Liminar de um juiz sobre Metrô em SP e decisão de Cármen Lúcia expressam surto reacionário do Judiciário contra o país
Esquerdistas
gostam de pensar que a história tem um sentido e uma espécie de razão
profunda. Na teoria perturbada dessa gente, as consciências caminham
para um despertar que nos conduz à justiça social. Vocês podem imaginar
que é difícil todo mundo acordar ao mesmo tempo, certo? Também seria
inviável que aqueles que já receberam a revelação ficassem esperando
outros, ainda embebidos de sono. Então os esquerdistas têm a fórmula: a
vanguarda revolucionária. Quem levantou mais cedo da opressão lidera a
luta. É assim que se veem, por exemplo, um João Pedro Stedile ou um
Guilherme Boulos.
Obviamente,
tenho desprezo intelectual por essa bobajada. A história não tem
sentido nenhum. Vanguardas revolucionárias, quando realmente poderosas e
disruptivas, só provocam destruição e morte. As sociedades avançam por
intermédio de reformas, de mudanças contínuas e paulatinas. E ainda:
também podem passar por momentos de recuo, de retrocesso, de revolta
reacionária. Ainda que pareça o contrário, estamos no meio de um
movimento dessa natureza. Assistimos a correntes ideológicas as mais
díspares, que querem coisas as mais distintas, a endossar procedimentos
que, a rigor, não são úteis nem à esquerda nem à direita ideológicas:
apenas são nefastas para a democracia.
Querem
ver? O juiz Adriano Laroca, 12ª Vara da Fazenda Pública, tentou impedir o
leilão de concessão de duas linhas do Metrô em São Paulo. Ele cismou de
fazer uma conta que juntava num mesmo saco de gatos o investimento em
infraestrutura feito pelo Estado e o valor de concessão da gestão da
linha. Trata-se de um exotismo, de absurdo ímpar. Mas os dias nos dizem
que os juízes não devem se contentar com o papel que lhes reservam a
Constituição e as leis. Há uma sede de protagonismo no Judiciário, que,
então, deveria corrigir por sua conta o que os outros Poderes se
negariam a fazer. No caso do doutor Laroca, a esquerda aplaude. Suas
decisões costumam ser do gosto dos vermelhos, em especial da turma do
PSOL.
Ele já
negou a reintegração de posse do prédio da Reitoria da USP, que havia
sido invadido por meia-dúzia de extremistas de esquerda na base da
marreta e do pé-de-cabra. Argumento: “se é prédio público e está sendo
ocupado pelo público…” Ocorre que o público da USP é constituído, num
primeiro momento, de 100 mil estudantes, 15 mil funcionários e mais de 5
mil professores. Na verdade, o público da universidade são os mais de
40 milhões de paulistas que sustentam a gigante com dinheiro público.
Doutor Laroca reduzia essa multidão a meia-dúzia de militantes que
resolvera, como é mesmo?, fazer história com as próprias mãos.
Na esfera
federal, Cármen Lúcia, presidente do Supremo, resolveu dar um pé
traseiro de outro tribunal superior, o STJ, que havia cassado a liminar
que impedia a posse de Cristiane Brasil no Ministério do Trabalho. Os
motivos alegados para o impedimento não tocavam na questão
Constitucional, e, por esse motivo, ao se apelar à terceira instância, o
governo o fez batendo à porta do Superior Tribunal de Justiça, como é
natural. Mas a tal associação que quer impedir a posse da deputada foi
pedir socorro à presidente do Supremo, que não se fez de rogada. Ela
cassou a decisão do STJ, manteve a liminar a disse esperar mais
elementos. Quais?
Que parte do Inciso I do Artigo 84 da Constituição a senhora Cármen Lúcia não entendeu? Lá está escrito:
“Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
I – nomear e exonerar os Ministros de Estado”
[outro artigo de dificil entendimento, desde o primeiro magistrado a impedir o presidente da República de governar, é o artigo 87, caput, da CF, que dispõe:
"Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores
de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos."
Gostem ou não, a deputada Cristiane Brasil preenche o requisito constitucional.]
Ao
contrário do que andam a supor alguns apressadinhos, esse ativismo
judicial, que busca, em tese, afinar a Justiça com a voz a das ruas e
dos movimentos organizados em defesa da suposta moralidade pública,
corresponde a um recuo na qualidade da democracia. O equilíbrio entre os
Poderes está sendo rompido, e se abre a vereda para a crise
institucional. Com a ajuda da senhora Cármen Lúcia. Lamentável!
Blog do Reinaldo Azevedo
País vive sob o impacto da marcha da
irresponsabilidade. Infelizmente, duas instâncias do Estado concentram
hoje os atos mais atrabiliários, que agridem a ordem democrática:
Ministério Público Federal e Judiciário.