Nos últimos 29 meses ocorreram 57 ataques a torres de energia, com interrupções no abastecimento de Norte a Sul. Do total, 23 foram entre janeiro e maio
Um dia depois do apagão de energia em 25 estados e no Distrito Federal, o governo ainda não sabe o que aconteceu. Mas já sabe o que não ocorreu.
O “evento zero”, nas palavras do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, foi numa linha da Chesf, do grupo Eletrobras, no Ceará. “Isoladamente, não era suficiente para causar o colapso do sistema como um todo, mas por erro de programação [uma barreira de proteção não foi acionada] levou a uma série de falhas.”
Segundo o ministro, a agência responsável pela manutenção, o Operador Nacional do Sistema (ONS), também não conseguiu identificar falha técnica que pudesse causar apagão em escala nacional, como foi registrado.
O rastreamento técnico prossegue. Em paralelo, iniciou-se uma investigação policial. As duas iniciativas confirmam: por enquanto, o que o governo sabe é aquilo que não aconteceu. Já é um começo.
A hipótese de sabotagem resiste, embora seja considerada tecnicamente pouco provável. Isso porque, nos últimos 29 meses, ocorreram 57 eventos classificados como “ataque” a torres de energia provocando interrupções no abastecimento de eletricidade em regiões de Norte a Sul.
Desse total, 23 foram registrados nos cinco primeiros meses do governo Lula, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) repassados à CPMI do Golpe.
Em fevereiro, por exemplo, houve atentados contra unidades do sistema elétrico em Santa Tereza (Goiás) e em Inhambupe (Bahia). Cortes intencionais no conjunto de fixação das torres provocaram o desligamento de quatro unidades geradoras da Usina de Belo Monte, no Pará. No interior baiano, isoladores de vidro de uma das estruturas (nº 131/2) foram destruídos a tiros, causando interrupção no suprimento de energia nos municípios de Itapicuru, Nova Soure e Olindina durante 52 minutos.
Dois meses antes, na véspera do Natal, os municípios de Balsas, Carolina, São Raimundo das Mangabeiras e Tasso Fragoso, no Maranhão, ficaram sem luz durante 1h28m por causa de um ataque à linha de transmissão — foram encontrados dois botijões de gás com maçaricos acoplados na estrutura de uma torre.
Não é possível, no entanto, atribuir-se motivação política exclusivamente contra o governo Lula. Há registros de atentados anteriores.
Em fevereiro do ano passado houve desligamento de componentes da rede elétrica na reserva do Iguaçu, no Paraná, depois de uma invasão da subestação local. Indivíduos não identificados sabotaram manualmente uma “caixa de mecanismo de acionamento da chave de aterramento” (identificada pelo número 57‐45), iniciando um curto-circuito.
Um mês antes, Maceió ficou sem energia por 18 minutos. Causa registrada: “incêndio criminoso” no sistema de abastecimento elétrico.
José Casado, colunista - Blog em Revista VEJA