Salvador, Honduras, Jamaica e Panamá pediram que as mulheres evitem engravidar; em alguns casos, até mesmo no prazo de um ano e meio. Um conselho não só insuficiente, mas também pouco realista. "O que faz é transferir toda a responsabilidade para as mulheres", critica Carino. [a única solução nestes países é NÃO ENGRAVIDAR e considerando que só as mulheres ENGRAVIDAM  a responsabilidade só pode ser delas.] As autoridades de saúde ainda não lançaram programas específicos para prevenir a gravidez, apesar do alerta da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).

“A crise do zika vírus voltou a colocar em evidência a vulnerabilidade dos direitos de reprodução na América. Não falta somente acesso à anticoncepção e ao aborto, a informação, atenção e controles pré-natais também são pontos falhos”, diz Mónica Roa, vice-presidenta da Women’s Link Worldwide. [essa mulher, essa tal de Monica Roa é vice-presidente de uma organização criminosa que tem como uma de suas principais metas o assassinato de seres humanos inocentes e indefesos.
O acesso a meios anticonceptivos deve ser irrestriro mas a proibição ao aborto deve ser total e as criminosas devem ser severamente punidas. ] E para determinar que o feto sofre de microcefalia – uma doença neurológica muito grave que faz com que o cérebro e o crânio tenham menor tamanho é preciso, minimamente, de uma ecografia. É, além disso, um diagnóstico que não é fácil e que ocorre a partir da 18° semana de gestação. Algumas vezes mais tarde, porque é preciso ver como o desenvolvimento do feto evolui”, explica a especialista em diagnóstico pré-natal Pilar Martínez-Ten.

Diante dos riscos do zika vírus e sua associação com a microcefalia no Brasil, o país mais afetado pelo vírus, existem 4.783 casos suspeitos desde o final de outubro –, as organizações de mulheres e direitos da reprodução exigem que os Governos revisem suas leis sobre o aborto. “Uma vez que existe esse diagnóstico e com toda a informação à disposição, são as mulheres que devem decidir se levam a gravidez adiante”, argumenta Roa, que diz que nem mesmo nos países nos quais o aborto é permitido em algumas circunstâncias o acesso é fácil. [a legislação brasileira não permite o aborto por razões em que a microcefalia está inclusa. E essa tal de Monica deve ser convidada, de forma bem convincente, a ir fazer apologia a atos criminosos fora do território do Brasil.] As leis do México, Belize e Panamá permitem a interrupção da gravidez por malformações fetais; no Brasil, somente se o feto sofre de anencefalia ou oferece risco de morte para a mãe, enquanto que na Colômbia é possível se a malformação é mortal. Em outros – como a Argentina – essa opção existe se a saúde física e psicológica da mulher estiver em risco. Na República Dominicana, Chile, El Salvador, Haiti, Honduras, Nicarágua e Suriname esse serviço é totalmente proibido. Em todos esses países foram detectados casos de zika. [uma análise isenta do assunto deixa claro que a microcefalia, apesar de ser uma doença grave não se enquadra entre as que permitem o assassinato do feto. - o maldito aborto.] 

Os especialistas e as organizações que trabalham pelos direitos da reprodução temem que o medo do zika vírus e as dúvidas sobre seus efeitos no desenvolvimento do feto, que ainda devem ser esclarecidos pelos especialistas, levem a um aumento dos abortos clandestinos. A experiência nos diz que, apesar das restrições legais, quando as mulheres têm uma gravidez não desejada, especialmente as jovens e aquelas que não têm recursos, acabam por buscar formas inseguras de abortar, o que coloca sua saúde e suas vidas em grave risco”, diz Gillian Kane, assessora da IPAS, uma organização que trabalha para prevenir o aborto inseguro. [quando a mãe que aborta morre durante o assassinato da criança, lamenta-se a morte da criança e louva-se a justiça representada pela morte da assassina.]
Na América Latina e no Caribe ocorrem aproximadamente quatro milhões de abortos inseguros por ano, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), um problema de saúde pública que provoca a morte de milhares de mulheres. [cada mulher que morre durante um aborto é uma criminosa a menos.]

Fonte: El País 

Clique aqui e leia matéria - inclusive com fotos - do desenvolvimento perfeito, fisico e mental de uma criança com microcefalia.

http://brasil-ameoudeixe.blogspot.com.br/2016/02/ana-carolina-exemplo-vivo-e-perfeito-da.html
 

 

terça-feira, 30 de junho de 2015

Porte de armas irrestrito, os profetas do apocalipse e a síndrome de vira-latas




Então o que me dizem do Paraguai? Lá, qualquer um compra e porta armas de fogo e o país possui três vezes menos homicídios que o Brasil.

Acabo de ver a notícia no portal da NRA que o Kansas adotará nesta quarta-feira (01/07) o porte de armas independente de autorização estatal ou treinamento. Os profetas desarmamentistas já estão com sua histeria habitual clamando o final dos tempos!  Pai Dito, este humilde brasileiro, que não tem nada de paranormal - no máximo ouve de vez em quando um "para, anormal" -, prevê que nada acontecerá!

O Kansas não é o primeiro estado a aprovar o porte ilimitado, ou seja, se você pode comprar uma arma, você pode portá-la sem que o papai estado tenha que ser consultado. Nos outros o que aconteceu? Nada! Absolutamente nada! Nada de balas perdidas, nada de tiroteios, nada de bang-bang  Essa é a inteligência americana, o pensamento legislativo coerente e com o propósito de simplificar a vida do cidadão que não é tratado como um débil mental incapaz de assumir responsabilidades. [detalhe: aqui no Brasil os desarmamentistas consideram o cidadão um débil mental incapaz de  assumir suas responsabilidades com alguma lógica: não todos, mas pouco menos de 50% demonstraram nas quatro últimas eleições não terem, as condições necessárias para exercer a cidadania, tanto que elegeram e reelegeram um estrupício quanto o Lula para o antes nobre cargo de presidente da República e para completar a c ... elegeram e reelegeram uma criatura chamada Dilma para o mesmo cargo.
A essas pessoas é temerário liberar a posse e porte de armas, com a agravante que grande parte dos distintos são portadores de uma incontrolável propensão ao crime.]

Tenho certeza que alguns, ou muitos, estão nesse momento pensando: no Brasil isso nunca daria certo! Viraria um bang-bang! O brasileiro não tem cultura para isso! Blá, blá, blá... Pois bem, vejamos então uma resposta para os portadores do que Nelson Rodrigues batizou de síndrome de vira-latas.

Primeiramente, gosto de lembrar aos mais novos que o Brasil já foi praticamente assim! Até 1997, quando o "direitista" FHC transformou em crime o porte ilegal de armas, praticamente qualquer um podia andar armado, normalmente apenas com o registro pois a pena era apenas uma multa e a apreensão da arma que era rapidamente devolvida com uma simples petição ao juiz. Bolsas masculinas vinham de fábrica - TODAS ELAS! - com coldres. Outro ponto importante é que muitos brasileiros acham que o americano típico é aquele cara cool (eu não disse cara de c... ok?) de NY ou San Francisco. O americano médio é o Homer Simpson! O Kansas é lotado dos chamados (pejorativamente) de rednecks, um tipo de caipirão, com alguns dentes faltando na boca, um pickup gigantesca na garagem, participando de campeonato de cuspe à distância, com uma .45 na cintura e um fuzil do lado da cama ou dentro do carro. E ninguém atira em ninguém.

Mesmo assim não dá para comparar? Lá não tem impunidade (tem sim, mas não falarei disso agora), a justiça funciona, o Estado é eficiente para punir qualquer um que fizer a coisa errada com a arma... Bom, imaginemos que isso é verdade. Então o que me dizem do Paraguai? Lá, qualquer um compra e porta armas de fogo e o país possui três vezes menos homicídios que o Brasil, isso levando-se em conta que a taxa nacional sofre elevação por conta da área fronteiriça com o... Brasil! Na maioria das cidades Paraguaias a taxa de homicídios é próxima das taxas médias da Europa! Oh! Armas malvadas não matam paraguaios, só brasileiros depois que atravessam a fronteira em forma de contrabando.

Duas decisões judiciais tiveram grande destaque em Porto Rico. A primeira foi que aquele estado não pode impedir que seus cidadãos possuam e usem armas de fogo. A segunda, com repercussão mundial, foi que a Suprema Corte Americana sentenciou que nenhum estado americano ou seus territórios podem proibir a união civil entre homossexuais, decisão que no Brasil aconteceu em 2013, mas parece que ninguém lembra...

 [epa... ninguém lembra não... apenas é complicado cumprir e lembrar de algo que não se pode cumprir torna fingir não lembrar bem mais cômodo e prático.... nos Estados Unidos da América a Constituição não determina que FAMÍLIA é formada pela união estável entre um homem e uma mulher... essa lacuna permitia que cada estado americano decidisse se o casamento fora da realidade, homem x mulher, era válido ou não.

A Suprema Corte dos EUA apenas chamou a si a palavra final sobre o tema e decretou que qualquer casamento fora da normalidade era válido.

No Brasil, a situação é bem diversa. A nossa Carta Magna determina no parágrafo 3 do artigo 226, que a FAMÍLIA é constituída pela união estável entre um homem e uma mulher. Fim do assunto – estava lá antes da decisão do Supremo e  agora, mesmo após decisão do Supremo continua  o mesmo texto.... invicto. 

Assim, está em plena vigência dispositivo da Constituição Federal do Brasil dizendo o que é FAMÍLIA.

Só que os membros do  Supremo se reuniram e decidiram liberar o casamento fora da realidade normal em qualquer parte do mundo -  incluindo o Brasil, sendo que aqui esta avaliação é convalidada pelo texto constitucional – mas, não decretaram a retirado da norma citada do texto constitucional;

Também não declararam inconstitucional aquele trecho e se omitiram não remetendo o texto ao Congresso Nacional para adaptar à Constituição Federal  ao decidido pelos excelentíssimos ministros do Supremo Tribunal Federal.
Temos uma decisão do Supremo determinando uma situação e um texto constitucional mantido pelo Supremo e pelo Congresso Nacional determinando outra.
A quem seguir?]

Imediatamente o governador desse território, Alejandro García-Padilla do Partido Popular Democrático (Oh! Que surpresa!), comemorou uma e disse que recorrerá contra a outra... Nem preciso dizer de qual ele recorrerá, não é mesmo?

Pois bem, tudo ótimo, tudo lindo e os "liberals", a esquerda americana, comemoraram efusivamente essa vitória que na realidade já era realidade em 36 estados americanos... Tudo eram flores até que o Bob Owens, editor da BearingArms.com, levantou uma questão mais do que pertinente: se o casamento gay deve ser respeitado em todos os estados com base na 14a. Emenda, o porte de armas também!  

Ou seja, estados como a Califórnia terão obrigação de aceitar uma licença para portar armas expedida pelo Texas,  por exemplo! Allen West, um dos mais conceituados republicanos, já abraçou a tese e discorreu sobre ela em seu site. Quero ver agora os tais "defensores das liberdades individuais" engolirem essa... Ah! Lembrando que semana passada um grupo de libertários gays foi expulso de uma passeata gay por estarem armados! Mas assim é a esquerda mesmo: liberdade que vale é só a minha!

Por: Bene Barbosa preside o Movimento Viva Brasil - http://mvb.org.br


segunda-feira, 22 de junho de 2015

O asteroide de Deus está de volta e agora já tem local para cair, diz profeta

A volta dos que não foram: o asteroide enviado por Deus, que cairá na Terra entre 22 e 28 de setembro, que punirá os infiéis e tudo mais, agora tem local para cair: Porto Rico, na América Central. Isso tudo, claro, de acordo com o profeta — tá bem, né — Efrain Rodriguez.

A história todos nós já sabemos: Efrain se entitula profeta e diz ter recebido uma mensagem vinda dos céus e que prenunciou que a vida como nós conhecemos acabará. E quem dará cabo em tudo é Deus, por meio de um asteroide. A questão nova é a localização, em Porto Rico, e tudo que ele acarretará ao planeta.

Segundo o profeta, a queda do asteroide divino causará imediatamente terremotos e tsunamis na costa leste dos Estados Unidos, no México, na América Central, é claro, e também na América do Sul. A partir daí o caos se instalará e poucos sobreviverão — isso é, se sobrar alguém.





O que começou — e continua — como repercussão de rede social chegou ao alto escalão das principais agências espaciais do mundo. A Nasa, por exemplo, soltou comunicado oficial negando a possibilidade, afirmando que “não existe a possibilidade de nenhum objeto de grande porte atingir a Terra nos próximos cem anos”.

De qualquer modo, evite Porto Rico entre 22 e 28 de setembro. Só que não.