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domingo, 4 de dezembro de 2016

Apoio à Lava Jato

Apoio à Lava Jato

Prefiro sempre não acreditar em teorias conspiratórias, mas a manobra dos deputados na noite de quarta-feira na Câmara, distorcendo o sentido original das medidas contra a corrupção para transformá-las em perseguição a juízes e procuradores do Ministério Público, e a afoiteza com que o senador Renan Calheiros tentou aprovar as medidas, menos de 24 horas depois que elas saíram da Câmara, bem que poderiam ter sido parte de um plano bem engendrado por agentes infiltrados para criar um clima popular contra os parlamentares.

Justamente às vésperas das manifestações marcadas para hoje em todo o país a favor da Operação Lava Jato,
que já incorporavam protestos contra uma tentativa de anistia do Caixa 2, que acabou sendo abortada pela reação da opinião pública, e passaram a ser contra também tal distorção do combate à corrupção. Não poderia haver momento mais apropriado para exacerbar a opinião pública, que já não aceita esse tipo de ação política escamoteada por “emendas da meia-noite”, na boa definição do Juiz Sérgio Moro. [a BEM DA VERDADE: certamente o juiz Sergio Moro, procuradores e profissionais da imprensa tem conhecimento de que é extremamente comum, rotineiro mesmo, que o Congresso Nacional, tanto o Senado quanto a Câmara dos Deputados, realizem votações durante a madrugada.

Um exemplo: a decisão do Senado Federal que sepultou de vez a maldita CPMF foi tomada durante a madrugada.
Este Blog já fez restrições ao deputado Rodrigo Maia, mas, temos que reconhecer em defesa da VERDADE - que  não pode ser adaptada ao maldito politicamente correto - seu acerto ao expedir nota defendendo a votação realizada na madrugada e que tanto incômodo tem causado àqueles que não aceitam que cabe ao Congresso Nacional a tarefa de legislar.]

Ontem, a Operação Lava Jato foi eleita pela Transparência Internacional, a principal ONG de incentivo ao combate à corrupção, como "a maior iniciativa contra a corrupção no mundo", reafirmando o apoio internacional que a operação baseada em Curitiba vem recebendo, como maneira de contrabalançar a tentativa de Lula e seus apoiadores de levar para o plano internacional a ideia de que ele está sendo perseguido politicamente no Brasil.

O comunicado da entidade diz que os procuradores da Lava Jato estão desde 2014 lidando com “um dos maiores escândalos de corrupção do mundo, o caso Petrobras” e “investigaram, processaram e obtiveram penas pesadas contra alguns dos mais poderosos membros da elite política e econômica do Brasil”. O chefe dos procuradores, Deltan Dallagnol, que tem o dom da oratória muito devido ao fato de ser pastor, no seu discurso de agradecimento pelo prêmio denunciou os ataques do Congresso Nacional contra a Lava Jato, fazendo avaliações corretas, e utilizando o tom hiperbólico em outras ocasiões, que faz com que seu discurso perca o peso político para ganhar tons que não combinam com seu cargo, embora sejam próprios de sua convicção religiosa.

 Disse acertadamente Dallagnol que "o pano de fundo desses ataques é a negociação de acordo com uma companhia que pagou algumas das maiores propinas”, referindo-se à delação premiada da empreiteira Odebrecht que foi fechada nesses últimos dias. “Dezenas de políticos foram envolvidos. Quanto mais perto estávamos do acordo, maiores eram as reações do Congresso. Nessa semana, a Câmara dos Deputados cruzou a linha".

Em outra parte de sua fala, foi Dallagnol quem cruzou a linha: "Nessa semana, quando uma tragédia levou o país a um grande luto, homens impiedosos colocaram em curso uma estratégia cruel. Enquanto o Brasil chorava o acidente aéreo que matou diversos jogadores de futebol, enquanto as manchetes estavam cheias de dor, deputados da Câmara trabalharam ao longo da noite para infligir o mais forte ataque que a Lava Jato sofreu ao longo de mais de dois anos de vida".

Não me agrada a ideia de que “homens impiedosos” aproveitaram uma noite de comoção nacional para dar um golpe. O golpe seria dado de qualquer maneira, como já fora tentado em semanas anteriores, e o máximo que se pode dizer é que os deputados não interromperam as votações em sinal de luto pela tragédia com o time da Chapecoense porque tinham pressa em executar o golpe contra a Operação Lava Jato.

Descrever os políticos como “impiedosos” coloca os procuradores em contraposição como os “homens piedosos”, e certamente essa não é a disputa que está se desenrolando no país. O que há é um grupo de policiais, procuradores e juízes combatendo a corrupção, cumprindo suas funções públicas, e as instituições democráticas funcionando, apesar da tentativa de utilizá-las para neutralizar esse combate.

Mas não são todos homens de bem de um lado, nem todos maldosos do outro. Sobretudo, as instituições têm que ser preservadas. Esse sentimento de preservação da democracia tem que estar presente nas manifestações de hoje, para até mesmo servir de contraste às violentas manifestações recentes em Brasília.


Fonte: Merval Pereira - O Globo

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Turquia: proliferação generalizada de estupros infantis, apagão na mídia



Letreiro eletrônico no Aeroporto Ataturk em Istambul exibido no mês passado: "aviso aos passageiros! Você sabia que a Suécia tem o maior índice de estupros do mundo?" O tuíte foi publicado em resposta a um tuíte da Ministra das Relações Exteriores da Suécia Margot Wallström em sua página oficial: "a decisão turca de permitir relações sexuais com crianças menores de 15 anos deve ser revogada. Crianças precisam de mais proteção, não menos, da violência e do abuso sexual."
(imagem: captura de tela da Reuters)

A Turquia mais uma vez ameaçou rasgar um polêmico acordo
que trata dos migrantes e enviar centenas de milhares de candidatos a asilo para a Europa se, em questão de meses, não for concedido aos seus cidadãos isenções de visto para a União Europeia.  O Ministro das Relações Exteriores da Turquia Mevlut Cavusoglu, exigiu que até outubro do corrente ano a UE suspenda a necessidade de visto para os cidadãos turcos.

Enquanto isso, crianças sírias estão sendo estupradas e violentadas dentro e fora dos campos de refugiados na Turquia.

Estupro de um Bebê Sírio de 9 Meses, Imposto Apagão na Mídia
Um bebê sírio de 9 meses foi estuprado no distrito Islahiye de Gaziantep em 19 de agosto. A recém-nascida é filha de uma família síria que fugiu da guerra na Síria de acordo com o jornal Birgun. A família, formada de diaristas agrícolas em Gaziantep, montou uma tenda no campo onde trabalha.

No dia do estupro os pais deixaram o bebê aos cuidados de um homem de 18 anos antes de saírem para o trabalho em um campo que ficava a 100 metros de distância. Ao retornarem, viram o jovem, um cidadão turco que trabalha como pastor, deixando a tenda. A mãe logo percebeu que a recém-nascida tinha sido estuprada e a levou para o hospital local, onde o estupro foi confirmado.

O gabinete do governador de Gaziantep anunciou que o jovem foi preso e conduzido ao tribunal. Huseyin Simsek, o jornalista que cobriu o incidente para o jornal Birgun disse que ele e o jornal receberam inúmeras ameaças de morte nas redes sociais por relatarem o estupro.

Simsek tuítou: "Hoje um bebê de 9 meses foi estuprado em Antep. Há um relatório médico atestando o acontecido. Estou sendo ameaçado e jurado de morte.  "O incidente é real. Os médicos afirmam que a idade do bebê é de 7 a 9 meses. Nós continuaremos a divulgar."
Usuários do Twitter chamaram o repórter de "terrorista do PKK", "terrorista do FETO (gulenista)", "traidor" e "fdp", entre outras coisas. Já outros se referiram ao Birgun como "papel higiênico", incitando a destruição da sede do jornal.  Quando Samil Tayyar, parlamentar de Gaziantep do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) confirmou o estupro no Twitter, um usuário do Twitter respondeu:  "Prezado parlamentar, notícias dessa natureza não deveriam ser divulgadas. Estamos dando munição ao inimigo. Por favor, seja responsável."

sábado, 27 de junho de 2015

Sobre mandiocas, rolas e sertanejos

Façamos justiça. A presidente Dilma tem feito enorme esforço para se tornar mais exótica 

Os brasileiros reclamam quando estrangeiros chamam nosso país de “exótico”. Natural. Há uma tendência de defender o que é nosso do olhar gringo. Só nós podemos meter o pau. Mas, quando colocamos o pé fora do Brasil, percebemos que somos mesmo para lá de exóticos. Longe, conseguimos até rir de nossa República da Mandioca. Melhor mandioca que banana.

Façamos justiça. A presidente Dilma tem feito enorme esforço para se tornar mais exótica. Seus últimos discursos podem tirar emprego de muito humorista. O mais recente, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, é intraduzível em qualquer idioma. “Nós estamos comungando a mandioca com o milho. E, certamente, nós teremos uma série de outros produtos que foram essenciais para o desenvolvimento de toda a civilização humana ao longo dos séculos. Então, aqui, hoje, eu estou saudando a mandioca. Acho uma das maiores conquistas do Brasil.”

Depois da mandioca, foi a vez de saudar a bola e a mulher. “Essa bola vem de longe, da Nova Zelândia. E é uma bola que eu acho que é um exemplo, ela é extremamente leve. Eu já testei e ela quica. Eu testei, eu fiz assim uma embaixadinha, minto, uma meia embaixadinha. (…) Então, o esporte tem essa condição, essa bênção. Ele é um fim em si. (…) Então, para mim essa bola é um símbolo da nossa evolução. Quando nós criamos uma bola dessas, nós nos transformamos em Homo sapiens ou mulheres sapiens.”

Sei que o discurso “indignou” muitos e serviu para que a presidente fosse ridicularizada. Mas eu até simpatizei e morri de rir. Gente, é esse o Brasil, o Brasil da mandioca, das rolas e dos sertanejos, era um discurso para índios em Brasília. O Brasil que se diz laico e vê um bando de marmanjos deputados erguer os braços na Câmara em transes pentecostais.

É exótico ver a Dilma rodando de bicicleta em Brasília, enquanto a crise pega todo mundo, miserável, pobre, rico e a classe média gigantesca, traída e amorfa. Dilma tenta tudo de marketing pessoal, além da dieta milagrosa que a deixou elegante e lépida, para fazer o país esquecer sua aliança com os pastores evangélicos. A banda mais reacionária, conservadora ao extremo, que recebeu dela isenções para igrejas. É o dízimo gordo do Planalto, o cala-veto.

Se Dilma criou, num discurso jocoso, a espécie “mulheres” sapiens, Eduardo Cunha, Silas Malafaia e seguidores tentam criar o “hétero” sapiens como a única espécie saudável e legítima para formar uma família. Isso não é só exótico, é perigoso. A ex-guerrilheira feminista estende o tapete vermelho para o neo-PMDB pentecostal, que não respeita o direito da mulher a seu corpo e ao aborto em qualquer circunstância, e que defende mudanças no Estatuto do Desarmamento para armar a população. [que a mulher tenha direito ao seu próprio corpo é justo, justíssimo; é aceitável que a mulher possa cortar seu próprio dedo, ou mesmo seu pescoço; o inaceitável é que em nome do direito ao seu corpo a mulher possa assassinar um ser humano inocente e indefeso, no condenável aborto.]  No meio da crise, aprova a construção do bilionário ParlaShopping, para abrigar com pompa a Câmara e sua maioria de... como disse o ex-Lula... “picaretas”?

Dilma reza para todos os deuses, mas não cala seu diabinho criador, Lula, o opositor transgênero. Lula afirma que o PT de Dilma acabou com os sonhos e utopias, traiu trabalhadores e aposentados e “só pensa em cargos”. O que é isso, ex-companheiro, além de jogo de cena? Um dia após o outro, para padres ou laicos, Lula aperta a garganta de Dilma, a acusa de ter mentido na campanha e tenta se desvincular dela e do PT para salvar sua pele e o lulismo. Como se ele nada tivesse a ver com o que está aí. Como traduzir para um estrangeiro?

É o exótico patropi, uma casa brasileira com certeza. Onde um dos mais conceituados e mais populares jornalistas multimídia do Brasil, Ricardo Boechat, manda o pastor Malafaia “procurar uma rola”, em vídeo postado em rede social. Boechat chamou o pastor de “paspalhão e otário” e “tomador de grana de fiel”. O pastor tinha acusado Boechat de “idiota” e de “falar asneira” por comentar que igrejas neopentecostais incitam a intolerância religiosa e criam o ambiente para ataques como as pedradas em uma menina de 11 anos, praticante do candomblé. Dá para imaginar a situação, com personagens semelhantes, em outro país? [o Boechat, jornalista em fim de carreira, com uma ponta em um programa de TV e escritor eventual em colunas de jornais, deve estar arrependido de não ter xingado o pastor Malafaia há mais tempo. A repercussão do seu comentário ofensivo - não só ao Malafaia, mas, especialmente aos que assistiam a TV na hora que Boechat fez o xingamento - foi maior do que toda a repercussão de Boechat desde que iniciou no jornalismo.]
A rola provocou uma histeria nas redes sociais, com torcidas pró e contra. Uma histeria só comparável, em temperatura, à que se seguiu à morte trágica, em acidente de carro, do cantor Cristiano Araújo, o “sertanejo universitário” adorado por multidões, mas desconhecido por quem não gosta de música sertaneja. Um rolo compressor de mídia lacrimosa irritou quem nunca havia ouvido Cristiano cantar. Os fãs se irritaram com a “elite” que não curte música sertaneja, como se fosse uma traição à brasilidade. E, para culminar, Fátima Bernardes se confundiu e lamentou ao vivo a morte de “Cristiano Ronaldo”. O Brasil é muito exótico. Xô, ódio. Só o humor nos salva. Amém.


Fonte: Ruth de Aquino - Revista Época


terça-feira, 28 de abril de 2015

Brasileiro e mais sete traficantes condenados à morte são executados na Indonésia. Restam 130 no corredor da morte, o que garante novas e didáticas execuções



Indonésia executa brasileiro condenado por tráfico de drogas, diz jornal
Encontro de familiares precedeu fuzilamento de oito pessoas; filipina foi poupada
O brasileiro Rodrigo Gularte foi executado na tarde desta terça-feira (madrugada na Indonésia), segundo o jornal Jakarta Post. Além dele, outros sete condenados por tráfico de drogas presos no país foram fuzilados. Gularte é o segundo cidadão brasileiro a ser executado no país este ano. Também foi fuzilado Marco Archer, em janeiro, condenado igualmente por tráfico de drogas. 

Dos nove que seriam mortos nesta terça-feira, apenas a filipina Mary Jane Fiesta Veloso foi poupada depois que uma suposta traficante se entregou à polícia e disse que havia recrutado a condenada para transportar a droga. [a filipina aceitou o recrutamento porque quis; o correto seria manter a sentença e executar a filipina e levar a julgamento a suposta traficante, merecedora da mesma pena. Joko Widodo pisou na bola.]

Presa em 2006, a filipina é mãe de dois filhos. A única mulher do grupo afirmou em defesa que foi enganada por uma agência de recrutamento, após chegar à Indonésia para trabalhar como empregada doméstica. Segundo Mary Jane, de 30 anos, um amigo que integrava uma associação criminosa foi quem colocou os 2,6kg de heroína achados no forro de sua bolsa. Segundo o protocolo de execução, é dado aos prisioneiros a opção de ficar de pé, ajoelhar-se ou sentar-se diante do pelotão de fuzilamento. Nas execuções realizadas no país, as mãos e pés dos condenados são amarrados e doze atiradores miram no coração de cada prisioneiro, mas apenas três das armas têm munição de verdade. As autoridades dizem que isso é para que o carrasco não seja identificado.

A prisão de segurança máxima da ilha, situada ao largo da costa de Java, teve reforço na proteção nesta terça-feira. Mais cedo, conselheiros religiosos, médicos e o pelotão de fuzilamento foram alertados para iniciar os preparativos finais para a execução, e uma dúzia de ambulâncias, algumas carregando caixões cobertos de cetim branco, chegaram ao local. Conselheiro espiritual de Rodrigo Gularte, o pastor Romu Carolus foi ao presídio para tentar confortar o brasileiro. 

Nove condenados por tráficos de drogas na Indonésia, incluindo o brasileiro Rodrigo Gularte e a filipina, que teve sua execução suspensa, tiveram encontros de despedida emocionados com suas famílias em uma prisão nesta terça-feira, depois que o governo indonésio já havia rejeitado todos os apelos de clemência de várias partes do mundo.
Pela manhã, a prima de Rodrigo Gularte,  Angelita Muxfeldt disse à TV Globo que ele não sabia que poderia ser executado a qualquer momento. Parentes foram autorizados a falar com os condenados horas antes do fuzilamento. Perguntada sobre como Rodrigo estava, ela respondeu: — Ele está calmo. Está bem tranquilo — disse ela ao "Bom Dia Brasil", da TV Globo, indicando não havia comentado nada sobre a proximidade da execução com Rodrigo: — Não, não (falei sobre o que aconteceria) — repetiu, abalada.

Emocionada também estava a mãe de um australiano que ficou diante de um pelotão de fuzilamento, num grupo do qual fazem também outro australiano e prisioneiros da Nigéria, Filipinas e Indonésia. — Eu não vou vê-lo novamente — disse Raji Sukumaran. — Eles vão levá-lo à meia-noite e matá-lo. Estou pedindo ao governo que não o mate. Por favor, não o mate hoje — disse ela a jornalistas, chorando enquanto falava.

Centenas de pessoas começaram a se reunir em cidades em toda a Austrália para vigílias por Myuran Sukumaran e Andrew Chan, segurando cartazes e pedindo que a Austrália dê uma forte resposta ao país vizinho se a Indonésia levasse adiante as execuções. As penas de morte foram condenadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e abalaram os laços da Indonésia com o Brasil e a Austrália. Em meio a cenas caóticas fora da cadeia, um membro de uma das famílias australianas desmaiou e foi levado pela multidão.  — Eu hoje vivi algo pelo qual nenhuma outra família deveria ter que passar. Nove famílias dentro de uma prisão dizendo adeus a seus entes queridos — disse o irmão de Chan, Michael. — É uma tortura.

Fonte: O Globo

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

American Sniper: lobos e ovelhas



Todos admiram, mesmo que secretamente, pessoas que recusam o cinismo predominante e brindam os seus próximos com uma amostra do que é a virtude em ação.
O novo filme de Clint Eastwood começa com o sermão de um pastor sobre o apóstolo Paulo. O que Paulo ensinava e fazia, explica o ministro, era motivo de escândalo para a maioria dos seus contemporâneos. Mas Paulo tinha dentro de si a convicção de estar fazendo a coisa certa. Chris Kyle está no culto com sua família. Ele ainda é uma criança, mas ouve atento o pastor explicar que somos incapazes de decifrar o padrão de Deus nos eventos que ocorrem na nossa vida. Só podemos considerar real e verdadeiro o que podemos enxergar?

Video: American Sniper - Official Trailer 2 [HD] 

Não se engane pelo cenário da história ou seu contexto histórico. American Sniper não é sobre a Guerra do Iraque – nem contra e nem a favor – ou sobre qualquer aspecto da vida militar. O drama de Clint Eastwood é sobre os dilemas morais enfrentados por homens de convicção em um mundo no qual a defesa de qualquer princípio – por mais óbvio que seja – é vista como uma atitude fundamentalista. A convicção é uma anomalia. O mundo jaz do relativismo.

Se você quiser defender uma visão moral, prepare-se para enfrentar dilemas terríveis. Se você quiser se sacrificar por algo maior, prepare-se para a solidão. Sim, solidão: ao dizer que está disposto a morrer pelo seu país, Kyle ouve da futura esposa: “você é um egocêntrico!”. Chris Kyle é filho de um diácono e de uma professora de escola bíblica dominical. Desde cedo ele aprendeu que a defesa dos princípios básicos de certo e errado o colocaria em conflito com a maioria que há muito abandonou o “preto-no-branco” por mil tons de cinza. 

Ainda menino, Kyle intervém em uma briga para defender seu irmão mais novo de um típico valentão. Ao ver seu irmão apanhando, ele não tem dúvidas: soca o garoto maior até lhe tirar sangue. Ao invés de lhe repreender, o seu pai lhe explica que as pessoas são divididas em três grupos: ovelhas, predadores e cães pastores que protegem as ovelhas “do Mal”. “Algumas pessoas preferem acreditar que o Mal não existe. Mas se algum dia ele aparecer na sua porta, não saberão como se proteger. Essas são as ovelhas. E então existem os predadores. Eu e sua mãe não estamos criando ovelhas ou predadores”, adverte o diácono.

Kyle cresce como um típico jovem dos nossos dias. É um beberrão e mulherengo. Mas ele enxerga o que os outros não enxergam. Em certo dia, o noticiário que para seu irmão é entediante, para Chris Kyle é perturbador. E, como Saulo, ele caí do cavalo. 

Como a luz do dia
As escolhas daquele que se tornaria o atirador de elite mais letal da história militar dos Estados Unidos são pautadas por um antiquado senso de moralidade. Não há espaço para o cinismo ou a meia-verdade no horizonte de Chris Kyle. Ele enxerga o Mal tão claro como a luz do dia. É essa característica singular que irá definir o seu destino para sempre.  Quando poderia se arriscar menos, Kyle desce às profundezas do labirinto infernal de Ramadi para ensinar soldados novatos sobreviverem um dia a mais. Quando sua esposa grávida pede que ele fique em casa, Chris Kyle volta ao Iraque para proteger seus amigos. 

Em pouco tempo a insurgência iraquiana apelida Kyle de “o Diabo de Ramadi”- em referência a uma das cidades em que combateu – e coloca a sua cabeça a prêmio. Ele é temido por sua eficiência em matar. 160 mortes “oficiais”: tudo indica que o número seja maior (255).  O maior mérito de Chris Kyle, contudo, não reside no número de inimigos que ele abateu. Mas na quantidade de garotos que ele salvou com sua mira certeira. O filme faz um sutil e brilhante paralelo entre a visão moral distinta e a pontaria acima da média de Kyle. 

Além do inimigo que espreita em cada janela e porta, o jovem texano é obrigado a enfrentar as dúvidas crescentes e o medo paralisante dos seus colegas de farda. O agnóstico Eastwood fala no filme por meio de um jovem soldado que quase foi padre e é assaltado pela dúvida: Será que eles fazem a coisa certa? E será que vale a pena?  “O Mal existe. Nós já o vimos por aqui”, responde, serenamente, Chris Kyle. Eastwood mostra que o sniper mais admirado e temido da história dos EUA permaneceu até o fim com as convicções simples de um menino dedicado a proteger os inocentes dos bandidos. 

A virtude em ação
Há muitos sub-dramas terríveis contidos nas decisões de Kyle, mas não vou abordá-los para que o leitor assista ao filme e possa se surpreender com cada dilema que surge na história.  Ao contrário do que se poderia imaginar, Eastwood não manifesta aprovação diante da moralidade “preto-no-branco” de Chris Kyle. Diante disso ele é novamente agnóstico. 

Mas o velho mestre americano não deixa de mostrar que são de homens como Kyle que a sociedade precisa nos momentos mais tenebrosos, quando os lobos aparecem e recuamos como ovelhas confusas e apavoradas. Sem visão moral, sem senso de direção.  Hoje em dia os homens estão mais preocupados em ser queridos por todos e não conseguem defender qualquer princípio por mais de 5 minutos. Eles não acreditam mais em certo e errado. São cínicos. Para os quais “honra” e “sacrifício” são como peças de museu. 

São bem poucos os que ainda enxergam o mundo como o apóstolo Paulo e Chris Kyle enxergavam. Mas todos admiram, mesmo que secretamente, pessoas que recusam o cinismo predominante e brindam os seus próximos com uma amostra do que é a virtude em ação. Clint Eastwood faz um elogio desses homens ilustres. Assista American Sniper. 

Por: Thiago Cortês,  escreve no blog Descortês