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quinta-feira, 2 de setembro de 2021

O Usain Bolt da ladroagem - Augusto Nunes

Único preso da Lava Jato ainda na cadeia, Sérgio Cabral bateu o recorde de Marcola

  
Lula e Sergio Cabral
Lula e Sergio Cabral -  Foto: Reprodução 
[não resistimos a um comentário:  esse olhar terno, carinhoso, de admiração (para dizer o mínimo) do coxudo Lula (segundo Merval Pereira em "as coxas do Lula") nos leva a expressar nosso entendimento do quanto a cadeia aproxima os criminosos.]
 
A façanha que tornou Sérgio Cabral merecedor de uma sala exclusiva na ala principal de um futuro (e obrigatório) Museu da Bandalheira no Brasil foi ignorada pelas primeiras páginas dos jornais, não viralizou na internet nem foi aplaudida de pé por toda a população carcerária. Em julho passado, o ex-governador do Rio de Janeiro desbancou Marcos Camacho, o Marcola, da liderança do ranking dos bandidos condenados a mais tempo de cadeia. A marca estabelecida pelo chefão do PCC — 330 anos de gaiola — parecia insuperável até a entrada em cena desse Usain Bolt da ladroagem
 
Com inverossímeis 390 anos 60 de vantagem sobre o rival —, Cabral tem tudo para ampliar a distância.  
Há quatro anos numa cela do presídio de Bangu 8, ainda não se sabe tudo o que fez. 
Qualquer que seja o recorde mais espantoso estabelecido pelo gatuno de altíssimo rendimento, é difícil entender por que só ele, entre os mais de 550 fora da lei pilhados pela Operação Lava Jato, permanece preso em regime fechado? 
Por que só a Cabral o Supremo Tribunal Federal tem negado sistematicamente a liberdade concedida a tantos patifes juramentados? [há alguns dias fizemos comparação  entre um patife juramentado - com previsão de mais de 150 anos de cana, por baixo, já que ele é como diz o articulista "capitão da seleção de larápios" (quase um terço da soma das penas aplicadas ao Cabral até agora) e deduzimos que o patife juramentado por ter dado a sorte de sentar na vara errada, logo ganharia a liberdade. 
Já o Cabral deu azar e o sentaram na vara certa, e tudo indica que não será beneficiado nem por aquela norma que impede que um criminoso fique preso por mais de 30 anos.] 

É verdade que uma soma de penas equivalente a três séculos e meio não é para um salafrário qualquer. Mas ninguém vive tanto tempo, e no Brasil nem Jack, o Estripador poderia ultrapassar o limite dos 30 anos de cadeia. Também é certo que a rede criminosa tecida por Cabral envolveu todo o secretariado, a Assembleia Legislativa, a magistratura, o Ministério Público, o Tribunal de Justiça, o Tribunal de Contas, grandes empresários, entidades de classe e agregados em geral, além de 50 vizinhos pra cá e 50 pra lá. Nenhum cofre público livrou-se do saque. Ainda assim, a taça reservada ao maior esquema corrupto do mundo está na sala de troféus de Lula, capitão da seleção de larápios que planejou o Petrolão. 

É possível que o pecado capital do ex-governador tenha sido a inclusão do ministro Dias Toffoli no elenco que apimentaria sua delação premiada. “Quem acusa um juiz do Supremo está ofendendo a instituição”, avisou o presidente da Corte, Luiz Fux, ao apoiar a prisão do deputado Daniel Silveira e do presidente do PTB, Roberto Jefferson. Quando Cabral se dispôs a contar tudo o que sabe, (Como Toffoli ganhou o apelido ‘amigo do amigo de meu pai’) não estava tão claro que, aos olhos dos integrantes do Pretório Excelso, mexer com um é mexer com todos. O próprio Timão da Toga tratou de sepultar o acordo.

Grogue com a sucessão de contragolpes, Cabral vai-se rendendo às evidências de que, mesmo com a Lava Jato algemada pela aliança entre réus, parlamentares com culpa no cartório e juízes cúmplices, o Brasil não voltou a lembrar o imenso viveiro de condenados à perpétua impunidade. Naquele país obsceno, o vigarista que se elegeu governador em 2006 e renovou o mandato em 2010 viveu seus anos dourados, eternizados em vídeos que mostram em ação um astro do bloco Sabe Com Quem Está Falando? Em outubro de 2012, por exemplo, um repórter da TV Globo perguntou-lhe se temia a surpreendente quebra do sigilo bancário da Construtora Delta, pertencente ao amigo e patrocinador Fernando Cavendish. “Imagina! Por que que eu temeria?”, irrita-se o reizinho do Rio. “Por que que eu temeria?”, repete a voz de soprano. “Acho até um desrespeito da sua parte me perguntar isso. Uma coisa é a relação pessoal que eu tenho com empresários ou não empresários, outra coisa é a impessoalidade da decisão administrativa”.

Sérgio Cabral transformara a galeria C do Presídio de Benfica num hotel com grades.

Em outras cenas deprimentes, Cabral debocha do menino negro que se negara a enxergar o Rio Maravilha que o governador exibia ao amigo Lula, assassina o idioma inglês na Sapucaí para apresentar Dilma Rousseff a uma Madonna perplexa, louva num palanque casos de polícia em campanha eleitoral, diverte-se num restaurante em Paris no meio de um bando que celebra a pandemia de propinas com o rosto coberto por guardanapos, capricha no sorriso abobalhado ao ouvir Lula comunicando aos ouvintes que o eleitorado do Rio tinha o dever moral de votar no vigarista a seu lado. A vida em companhia de Adriana Ancelmo, a quem chamava de Riqueza, que chamava o maridão de Meu Anjo, era uma festa permanente. A direção dos ventos mudou com as grandes manifestações de protesto de 2013, o olho do furacão chegou junto com a polícia às 6 da manhã, mas mesmo depois de instalado em Bangu 8 Cabral não enxergou as dimensões do desastre.

Poucas semanas depois do confisco do direito de ir e vir, o Ministério Público fluminense constatou que o prisioneiro Sérgio Cabral transformara a galeria C do Presídio de Benfica num hotel com grades. 
Os colchões esbanjavam conforto, os lençóis eram muito mais brancos. Sobrava em todos os aposentos a água que faltava nas celas comuns. 
As dependências do chefe dispunham de halteres, chaleira, sanduicheira, aquecedores, corda para crossfit e comida de restaurante cinco estrelas. 
O cardápio selecionado por Cabral oferecia três tipos de queijo francês: Babybel, Saint Paulin (embalado em bolinhas e vendido a R$ 279 o quilo) e Chavroux (feito à base de leite de cabra e orçado em R$ 230 a R$ 300 o quilo). O presunto fabricado na região do Porto exibia a grife portuguesa Primor e podia ser encontrado nas melhores lojas do ramo por R$ 225 o quilo. Os potes de castanhas especiais do Pará custavam R$ 120 o quilo. 
O serviço se estendia à cela da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo, presa um andar acima do marido. Agora casada outra vez, Riqueza reivindica na Justiça a posse da casa que dividia com Cabral para ali morar com o novo marido.

A capitulação ocorreu dois anos mais tarde. Em mais uma audiência com o juiz Marcelo Bretas, que tratara com rispidez nos primeiros encontros, o ex-governador muitos quilos mais magro demitiu a arrogância e declarou-se culpado. Com uma atenuante não prevista nos códigos legais: roubara uma imensidão de reais por ser “viciado em poder e dinheiro”. O tiro parece ter saído pela culatra por uma bela, boa e simples razão: se existe mesmo essa espécie de vício, a cura está em longas temporadas na gaiola. Dependente ou não, poucas vezes se viu alguém juntando tantas propinas para enfrentar possíveis crises de abstinência.

Em 2011, histórias sobre a vida principesca do casal já iluminavam a face escura de Sérgio de Oliveira Cabral Santos Filho. Numa noite de segunda-feira, o jornalista Sérgio Cabral, pai do governador, foi entrevistado no programa Roda Viva, então comandado por Marília Gabriela. Participei da conversa. A certa altura, o entrevistado queixou-se de notícias que não melhoravam a imagem de Serginho, contou que frequentemente escondia da mãe os jornais, reiterou a confiança na honradez do herdeiro e afirmou que o considerava o melhor governador que o Rio já tivera. Hoje com 84 anos, o jornalista está perdendo a guerra contra o mal de Alzheimer. Quando alguém se refere a Serginho, diz que o filho morreu.

Continue lendo: Onze homens e nenhum segredo:

Leia também “A suprema sem-vergonhice”

Augusto Nunes - Revista Oeste 

 

domingo, 13 de junho de 2021

Retrato de um Brasil que não existe - Revista Oeste

A revista inglesa The Economist colocou na capa sua denúncia sobre um país mórbido, amaldiçoado e respirando por aparelhos, justo no momento em que surgem as suas melhores notícias há pelo menos cinco anos 

O Brasil realmente não dá sorte com a imprensa internacional. O mundo gira, o tempo passa e nada de melhorar a ideia que os jornalistas de outros países fazem da nossa terra, nossas coisas e nossa gente; dos nossos governos, então, é melhor nem falar nada. 
Antigamente diziam que o sujeito podia ser morto à flecha ou comido por uma onça em plena Avenida Copacabana.  
Hoje dizem que o Brasil está praticamente morto, destruído pelas dez pragas do faraó e, para complicar, é governado por uma espécie de sub-Calígula tropical de direita que com certeza vai arruinar a humanidade se não for detido já, neste instante.

 Mais recente capa da The Economist publicada sobre o Brasil (junho de 2021)
Talvez fosse melhor, pensando bem, ficar com a imagem externa que o Brasil tinha no tempo da onça em Copacabana. Pelo menos, naquela época, o que se dizia era a bobagem fundamental — ou seja, o despropósito em estado puro e simples, sem compromisso nenhum com qualquer fato, que podia incomodar os indignados de sempre e ferir o orgulho de um país caipira e inclinado a julgar-se mais europeu do que era, mas não passava muito disso. 
Hoje, além da coleção de disparates de ontem, é preciso ouvir prodigiosas lições de moral, discursos de correção política e teorias cansativas sobre administração pública. 
Ou seja: estão escrevendo que tem onça, querem explicar por que tem, e ensinam o que nós todos temos de fazer para sair dessa vida. 
Pior: a elite nativa acredita em tudo, fica agitadíssima e diz a si própria que desta vez, positivamente, está tudo acabado para o Brasil.
 
A tragédia do momento é um artigo da revista inglesa The Economist, que, como o New York Times e mais uma ou outra publicação norte-americana, tem o dom de mexer com os complexos de inferioridade mais primitivos do brasileiro que se julga culto, inteligente e civilizado. (Outros veículos estrangeiros podem reduzir o Brasil a farinha de rosca, mas aí quase ninguém liga; país subdesenvolvido é assim mesmo, só leva a sério o que é dito em inglês.) Não é um levantamento de fatos; é um texto de opinião, apresentado como o editorial mais importante da edição. 
Dizem ali, mais uma vez, que o Brasil está jogado numa fossa infernal, sem emitir sinais de vida ou de esperança, e o pior de tudo é que Bolsonaro não é o único culpado por isso; além dele, há também a desgraça do “sistema político”.

“Deu na Economist”, portanto — e isso, como acontece quando “dá” no New York Times, é uma certidão de que, para o mundinho da política, dos jornalistas e dos empresários que têm viés “social”, qualquer coisa que estiver entre a primeira e a última palavra do texto é a verdade em seu estado mais indiscutível.  
E se disserem que o Brasil é um subúrbio de Buenos Aires, onde as pessoas usam sombrero mexicano e fazem a siesta da tarde? 
Continua sendo verdade, dentro da bolha. “Deu na Economist”, e, se “deu” lá, não há mais que discutir. Game over. Não concordou com o que “deram”? Perdeu, playboy.

Vale a pena, depois de tanto tempo, continuar dando confiança para esse tipo de coisa? É uma questão em aberto. The Economist, com a passagem dos anos, vai ficando cada vez mais parecida com um economista — ou seja, lembra cada vez mais um desses madraçais muçulmanos, as escolas onde todo mundo fica repetindo a mesma frase sem parar e, sobretudo, sem pensar. Nas orações dessa espécie ameaçada de extinção, que atualmente tem o seu habitat reduzido às entrevistas da imprensa e às mesas-redondas levadas ao ar depois do horário nobre, o Brasil sempre morre no fim. Na próxima vez ele morre de novo, e assim segue a vida. Mas ele não estava morto? Não interessa. Como escreveu no Twitter o médico Jorge Hallak, um leitor brasileiro, a revista parece estar exibindo sintomas de mal de Alzheimer editorial: esquece mais do que lembra, pelo menos no caso do Brasil, ou vê uma realidade que só é percebida por ela mesma.

Pode ser. The Economist já foi mercadoria que não se imita; hoje, como tantas outras publicações por este mundo afora, é bananeira que não dá mais cacho. Mas a questão, no caso do Brasil jogado na fossa, não é a qualidade relativa da revista ou dos textos que ela publica. É a constatação de que imprensa internacional, hoje em dia, é isso, e o Brasil mostrado lá fora é esse — um Brasil que não existe. Não se trata da imagem que o Brasil tem para o torcedor que está no pub de Londres assistindo a um jogo do Arsenal. Esse aí vai passar toda a sua vida, provavelmente, sem jamais ter lido uma sílaba publicada na Economist — e de qualquer maneira, como a maioria dos demais 8 bilhões de habitantes do planeta, está pouco ligando para o Brasil e para os problemas brasileiros. O relevante, no retrato monstruoso que a mídia internacional apresenta do país, é que pessoas encarregadas de decidir questões práticas acreditam que o Brasil é mesmo assim. Aí fica ruim.

O Brasil que vai votar em 2022 para presidente da República não lê The Economista maioria não lê quase nada nem em português, imagine-se em inglês. 
O novo atestado de óbito que a revista acaba de passar para o Brasil também não muda o preço internacional da soja, nem diminui o volume de água no Aquífero Guarani. 
Não influi na bolsa, nem na cotação do dólar, nem nas vendas do varejo. Mas o que se diz em suas páginas, e nas páginas da imprensa mundial de elite, forma um Brasil imaginário na cabeça do rebanho de burocratas que vive dentro dos governos dos países ricos. 
Esse Brasil é um pesadelo de nível africano, ou coisa pior, e esse rebanho tem indivíduos que resolvem coisas práticas. Por exemplo: passagem de gente pelas fronteiras. O resultado é que o brasileiro, pelo único fato de ser brasileiro, não consegue mais viajar para o exterior como um cidadão normal. 

Esqueça os chiliques das classes jornalísticas nacionais, dos intelectuais e dos banqueiros de investimento de esquerda diante do artigo da Economist; isso desaparece em cinco minutos. O que fica é o prejulgamento, que começa nos reis e vai até o guarda da esquina, contra todos nós. É do Brasil? Então é ruim. É brasileiro? Então não presta. Não se trata apenas de viagens. Trata-se de todo o universo de dificuldades que funcionários de governo, ou quem mais se veja em condição de atrapalhar alguma coisa, pode fazer contra o Brasil nos demais países. Isso não é um “problema de imagem”, que pode ser resolvido, segundo o folclore, contratando uma agência de relações públicas. É uma guerra contra um adversário invisível.

O artigo, em si, não é melhor nem pior do que o mesmo texto básico que a revista embala para os leitores há anos, desde que “a direita” foi para o governo. (“Para o governo”, apenas; nunca se diz que ”a direita” chegou lá porque ganhou uma eleição.) É, essencialmente, uma repetição da novena rezada todos os dias no Jornal Nacional, nos blogs apresentados como “de esquerda” e no circuito OAB-CNBB-etc. 
 
Bolsonaro: "Se tomar vacina e virar jacaré não tenho nada a ver com isso"
 
Houve, neste caso, alguns momentos editorialmente exóticos — como acontece, por exemplo, na passagem em que o texto fica aparentemente indignado com a piada que Jair Bolsonaro fez sobre a vacina e o crocodilo. Não lhe ocorreu informar ao público, a respeito do assunto, que o Brasil já vacinou mais de 70 milhões de pessoas em quatro meses; 
só a China, a Índia e os Estados Unidos fizeram melhor que isso. 
 
Há, também, trechos francamente cômicos, como a extraordinária revelação de que o ministro da Defesa foi demitido porque não quis que o Exército fosse usado para forçar os comerciantes a abrirem as lojas. Heinnnnnnnn? Como assim? De onde foram tirar isso? Nem uma agência caçadora de fake news, dessas mais bravas, teve a coragem sequer de pensar num negócio desses. Mas, no fundo, não há muita novidade além disso; a coisa toda acaba sendo um clássico em matéria de mais do mesmo.
 
 Trata-se de um Brasil de fantasia — e, mesmo que esse Brasil existisse, quando é que isso aqui foi muito melhor?

Os editores não poderiam ter escolhido um momento pior para publicar seu artigo sobre esse Brasil de perdição castigo que em geral pune jornalistas que escrevem sobre isso ou aquilo sem ter o trabalho de olhar em volta de si, e ver um pouco o que está acontecendo fora da redação. (Com o trabalho em home office, então, aí é que o cidadão não sai mesmo dessa bolha dentro da bolha — uma espécie de buraco negro das bolhas.) O fato é que a revista põe na capa sua denúncia sobre um Brasil mórbido, amaldiçoado e respirando por aparelhos, justo no momento em que o país tem as suas melhores notícias há pelo menos cinco anos. 
Junto com a publicação do artigo foram apresentados os últimos cálculos sobre o crescimento da economia brasileira este ano, com a covid ainda rolando solta: 5% de janeiro a janeiro, número que, desde as recessões-monstro de Dilma Rousseff, o cidadão pensava não existir mais na aritmética econômica do Brasil.  Pode ser mais que isso — e não há sinais de que o avanço não se repita em 2022, com o término da vacinação e com a recuperação consistente da economia mundial.
 
(............)
 
O saldo na balança comercial, em maio, foi de 9 bilhões de dólares — pode ficar em 75 bilhões de dólares em 2021, 50% a mais que no ano passado. As vendas do varejo, no mesmo mês, foram as maiores dos últimos 21 anos. A safra de soja vai bater mais um recorde em 2021, com quase 133 milhões de toneladas.  
A entrada de investimentos internacionais no mercado brasileiro voltou a toda — fruto de juros mais altos e com perspectiva de crescer ainda mais para enfrentar os índices de inflação, de novo em alta.
Mais que tudo, é impossível perceber, quando o sujeito sai à rua, onde está esse inferno na Terra descrito pela mídia. Trata-se de um Brasil de fantasia — e, mesmo que esse Brasil existisse, e fosse tão ruim como querem que ele seja, quando é que isso aqui foi muito melhor?  
Tirando a covid e as suas desgraças, alguém está com saudade de alguma outra época? 
Qual?
Nenhum país que já teve na sua Presidência Fernando Collor e Dilma Rousseff pode estar pior do que já foi. 
Quem sabe alguém seja lembrado disso, na próxima denúncia da imprensa mundial contra o Brasil? 
Não vai rolar, é claro. Mas as realidades são o que elas são, e o Brasil, para o bem e para o mal, continuará sendo exatamente o que é — e não o retrato que se faz dele por aí.

Leia também “Perdidos no Brasil”

J. R.Guzzo, colunista - Revista Oeste


quarta-feira, 2 de março de 2016

A agenda abortista - O aborto é um crime e uma agressão.



Está lançada nova campanha de legalização do aborto no Brasil. O pretexto, devidamente anabolizado por forte carga de sentimentalismo, está sendo trabalhado nos espaços da mídia. A descriminalização do aborto em meio à epidemia de zika é a bola da vez. A largada foi dada por uma assessora da Organização das Nações Unidas (ONU).

No Brasil, como sempre, grupos favoráveis ao aborto já começam ensaiar um roteiro bem conhecido: contornar o Congresso e levar a questão do aborto de bebês com microcefalia ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A rejeição ao aborto no Brasil é fantástica. As pesquisas estão aí. E são inequívocas. A legalização do aborto é uma agressão à sociedade. Mas a ideologia não está nem aí com o sentimento da maioria. Democracia só vale se estiver alinhada com o pensamento único de uma militância autoritária.

No tocante ao inegável sofrimento vivido pela gestante, reproduzo um depoimento emblemático. Trata-se da carta de uma mãe que, não obstante a dor provocada pela morte do feto anencéfalo, justificou sua decisão de levar a gravidez até o fim. Estávamos em plena campanha de legalização do aborto de anencéfalos. Sua carta, publicada no jornal O Globo, foi um contundente recado aos governantes.

Fui mãe de uma criança com anencefalia e posso afirmar que durante nove meses de gestação convivi com um ser vivo, que se mexia, que reagia aos estímulos externos como qualquer criança no útero. Afirmo também que não existe dano à integridade moral e psicológica da mãe. O problema é que estamos vivendo numa sociedade hedonista e queremos extirpar tudo o que nos cause o mínimo incômodo.” (..) “Se estamos autorizando a morte dos que não conseguirão fazer história de vida, cedo ou tarde autorizaremos a antecipação do fim da vida dos que não conseguem se lembrar da sua história, como os portadores do mal de Alzheimer”, escreveu  Ana Lúcia dos Santos Alonso Guimarães. Trata-se de uma carta impressionante e premonitória.

Quanto ao chamado “consenso por interesse”, é útil recordar que fruto dele foi a legislação que durante séculos definiu que uma raça ou um povo são legalmente infra-humanos e que, portanto, podem ser espoliados de direitos e tratados como “coisas”, também para benéficas experiências científicas: o caso do apartheid dos negros na África do Sul e dos judeus aviltados e trucidados pela soberania “democrática” nazista. O aborto é um crime e uma agressão.

Fonte: Carlos Alberto Di Franco é jornalista - E-mail: difranco@iics.org.br – O Globo