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segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Ativismo judicial - STF – abuso e insegurança jurídica - Gazeta do Povo

Carlos Alberto Di Franco - VOZES

O momento atual do Brasil é de paixões exacerbadas: eleições que se aproximam, candidatos em campanhas sem limites, nervos à flor da pele. Pouca razão e excesso de emoção. É em momentos assim que se exige uma maior ponderação de todos. Também de nós, jornalistas. 
Hoje, mais do que nunca, é importante que se viva a virtude da prudência, no sentido tomista: a arte de, serenamente, coletar todos os dados da realidade que possam ser úteis para a sua compreensão.
 

                                               @Caradorno
 

Mas não podemos esquecer que as eleições passam, as paixões esfriam, as candidaturas e os mandatos também se esvaem. Todavia, há coisas que permanecem, e muitas vezes causam danos de difícil reparação para a vida de um país. Uma delas é a destruição da ordem jurídica que, no Brasil de hoje, é visível a olho nu, e infelizmente está sendo causada pela conduta de alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que é – ou ao menos deveria ser – o principal responsável pela garantia do cumprimento e da estabilidade do ordenamento jurídico.

Várias decisões de ministros do STF (na maioria das vezes monocráticas), em vez de estabilizarem a ordem jurídica, destroem-na, atropelando direitos fundamentais

O que se vem observando, lamentavelmente, é exatamente o contrário: várias decisões de ministros do STF (na maioria das vezes monocráticas) que, em vez de estabilizarem a ordem jurídica, destroem-na, atropelando direitos fundamentais e, muitas vezes, também as instituições incumbidas da preservação e do cumprimento do Direito, juntamente com o Poder Judiciário, como é o Ministério Público. São precedentes perigosos, que acabam servindo de mau exemplo, e pouco a pouco se propagam para outros órgãos do Judiciário.

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É o que se vê com a instauração do assim denominado “inquérito das fake news” (posteriormente, de forma jocosa, chamado por Marco Aurélio Mello – ele mesmo ex-ministro do STF – de “inquérito do fim do mundo”). Esse inquérito foi instaurado em 2019, pelo então presidente da corte, o ministro Dias Toffoli. Depois da instauração, sem que se fizesse nenhum sorteio do ministro responsável pela condução do inquérito, ela foi atribuída ao ministro Alexandre de Moraes.

O que motivou a instauração desse inquérito foi a publicação de uma matéria da revista Crusoé, que trazia uma referência ao ministro Dias Toffoli durante apuração feita na Operação Lava Jato. A abertura do inquérito deu-se mediante uma interpretação bastante alargada do artigo 43 do Regimento Interno do próprio STF, que prevê a possibilidade de instauração de inquérito, em caso de infração à lei penal na sede ou dependência do tribunal, e se isso envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição.

Esse inquérito – que ainda tramita até hoje, já decorridos mais de três anos – tem permitido a tomada de uma série de medidas flagrantemente ilegais e inconstitucionais, contra pessoas que nem mesmo são julgadas no STF – o que, por si só, torna abusivas as medidas determinadas por seus ministros. 
Acrescente-se que não pode haver a acumulação das posições de vítima, investigador, acusador e julgador que profere a decisão final. Tal poder, inconstitucional e autoritário, tem ocorrido com uma frequência assustadora. 
Atualmente, em um evidente desvirtuamento da interpretação deste artigo 43 do Regimento Interno, tudo é trazido para o arbitrário inquérito: blogueiros, jornalistas, partidos políticos, “empresários bolsonaristas” etc. A liberdade de expressão, garantia maior da Constituição, foi para o ralo do autoritarismo judicial.
 
As decisões de Alexandre de Moraes ferem o princípio do juiz natural, previsto na Constituição Federal de 1988. 
Em poucas palavras, este princípio significa que todas as pessoas têm o direito de serem julgadas pelo tribunal estabelecido na Constituição e nas leis, que preveem expressamente quais são as matérias e quais são as pessoas que podem ser julgadas por um determinado magistrado. 
É importante registrar que um juiz que não tenha competência para julgar uma pessoa não pode determinar medidas cautelares e coercitivas contra ela (uma prisão preventiva, ou busca e apreensão, por exemplo). É isso, rigorosamente, o que está acontecendo.
 
Já se vão semanas desde que o STF, na figura do ministro Alexandre de Moraes, deu mais uma cartada em seu assalto às liberdades e garantias individuais ao ordenar uma série de medidas cautelares contra empresários, devido a conversas privadas entre eles em um grupo de WhatsApp
O fim do sigilo sobre os documentos relativos a essa operação apenas escancarou o que já se intuía: a ausência completa de base legal para medidas como busca e apreensão de celulares, quebra de sigilo bancário e telemático, suspensão de contas em mídias sociais e até bloqueio de contas bancárias.
 
Além disso, os advogados dos investigados no inquérito das fake news do STF e em alguns de seus desdobramentos, como os inquéritos dos “atos antidemocráticos” e das “mídias digitais”, completaram dois anos sem vistas e sem acesso à íntegra dos autos desses processos. 
Uma ilegalidade e flagrante desrespeito ao direito de defesa.

É hora de todos, também os ilustres ministros do STF, fazerem uma sincera autocrítica. Golpes não dependem apenas de tanques. Podem ser desfechados pelo medo, pela leniência e pela omissão.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos

Carlos Alberto Di Franco, colunista - Gazeta do Povo - VOZES  

 

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

A coroação de Sua Alteza Eleitoral - Percival Puggina

Havia algo errado ali, uma demasia, um excesso. O ato de posse do novo presidente do TSE fez pensar numa cerimônia de coroação. Nunca antes se viu tamanha concentração de autoridades da República em evento do Poder Judiciário. Assistiam à coroação de Sua Alteza Eleitoral, D. Alexandre. [ousamos supor que  o   'coroado' se sentia Sua Alteza Real.]

As ruidosas manifestações de apoio deixaram à mostra a velha fenda existente entre a elite brasileira e a sociedade. Entre os “donos de poder” e seus súditos.  Era muita unanimidade em torno de quem está longe dela. Que a posse restitua ao ungido o equilíbrio e o bom senso que tanto lhe tem faltado.

Os aplausos concedidos à locução “Estado de Direito e Democracia” trazem lágrimas ao coração de quem, como eu, tanto se tem empenhado pela reforma de tudo que há de torto em nosso estado de direito e de vicioso em nossa democracia. 
Terei assistido ali o velório de minhas esperanças, sob os auspícios dos donos do poder? Sou conservador, não quero revolução!  
Quero reforma, mediante aplicação da inteligência aos fatos sob nossos olhos, à luz forte da história vivida. 
 
Nosso modelo institucional e nosso sistema eleitoral são feitos sob medida para perpetuação de quanto há neles de perverso
As mudanças ocorridas ao longo do tempo apenas pioraram o pacote inteiro porque nossos congressistas são beneficiados pelo modelo vigente e fazem a regra do jogo conforme lhes convém. Resultados: mais dinheiro público para campanhas caríssimas, maior representação dos grupos de interesse, número crescente de partidos e candidatos, maiores dificuldades para renovação dos parlamentos
Sendo ínfima a percentagem de eleitores que consegue eleger a pessoa em quem votou, poucos podem ser cobrados legitimamente por ações e omissões.

Por fim, repilo, com veemência o adjetivo golpista aplicado contra quem clamou por transparência no sistema eleitoral. É desonesto e ardiloso usá-lo para alavancar aplausos.

A diferença entre um sistema blindado e um transparente não é sutil; é, digamos assim, transparente
A diferença entre golpismo e clamar às instituições, ao longo de anos, por essa transparência, é a mesma que existe entre uma verdade com carimbo da história e o oportunismo de uma falácia de ocasião
A comprovação do que afirmo é dada pela recorrência com que esse assunto retoma o cenário institucional por iniciativa da sociedade ou do Congresso.

Escrevo em defesa de mim mesmo exatamente por ser democrata e por haver subido em dezenas de carros de som nos últimos anos para chamar a atenção das instituições da República sobre seus abusos e omissões. Muitas vezes, pedia-se por transparência no sistema eleitoral.

O assunto morreu? Não. Voltaremos a ele em 2023. Essa não é, porém, a pergunta certa. A pergunta certa é: fez sentido esticar a corda, criar um grande estresse político nacional, pressionar abertamente a Câmara dos Deputados, desgostar dezenas de milhões de eleitores em relação a um pleito tão importante e arrastar essa pauta indefinidamente alegando defender a democracia e o Estado de Direito? [Os destaques de alguns trechos  são de responsabilidade do Prontidão Total.]

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


quarta-feira, 27 de abril de 2022

Ligações Perigosas - Percival Puggina

Tomo emprestado o título da obra de Choderlos de Laclos, para tratar dessa nada republicana relação entre o STF e o Senado Federal.

O Supremo Tribunal Federal concebido pelos constituintes de 1988 revelou-se, com o tempo, um erro clamoroso. Ele não poderia ser, simultaneamente, tribunal constitucional e tribunal penal. Não bastasse isso, na função de tribunal penal, atribuíram-lhe, com exclusividade, a tarefa de julgar membros de um Poder (o Senado Federal) ao qual deram competência exclusiva para julgar ministros do STF... Bingo!

Se os constituintes pensaram em criar uma equivalência dos poderes na esfera penal, produziram, de fato, aquilo que você está pensando e todos veem. As consequências, que o texto da Carta deixa na cerração, resultam ensolaradas pela vida real. Ciranda-cirandinha e ninguém larga a mão; “mexeu com um, mexeu com todos”.

Abriu-se a porteira dos abusos, da impunidade e das prescrições. Congresso e STF usam segundo seu talante o poder que lhes é conferido. A sociedade percebe-se num nível crescente de insegurança institucional que põe em risco a estabilidade e já lhe começa a negar seus próprios direitos, como o de opinião e expressão.

Por exemplo: basta que os ministros queiram e uma idosa maquineta chamada urna eletrônica sem impressora vira sinônimo de democracia, de Estado de Direito; passa a ser tratada como Instituição e exige silenciosa reverência.   

“E o presidente?”, perguntará o atento leitor. Pois é, meu caro, o homem das quatro linhas é apontado pelos outros dois lados da Praça e pela Central Única do Jornalismo Oposicionista (CUJO) como culpado de tudo que eles mesmos geram na vida cotidiana das nossas instituições em seus ensaios para derrotar o governo e silenciar seus apoiadores.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


domingo, 30 de maio de 2021

MATANÇA? bandidos reagem à justa ação policial, iniciam o conflito, ficam em desvantagem, são abatidos e chamam de matança.

Bernardo M. Franco

Queriam que os policiais morressem?

MASSACRE [sic] NO JACAREZINHO - Sigilo para a matança

Operação da Polícia Civil na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro
Ao classificar os papéis como “reservados”, o subsecretário Rodrigo Oliveira afirmou que sua divulgação não é “pertinente” porque poderia revelar “dados sensíveis”. No dia da matança, ele acusou o Judiciário de praticar “ativismo”. Acrescentou que os defensores de direitos humanos teriam “sangue nas mãos”.  O delegado fez uma inversão de papéis típica da retórica bolsonarista. A polícia mata, mas a culpa pelas mortes não é de quem puxa o gatilho. A ordem é acusar advogados, defensores públicos e pesquisadores que criticam a violência fardada. [uma pergunta ao ilustre colunista: quem efetuou o primeiro disparo e que vitimou o policial civil André? 
TODOS SABEM, que foram os bandidos; 
tanto que nem os pró bandidos ousam dizer o contrário. Para vocês, o que talvez até provoque orgasmos a alguns insanos, é ver um policial morto, ensanguentado, covardemente assassinado por bandidos.
No Brasil o bandido tem direito a sair para o trabalho e o de não ser molestado com perguntas incômodas da policia; 
se encarcerado, tem o direito de prioridade na vacina sobre as pessoas de bem = afinal, um bandido não vacinado, se sente desestimulado a tentar fuga = pode em liberdade ser contaminado - já pensou que injustiça???
tem o direito de logo após ser preso, comparecer a uma audiência de custódia e lá acusar os que o prenderam de violência e o que mais quiser e terá credibilidade. Audiência que  tem sido - entre outros inconvenientes, uma das maiores causas de feminicídios = o individuo espanca a mulher, desobedece medida protetiva ou pratica outros malfeitos, é preso, vai para a tal 'audiência de custódia', é liberado, volta e mata a mulher que o denunciou.]

FELIZMENTE, os policiais começam a exercer o direito de após o trabalho VOLTAR PARA CASA.]

O ataque ao Judiciário está em sintonia com a ocultação dos registros do massacre. São dois lances de uma queda de braço que opõe a polícia fluminense ao Supremo Tribunal Federal. Em junho de 2020, o ministro Edson Fachin decidiu que as operações em favelas só poderiam ocorrer em “hipóteses absolutamente excepcionais”, com justificativa ao Ministério Público. A liminar foi confirmada pelo plenário da Corte, mas não mudou as práticas da polícia por muito tempo.

Nos últimos meses, a decisão passou a ser ignorada e a violência voltou a escalar. A operação no Jacarezinho foi batizada de “Exceptis”, numa provocação explícita ao tribunal. [a certeza exposta na conclusão, acima destacada, recomenda ler: 'excesso de certezas' - O Globo] “A polícia adotou uma atitude de desafio à autoridade do Supremo”, avalia o professor Daniel Sarmento, autor da ação do PSB que resultou na decisão de Fachin. Na quinta-feira, ele pediu à Corte que derrube o sigilo sobre os relatórios da polícia. “A Lei de Acesso à Informação afirma que não pode haver sigilo em casos de violação de direitos humanos. As investigações desses episódios têm se revelado muito ineficazes. A imprensa e a sociedade civil precisam de meios para ficar de olho”, afirma.  “Existe um claro conflito de interesse quando a Polícia Civil, que investiga se os próprios agentes violaram a lei, decide decretar sigilo de informações sobre a operação”, apontou a ONG Human Rights Watch.[essa ONG tão preocupada com a possibilidade de que direitos humanos de bandidos sejam desrespeitados, deveria gastar suas energias e recursos cuidando dos direitos humanos dos palestinos abatidos por Israel; os direitos dos bandidos do Brasil - os conhecidos direitos dos manos -  deixem  por conta do Brasil = é assunto interno nosso.]

A afronta ao Supremo pode ter sido a menor das ilegalidades no Jacarezinho. Segundo a Defensoria Pública e a Comissão de Direitos Humanos da OAB, há fortes indícios de execuções extrajudiciais, abusos contra presos e destruição de provas. [os dois órgãos citados são conhecidos pelo péssimo hábito de valorizar indícios = quando tal conduta é conveniente para defender bandidos e acusar a polícia.

Já para prender um bandido, ainda que em flagrante,  provas são transformadas em rumores e tudo vale para manter o bandido livre. Esquecem que o inquérito está sendo acompanhado pelo Ministério Público e que a mídia, ainda que a contragosto teve que admitir o uso de  vídeo com  imagens de uma ação policial realizada no RS para TENTAR tumultuar a perfeita operação  da Polícia Civil do Rio.]

Em nota técnica enviada ao Supremo, advogados da Rede Liberdade listam ao menos oito irregularidades na operação. O documento também aponta falhas do MP no controle externo da atividade policial. “A cada dia que passa, verificamos mais fragilidades em tudo o que a polícia alegou”, diz o advogado Felipe Freitas, um dos autores da nota. “O que aconteceu no Jacarezinho não foi uma operação policial. Foi uma chacina praticada por agentes do Estado”, conclui.

Bernardo Mello Franco, colunista - O Globo

 

sábado, 20 de janeiro de 2018

Cabral acorrentado se torna um emblema da Lava Jato: é a suposição estúpida de que o fascismo dos meios levaria a um bom fim

A imagem de Sérgio Cabral em Curitiba, com os pés acorrentados, cercado de agentes federais com o rosto coberto, atinge o paroxismo da violência moral, da ilegalidade, do ato atrabiliário, do fascismo dos meios para a suposta virtude dos fins.

Há quanto tempo tenho chamado a atenção para os abusos praticados pela operação Lava Jato? Infelizmente, importantes setores da imprensa têm sido coniventes com eles. Já nem se diga a OAB nacional, rotineiramente de uma omissão escandalosa. Quando protesta, o faz de maneira tão frágil e covarde que melhor seria calar-se

Tanto bati que fui eu mesmo vítima daquilo que denunciava: como sabem, ou Ministério Público Federal ou Polícia Federal ambos em conluio? vazou uma conversa minha, ao telefone, com uma fonte, Andrea Neves. O intuito, obviamente, era me ligar a alguém que tinha tido a prisão preventiva decretada — em si, outro abuso, cumpre notar —, embora o diálogo nada tivesse a ver com a investigação nem sugerisse algo ilegal. Agredia-se, de forma desassombrada, uma garantia constitucional: o sigilo da fonte. Assim, a Lava Jato mandava um recado: “Não ousem discordar de nós ou nos criticar. Isso poderá custar caro”.

Ou o senhor ministro da Justiça, Torquato Jardim, determina que a Polícia Federal abra imediatamente uma investigação para apurar os abusos ou pode pedir demissão. Ou o delegado-geral da PF, Fernando Segóvia, toma ele mesmo providências ou também pode pegar o caminho da roça. E podem esperar coisa pior. Infelizmente, a troca de guarda na PF e no Ministério Público Federal foi irrelevante para fazer com que esses entes do Estado voltassem aos limites estritos da lei. Raquel Dodge, a procurador-geral, já é uma decepção. E não porque ela está deixando de fazer o que eu quero. Mas porque está permitindo, sem reação, que a corporação que comanda, por intermédio de alguns de seus próceres, jogue no lixo as leis, o decoro, o bom senso. Ainda volto a esse tema em particular. Estamos num caminho ruim e perigoso.

Não seja idiota, leitor amigo! Aplaudir a humilhação a que foi submetido Cabral corresponde a dar ao guarda do bafômetro a licença de lhe dar uns petelecos.
ATENÇÃO! INEXISTE PAÍS QUE MALTRATE SEUS PRESOS E TRATE BEM OS CIDADÃOS COMUNS.
ATENÇÃO! INEXISTE PAÍS QUE DISPENSE TRATAMENTO DIGNO A SEUS PRESOS E INDIGNO A SEUS CIDADÃOS.

Nas sociedades, o preso é um indicador do estado geral da saúde democrática. A razão é simples: aquele que está sob a guarda do Estado perdeu parte importante de sua autonomia, da capacidade de se autogerir, de tomar decisões sobre o próprio destino. O Estado toma para si tais atribuições — e assim tem de ser se houve a transgressão. Por isso mesmo, avaliar o que faz tal Estado com quem está sob a sua guarda corresponde a saber o tratamento que ele dispensa ao conjunto da população.

“Tá com peninha de Cabral?”, vomitam os idiotas. Não! Estou preocupado justamente é com esse fascismo dos meios que tem constituído a pedra de toque da Lava Jato. Ora, bolas! Fui ou não o primeiro a apontar que pelo menos quatro das dez medidas de Deltan Dallagnol contra a corrupção não faziam inveja a um regime fascista ou comunista? Fui ou não fui o primeiro na imprensa a bradar contra as prisões preventivas em avalanche, tornadas instrumentos de pressão para a delação premiada? Fui ou não fui o primeiro a protestar contra as conduções coercitivas, inclusive a de Lula, que, também elas, buscavam antes o ritual de humilhação do que a eficiência da operação?

Ao repetir aqui o “fui ou não fui o primeiro”, não estou reivindicando primazias e heroísmos. É que sei bem o que isso tudo me custou e me custa. Ou também não é sob saraivada de balas que escrevo sobre as aberrações da sentença de Sérgio Moro na condenação de Lula? Afinal, não sou de direita? Não sou anti-esquerdista? Não sou um dos mais antigos críticos do PT na grande imprensa? Sim, é tudo verdade! Mas a minha repulsa a esse partido deriva do fato de ser eu um liberal, um defensor incondicional da democracia e do estado de direito. Por essa razão, pouco me importa se a vítima da agressão é Sérgio Cabral, uma figura política pela qual sinto profundo desprezo, ou Luiz Inácio Lula da Silva, que pensa e encarna boa parte das coisas que repudio em política.

Ocorre que não são os meus adversários — e as vicissitudes que os colhem — a decidir o que penso ou deixo de pensar. O que penso ou deixo de pensar não muda a depender dos alvos da ação dos entes estatais. Em qualquer caso, eles têm, de se ater os limites da legalidade. E isso vale para todo mundo.  Ocorre que o país está se acostumando à violência institucional. Pergunta-se antes “quem” para depois procurar saber o “quê”. Uma das coisas que sempre repudiei no petismo, inclusive no curto período em que lá estive, é o relativismo moral; é a noção — para citar lateralmente um texto clássico das esquerdas — de que existem “a nossa moral” (que serve à “nossa luta”) e a “deles”. Segundo essa concepção, “nós, de esquerda, podemos fazer coisas contra eles que eles jamais fariam contra nós; afinal, devemos tirar vantagens dos pruridos morais de nossos adversários, de sorte que, se a honra deles não permite o ataque pelas costas, então a nossa vantagem comparativa está em atacar pelas costas”…

Infelizmente, o pouco que havia ou se desenvolveu de pensamento liberal e conservador no país se deixou sequestrar por essa lógica incivilizada, bruta — no limite, homicida —, amoral. Alguns sinais de conteúdo ideológico estão invertidos, é claro!, mas os valores que animam uns e outros são os mesmos.

De volta a Cabral
Nessa sexta e neste sábado, todos os partidos, grupos de rua, militantes e afins que juram de pés juntos seu amor pela democracia liberal deveriam estar indignados com a imagem de Sérgio Cabral acorrentado. Por quê? Qual era o propósito de tal prática senão a humilhação do preso? Você gostou, amigo? Acha que é assim mesmo que se faz? Vamos ver a quem você vai reclamar quando o guarda da esquina resolver exercer sobre você a sua (dele) autoridade…

Eis aí. É assim que a Lava Jato está nos preparando um futuro melhor: violando leis, garantias constitucionais, direito dos presos a um tratamento digno etc. E tudo isso para quê? Para nada!  Como escrevi anteontem, os motivos alegados para transferir Cabral já são de uma fragilidade escandalosa. Se ele recebeu alguma regalia indevida no presídio do Rio, que se coibisse a prática e que se abrisse uma investigação para punir os responsáveis. Em vez disso, o juiz Sérgio Moro preferiu transferi-lo para “o sistema prisional do Paraná”, como a dizer: “aqui, no olho do furacão da Lava Jato, não tem mole, não! Aqui a gente humilha mesmo os poderosos. Aqui, eles não terão os direitos que lhes faculta a lei e que só servem à impunidade”.

Estamos começando a nos aproximar do abismo legal. Ainda vou trazer aqui um momento patético, vocês verão, em que um procurador da República se revolta contra o direito que tem um investigado de não responder a uma questão — capítulo da máxima das democracias no terreno penal, segundo a qual ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Isso é pilar da democracia, não instrumento da impunidade. Acontece, vocês verão, que o procurador não gostou. E nós sabemos que, com raras exceções, procuradores acreditam poder construir a sua própria República oligárquica, à qual todos nós, incluindo os Poderes da República, estaremos subordinados, unidos pelo “direito de obedecer”.

O alarde com os tais “artigos de luxo” de Cabral já era um óbvio exagero, no qual a imprensa embarcou gostosamente, fazendo o barulho demagógico e populista que a Lava Jato queria que fizesse. Ora, com a população, então, pilhada contra o ex-governador, por que não oferecê-lo ao linchamento? E foi o que se fez.

Apenas um exemplo E que se note: Cabral é apenas um exemplo de algo bem mais grave. O desrespeito aos limites legais passou a ser prática corriqueira de setores abrigados na PF e no MPF. Lembro de novo: eu mesmo tive violada uma proteção constitucional sem ter, como é sabido, cometido crime nenhum. Agrediram um dos pilares da minha profissão. Só para mostrar quem manda. Nesta sexta, nas redes sociais, Deltan Dallagnol pregava abertamente o impeachment do ministro Gilmar Mendes e incentivava as pessoas a assinar uma petição em favor do impedimento. O quer vai acontecer com ele? Nada obviamente. Mas que ousasse um ministro do Supremo sugerir a exoneração, a bem do serviço público, de um procurador. O mundo viria abaixo.

O caso de Cabral é tão chocante que gerou a reação negativa mesmo em setores que vivem de joelhos para a Lava Jato. Em certa medida, a crítica nesses nichos é farisaica. Sua síntese: “Ao exagerar, a Lava Jato fornece um pretexto para seus críticos”, como se a operação, na sua essência, não estivesse eivada de violações legais e de agressões à institucionalidade.

Cadê Cármen Lúcia? A propósito, cadê Cármen Lúcia, presidente do Supremo, que responde pelo STF durante o recesso? Ela tem o hábito de se manifestar de moto próprio sobre isso e aquilo — geralmente causas que caíram, vamos dizer, no gosto dos defensores do populismo judicial. E sempre é muito sentenciosa a respeito. Quero saber o que pensa a ministra sobre a decisão deliberada de humilhar um preso.
“Ah, está reclamando porque é Cabral, né?” Não. Se você clicar aqui, lerá um texto deste blog, escrito no dia 8 de janeiro de 2014, em que bato duramente nas esquerdas porque elas se ocuparam apenas de combater a tortura a presos políticos, dando de ombros para o tratamento dispensado a presos comuns. Lá está escrito: A persistência da tortura e da violência nos presídios brasileiros — praticadas por autoridades ou pelos próprios presos — se deve ao apreço seletivo de nossos bem-pensantes pelos direitos humanos. A sua raiz, no fim das contas, é ideológica. A ditadura acabou em 1985. De Itamar Franco a esta data, o país está sob o comando de forças políticas ditas “progressistas”. A situação, no período, não fez senão se agravar.
Em suma, já não se trata de um problema da ditadura. É um problema da democracia.”

Não! O cara que condescende com a barbárie não sou eu. Eu sou um cara que a combate, venha de onde vier.
Com a palavra as entidades que congregam advogados.
Com a palavra os grupos defensores dos direitos humanos.
Com a palavra o diretor-geral da Polícia Federal.
Com a palavra o ministro da Justiça.
Com a palavra a procuradora-geral da República.
Com a palavra o juiz Sérgio Moro, que resolveu dividir “o preso e a presa Cabral” com o também juiz Marcelo Bretas.
Com a palavra os ditos movimentos de rua, que se colocaram como animadores de torcida da Lava Jato. Era para isso? É a essa a democracia que têm em mente, com esses valores?

Os responsáveis por aquele espetáculo deprimente têm de ser punidos.
Ah, sim: a PF informa que a corrente nos pés de Cabral segue “protocolo de segurança”. 
Bem, então que se exibam os protocolos. Ainda que existissem, eles não poderia estar, como estariam, acima da lei e da Constituição. 
A propósito: quantos outros passaram pela mesma humilhação? Um ato vergonhoso só poderia ser justificado com palavras também vergonhosas.

Blog do Reinaldo Azevedo