O governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) deve anunciar na próxima
semana mudanças nas regras que regulam o funcionamento da Comissão da
Anistia, atualmente vinculada ao MMFDH (Ministério da Mulher, Família e
Direitos Humanos), comandado pela ministra Damares Alves.
Entre as
mudanças em estudo estão a limitação da quantidade de recursos aos quais
os solicitantes têm acesso. Hoje, não há limite no número de recursos.
Nas últimas semanas, Damares tem criticado a forma como indenizações
foram concedidas a anistiados políticos e prometeu divulgar os valores
recebidos por todos os anistiados -
dados já divulgados pela imprensa.
O regimento interno da comissão da
anistia é um conjunto de regras que delimita de que forma o órgão vai
funcionar. Sua última atualização aconteceu em janeiro de 2018, durante a
gestão do então ministro da Justiça Torquato Jardim. A comissão de
anistia é o órgão que recebe e analisa os pedidos de indenização e
reparação a vítimas de perseguição política praticada durante o regime
militar. Ela foi criada em 2002 pelo então presidente Fernando Henrique
Cardoso (PSDB).
Desde que a comissão foi criada, o governo
brasileiro recebeu 77,9 mil pedidos de indenização e reparação.
Oficialmente, são aproximadamente 39 mil beneficiados.
A lei que a
criou prevê a concessão de indenizações ou pensões às pessoas que
comprovarem terem sido vítimas de perseguição exclusivamente política
entre os anos de 1946 e 1988, período que engloba os 21 anos da ditadura
militar (1964 a 1985). Desde sua criação, ela ficou vinculada
ao Ministério da Justiça, mas em janeiro deste ano, o presidente Jair
Bolsonaro (PSL) tirou a comissão de lá e a colocou sob o comando de
Damares.
A principal função do órgão é receber, analisar e elaborar
um parecer sobre os pedidos de indenização de pessoas que alegam terem
sido vítimas de violações cometidas por agentes do estado durante o
regime militar. É com base nesse parecer que o ministério pode autorizar
ou não a concessão da reparação. Pessoas que acompanham a
elaboração do novo regimento afirmam que uma primeira versão do texto
ficou pronta na última sexta-feira (8). A ideia é que ela seja analisada
por Damares e sua equipe técnica ainda nesta semana. Entretanto, o
prazo foi ampliado e a estimativa é que o novo regimento seja publicado
no DOU (Diário Oficial da União) na semana que vem, junto da nova
composição da comissão.
REPARAÇÕES SÃO PONTO SENSÍVEL DO GOVERNO
A
comissão da anistia está no centro de um dos pontos mais sensíveis do
governo: a forma com o estado brasileiro lida com os crimes cometidos
por agentes do governo durante a ditadura militar. Na prática, quando
o governo reconhece a condição de anistiado a uma pessoa durante a
ditadura militar, ele admite que o governo comandado por militares usou o
aparato estatal para perseguir e violar direitos de cidadãos
brasileiros. Esse reconhecimento atinge uma ala ainda
significativamente grande nas Forças Armadas que defende a ideia de que o
golpe em 1964 foi uma forma de evitar que o então presidente João
Goulart implantasse uma ditadura comunista no Brasil.
Para essa
ala, as torturas, mortes e a perseguição política conduzida pelo governo
entre 1964 e 1985 ocorreram dentro de um contexto de "guerra" e combate
a grupos terroristas. Bolsonaro, por exemplo, já deu diversas
declarações em apoio ao regime militar. Durante a votação do impeachment
da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, o então deputado federal
elogiou o coronel Alberto Brilhante Ustra, acusado de ter torturado vários militantes contrários à ditadura.
Tida
como uma das ministras mais ideologicamente alinhadas com o presidente
Bolsonaro, Damares também deu declarações nos últimos dias indicando que
o governo quer fazer mudanças em relação à concessão das reparações. À
revista Época, a ministra disse que, na sua opinião, a comissão está
"muito aberta" e que do jeito que ela está, "nunca vai parar a entrada
de processos". Damares disse ainda que era preciso começar a pensar em
"ir fechando a comissão".
Em entrevista à revista Isto É,
Damares disse até que iria estabelecer um "momento" para o fim das
reparações. "Vou estabelecer um momento para o fim das reparações. O
regime militar acabou há 35 anos. Isso vai durar para sempre", disse. Levantamento
feito pelo ministério aponta que o governo já pagou R$ 9,9 bilhões em
indenizações a anistiados políticos. A conta pode aumentar ainda mais
porque há um grupo de ex-militares da FAB (Força Aérea Brasileira) que
alega ter sido perseguidos durante a ditadura e que pedem um total de R$
7,4 bilhões em reparações. Além encomendar um novo regimento,
Damares ordenou que sua equipe técnica compilasse os dados sobre os
pagamentos já autorizados pela comissão para que eles fossem divulgados
de forma oficial.
EX-CONSELHEIRA CRITICA MUDANÇAS
A
ex-conselheira da Comissão da Anistia Ana Maria de Oliveira criticou as
declarações da ministra e a proposta de mudar o regimento do órgão. "Se
ela quer limitar o acesso das pessoas à comissão, ela precisa mudar a
lei que criou a comissão da anistia e não o regimento interno. O
problema é que a lei que criou a comissão não previu uma data de início e
de fim para que as pessoas possam pedir reparação. Para ela fazer isso,
tem que mudar a lei", disse. [tem que haver uma investigação rigorosa sobre todos os pedidos já atendidos e os que apresentarem fraudes, irregularidades, devem ser sumariamente anulados, os beneficiários devem ser obrigados a devolver o que receberam em função de ilegalidade, da fraude e processados criminalmente, devendo também os membros da comissão de anistia que autorizaram concessões irregulares serem responsabilizados criminalmente.
Existe disposição legal determinando que a Administração Pública é obrigada a rever seus atos ilegais, a qualquer momento.]
A ex-conselheira rebateu a crítica
de que a comissão seria aberta demais. "Talvez por desconhecer os
fatos, a ministra parece desconsiderar que, embora a ditadura tenha
acabado em 1985, somente em 2002, 17 anos depois, é que a comissão da
anistia foi criada. Levamos 17 anos para começarmos esse processo",
afirmou.
[Nenhum membro da Comissão de Anistia que autorizou pagamento a quem não tinha direito deve ser dispensado de prestar contas dos seus atos, ser processado e condenado criminalmente.
O membro da 'comissão de anistia' que autorizou pagamento fraudado,ilegal, deve ser dispensado da punição devida, visto ser tão ladrão quanto Lula, Zé Dirceu, Marcola e outros.]
A Verdade Sufocada