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domingo, 31 de dezembro de 2023

Intolerância religiosa - A perseguição extrema de cristãos na Nigéria, um grito silenciado por liberdade religiosa

Vozes - Gazeta do Povo

Crônicas de um Estado laico

Decoração de Natal na cidade nigeriana de Ibadan, uma semana antes dos ataques islâmicos contra cristãos no Natal.

Decoração de Natal na cidade nigeriana de Ibadan, uma semana antes dos ataques islâmicos contra cristãos no Natal.| Foto: Samuel Alabi/EFE/EPA

Há uma crença equivocada segundo a qual apenas minorias podem ser alvo de perseguição, uma lógica que desconsidera a perseguição religiosa, especialmente contra cristãos, um povo pacífico por sua própria teologia. Além da perseguição educada que atinge os cristãos, como o cancelamento e a mordaça, tão presentes atualmente no Brasil e denunciadas nesta coluna, ocorrem também lamentáveis episódios de perseguição extrema em diversas partes do mundo, destacando-se o caso da Nigéria.

A perseguição religiosa extrema na Nigéria tem crescido ano após ano, enquanto entidades internacionais permanecem indiferentes e o mainstream faz questão de esconder tudo. 
Com uma população de pouco mais de 200 milhões – semelhante, portanto, à do Brasil – dos quais 100,5 milhões são cristãos, a Nigéria subiu da nona para a sexta posição na lista dos 50 países onde os cristãos enfrentam maior perseguição nos últimos dois anos, de acordo com os dados fornecidos pelo Portas Abertas.
No mais recente capítulo dessa tragédia, ocorrido durante as celebrações natalinas entre os dias 23 e 25 de dezembro, grupos islâmicos atacaram pelo menos 20 aldeias cristãs no estado de Plateau. 
Enquanto o mundo celebrava o nascimento de Jesus Cristo, nossos irmãos nigerianos foram brutalmente massacrados por causa de sua fé. Segundo relatório da ONG nigeriana Intersociety, mais de 40 mil cristãos foram mortos nos últimos anos por causa de sua fé, enquanto 18,5 mil cristãos desapareceram permanentemente. 
Além disso, 17,5 mil igrejas foram atacadas e 2 mil escolas cristãs foram destruídas. 
Nesse contexto, 6 milhões de cristãos foram forçados a fugir do país, e 4 milhões são deslocados internos.


    A perseguição religiosa extrema de islâmicos contra cristãos na Nigéria tem crescido ano após ano, enquanto entidades internacionais permanecem indiferentes e o mainstream faz questão de esconder tudo

Na situação ocorrida neste Natal, os relatos de cristãos residentes na Nigéria revelam que os ataques resultaram na morte de 160 pessoas e deixaram mais de 300 feridos, muitos dos quais foram encaminhados para tratamento em hospitais. 
Entre as vítimas, predominam mulheres, crianças e idosos, grupos vulneráveis que enfrentam maiores dificuldades para escapar desses ataques brutais. 
A organização Portas Abertas aponta que a perseguição extrema enfrentada pelos cristãos na Nigéria está relacionada a uma agenda organizada de islamização forçada, que tem se intensificado ao longo dos anos. Desde a adoção da sharia, em 1999, essa islamização, utilizando meios tanto violentos quanto não violentos, agravou-se, com ataques de grupos militantes islâmicos aumentando desde 2015. 
Boko Haram e ISWAP são alguns dos grupos liderando essas ações violentas, resultando em mortes, danos físicos, sequestros e violência sexual, impactando principalmente os cristãos. 
Nos estados onde a sharia foi implementada, os cristãos enfrentam discriminação e exclusão, enquanto os convertidos enfrentam rejeição familiar e pressões para abandonar o cristianismo, muitas vezes acompanhadas de violência física.
 
O contexto à luz dos direitos humanos universais
Neste contexto, é imperativo recordar os princípios fundamentais da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
A perseguição religiosa, tanto extremada quanto educada, viola diretamente o artigo 18, que proclama o direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião.  
No mesmo artigo, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos garante o direito de ter, manter e mudar de crença, bem como de exercê-la, enquanto o artigo 12 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos traz a mesma garantia.

Em nossa obra Liberdade Religiosa: 
- fundamentos teóricos para proteção e exercício da crença, defendemos que a liberdade religiosa ordena e estrutura o próprio sistema político em que se encontra: 
1. garantindo o pluralismo de ideias emanado de um ecossistema variado de crenças, fundamento de qualquer democracia plural e inclusiva; 
2. é um princípio de organização social e de configuração política, porque contém uma ideia de Estado oriunda da cosmovisão e dos sistemas de valores das confissões religiosas; 
3. potencializa o exercício e o gozo dos direitos civis e políticos. A pessoa religiosa que possui os âmbitos de sua crença e o exercício protegidos exerce os direitos civis e políticos com a tranquilidade de que aquilo que é mais sagrado não será tolhido nem violado pelo Estado; e 
4. é a pedra nodal do sistema de liberdades, visto que, se o ser humano tem negado pelo Estado seu direito mais íntimo de crer e de exercer sua crença, todas as outras liberdades serão prejudicadas, seja diretamente pelo Estado, seja pela aniquilação da autonomia da vontade da pessoa religiosa de exercê-los.

Assim, a defesa da liberdade religiosa é um dos pilares fundamentais para quem pretende proteger a dignidade e os direitos humanos. A liberdade religiosa é a base para a construção de sociedades pluralistas e inclusivas, onde a diversidade de crenças não é apenas tolerada, mas valorizada como um componente enriquecedor do tecido social.

Situações como a vivenciada pelos nigerianos devem ser enfrentadas pelas Nações Unidas e por todas as entidades que atuam com direitos humanos, e devem ser denunciadas pela mídia internacional – aliás, alguém viu alguma matéria de jornalões do eixo Rio-São Paulo sobre os ataques? 
Reportagens sobre a necessidade de um olhar eficaz das Nações Unidas sobre a Faixa de Gaza são constantes, enquanto denúncias em face da política de apartheid contra os cristãos na Nigéria e em outros países dominados pelo Islã, assim como as perseguições que ocorrem em regimes totalitários como Coreia do Norte e China, passam incólumes.

A União Nacional das Igrejas e Pastores Evangélicos e o Instituto Brasileiro de Direito e Religião (IBDR) emitiram importante nota denunciando esse lamentável fato ocorrido na Nigéria, conclamando todos à oração pelos cristãos que vivem em situações de perseguição extremada e “para que a comunidade internacional, bem como o governo brasileiro, tenha uma posição firme contra a perseguição religiosa ocorrida na Nigéria e em qualquer outro país do mundo, adotando medidas eficazes para rechaçar qualquer discriminação e perseguição aos cristãos e pessoas de qualquer religião que querem apenas viver suas vidas em paz, seguindo suas doutrinas religiosas e adorando a Deus”.

Diante dessa realidade, é urgente que a comunidade internacional se una em solidariedade e aja para proteger a liberdade religiosa, promovendo um mundo onde a crença de cada um seja respeitada e celebrada como um elemento vital da riqueza cultural da humanidade. 
Os autores dessa coluna reforçam seu compromisso em denunciar essas atrocidades, clamar por justiça e promover a liberdade religiosa como um direito humano fundamental. 
Que a luz da solidariedade ilumine o caminho daqueles que enfrentam a escuridão da perseguição, e que a esperança prevaleça sobre a intolerância, construindo um futuro em que todos possam viver e adorar livremente, sem temer pela própria fé.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Thiago Rafael Vieira,
colunista  Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 7 de março de 2022

Todo sangue é vermelho - O que diferencia o tratamento dado a ucranianos e o que foi dado aos sírios? [Boa pergunta.]n

Folha de S. Paulo - Ana Cristina Rosa

A guerra da Rússia contra a Ucrânia expôs o eurocentrismo vigenteHá conflitos armados em quase 30 países
Populações na Síria, no Afeganistão, na Nigéria, em Mianmar, no Congo, no Iraque, na Somália, no Paquistão vivem em clima de constante instabilidade, rodeadas pelo medo, pela destruição e pela morte. [com a agravante de que na maior parte dos países citados a fome também impera - Somália, Iêmen, Nigéria, Iêmen, e outros não citados, aos mortos nas guerras  se somam milhares de crianças (adultos também) que morrem vitimadas pela fome.
Chega a ser dificil de entender que um afrodescendente que  teve seu embarque dificultado, na Ucrânia,  pela confusão sempre presente no salve-se quem puder que caracteriza a fuga de refugiados, protestou alegando racismo e mereceu uma pronta resposta de apoio do governo da Nigéria, seu país de origem.  Enquanto os mortos nas guerras daquele país, em seu solo, são ignorados. ]
 
Somália

No Iêmen, onde segundo a ONU está instalada a mais grave crise humanitária do planeta, mais de 10 mil crianças foram mortas ou mutiladas num conflito que se arrasta há sete anos. Ainda assim, nunca se viu tamanha comoção ou mobilização como a causada pela "operação militar especial" na Ucrânia, uma guerra que conta com transmissão simultânea e já levou mais de um milhão de pessoas a cruzar fronteiras.

 Iêmen

Me solidarizo com os ucranianos. A essa altura da civilização, povo algum deveria enfrentar a barbárie da guerra, que jamais será justa sob a ótica humanitária. Porém a humanidade demonstra sua dificuldade de aprender com os próprios erros.

Mas a Europa respondeu ao sofrimento e ao êxodo dos ucranianos de maneira muito distinta ou "com dignidade humana", como definiu o jornal espanhol El País. "A União Europeia tem agora a oportunidade de corrigir os erros cometidos na crise dos refugiados de 2015 (...) uma vez que não foram aplicadas as normas vigentes e não foi possível chegar a acordo sobre um novo sistema comum de asilo", dizia trecho de editorial da semana passada.

Os refugiados da vez não precisam vagar por praças ou ruas de países estrangeiros como ocorreu com os sírios. Felizmente estão sendo acolhidos por Estados vizinhos e seus cidadãos. A questão é por quê?

A mudança de atitude seguramente foi motivada pelo identitarismo entre demandantes e demandados, num evidente contraste com a xenofobia e o racismo verificados antes em casos similares e na decisão de dificultar a ultrapassagem de fronteiras por negros atualmente. Embora nem todos os olhos sejam azuis, todo sangue é vermelho.

Ana Cristina Rosa, colunista - Folha de S.Paulo


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Como a Carta de 1988, a Constituição do atraso, inviabiliza o desenvolvimento do país

Selma Santa Cruz

As distribuidoras de energia têm o direito de suspender o fornecimento do serviço a clientes inadimplentes durante os fins de semana?
 Os bancos do Estado de Santa Catarina devem ser obrigados a implantar sistemas de segurança
 Determinada obra de infraestrutura contestada pelo Ministério Público poderá ser retomada? 
E a delação premiada do corrupto da vez, será ou não homologada? 
O país já se habituou a depender das deliberações da Justiça para resolver praticamente qualquer assunto. Questões mais comezinhas até as que acarretam desdobramentos políticos ou econômicos relevantes, como mostram os exemplos acima, estiveram na pauta do Supremo Tribunal Federal nas últimas semanas. Embora já não cause espanto, em meio a tantos descalabros do nosso ordenamento jurídico institucional, esta é apenas uma das inúmeras consequências perversas da Constituição de 1988, que completa 32 anos neste mês e está na origem de boa parte das mazelas nacionais.

Por seu feitio exageradamente minucioso e dirigista, cujo propósito é regular na prática tudo na vida dos cidadãos, ela terminou por criar um ambiente de insegurança jurídica permanente, engessar a economia e dificultar a governabilidade. Além de ter corrompido a democracia, já que o modelo político esquizofrênico que adotou impede a efetiva participação da sociedade nas decisões sobre o país — contribuindo, ao contrário, para perpetuar no poder uma casta oligárquica de políticos profissionais.

Trata-se, portanto, de um aniversário que não mereceria sequer ser lembrado, considerando-se a quase unanimidade de críticas aos defeitos de nascença da Carta, e sobretudo o preço que o país tem pago por eles em termos de atraso econômico, político e social. A menos que se aproveite a data para retomar o debate sobre a necessidade de um arcabouço jurídico alternativo, a partir do diagnóstico dos malefícios provocados pelo atual. O qual tem sido questionado por uma respeitável lista de juristas e economistas praticamente desde sua criação. “Com quimeras e tolices, a Nova República e sua douta Constituinte meteram o povo brasileiro num trem-bala para Bangladânia”, lamentou à época, referindo-se à pobreza de Bangladesh e ao isolamento da então socialista Albânia, o falecido economista Mário Henrique Simonsen (1935-1997), um dos mais brilhantes de sua geração.

Uma Carta dirigista num momento em que países em desenvolvimento se abriam aos mercados globais

De 1988 para cá, à medida que o tempo escancara a gravidade dos equívocos da Carta, a advertência de Simonsen sobre “o risco de se optar pelo atraso”, e sua previsão de que ela poderia “levar o país ao colapso”, reverberam com cada vez mais força. Apenas dois anos depois, em 1990, o título de uma coletânea de artigos de notáveis, Constituição de 88: o Avanço do Retrocesso, reforçou o consenso sobre o espírito retrógrado da Carta, que já nascera provecta e na contramão da história. Pois optava pelo dirigismo estatizante e uma plataforma nacional-desenvolvimentista justamente num momento em que o mundo caminhava na direção oposta.

Sob a liderança de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, os Estados Unidos e o Reino Unido encerravam o longo domínio das políticas keynesianas do pós-guerra para destravar suas economias por meio de privatizações e desregulamentação. Na Ásia, países como Coreia do Sul e Singapura despontavam como “tigres” do crescimento, ao abraçar o livre mercado e abrir-se à globalização. E até os gigantes comunistas começavam a curvar-se aos benefícios do capitalismo, com a liberalização promovida por Mikhail Gorbachev na União Soviética e por Deng Xiaoping na China.

Já o Brasil, apenas dois anos antes do desmoronamento dos regimes comunistas e da Queda do Muro de Berlim, preferiu retomar a agenda esquerdista e populista da década de 1960, multiplicando encargos e benefícios trabalhistas de país rico, fechando-se ao capital estrangeiro, e chegando ao cúmulo de tentar controlar a taxa de juros por força de lei — essa última excrescência só seria abolida uma década e meia mais tarde, em 2003. O pensamento dominante entre os constituintes, como recordou mais tarde o então ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, guiava-se por uma série de “ismos” já então comprovadamente ineficientes: “socialismo, marxismo, estatismo, intervencionismo, patrimonialismo, assistencialismo, corporativismo e garantismo”.

Em retrospecto, parece difícil acreditar que essa Constituição tenha sido saudada como “Constituição Cidadã”, termo criado pelo presidente da Assembleia Constituinte, o falecido deputado Ulysses Guimarães (1916-1992), no estilo laudatório típico da demagogia da época. “Será luz, ainda que lamparina, na noite dos desgraçados”, exagerou ele, abusando da hipérbole. “Será redentor o caminho que penetrar nos bolsões sujos, escuros e ignorados da miséria.” Tratava-se, como se viu mais tarde, de puro ato de ilusionismo, já que não foi possível abolir a miséria nem promover o desenvolvimento apenas com uma vara de condão legiferante, como sonharam os constituintes.

Uma generosa coleção de direitos sociais e econômicos, como se o papel fosse capaz de torná-la realidade

Uma combinação heterogênea de perfis, que incluía artistas de televisão, banqueiros, sindicalistas e ex-guerrilheiros além de lobistas e políticos profissionais, como não poderia deixar de ser —, os eleitos para redigir a nova Constituição espelhavam o ambiente político exacerbado da época, após o Movimento das Diretas Já e o fim do regime militar. Trabalharam, nesse sentido, mais olhando para o passado, visando a contrapor-se à legislação de exceção do período, do que focalizando o futuro, o que exigiria uma visão estratégica, um projeto novo de país.

Em  clima de happening, preferiram ignorar a referência de Cartas Magnas consagradas, a exemplo da norte-americana, que se limitam basicamente às garantias dos direitos civis fundamentais e princípios gerais, a ser transformados em leis à luz das demandas de cada época. A pretexto de inovar, inscreveram minuciosamente no texto uma generosa coleção de direitos sociais e econômicos, como se a Constituição fosse capaz, por si mesma, de torná-la realidade. Embalados pela utopia de resgatar a histórica dívida social brasileira, contudo, esqueceram-se de levar em conta que seria preciso também prover os meios para a concretização desses direitos. O que pressupõe um ambiente de negócios propício ao crescimento econômico, muito diferente daquele desenhado pela Carta, com a infinidade de entraves à atividade empresarial que se conhece.

Tentou-se, em suma, de forma idealista e nada pragmática, criar um Estado de bem-estar social incompatível com a capacidade do país, como reconhece, entre outros, o constitucionalista Gustavo Binenbojm. “O Brasil precisa compreender que levar direitos a sério significa levar o problema da escassez de recursos a sério, o que impõe uma série de escolhas trágicas envolvidas na sua alocação, sem ceder às tentações populistas e à ilusão fiscal.” O resultado foi um calhamaço com 245 artigos e mais de 400 páginasa terceira mais longa Constituição do mundo, segundo o Comparative Constitutions Project, um estudo comparativo de 180 Cartas, ficando atrás apenas das da Índia e da Nigéria.

Para piorar as coisas, o igualmente extenso capítulo tributário criou um intrincado sistema de transferência de recursos da União para Estados e municípios, que ganharam competência para também arrecadar tributos. Como a descentralização das receitas não foi acompanhada por uma diminuição proporcional dos gastos federais, no entanto, o Executivo lançou mão da criação e majoração de alíquotas de tributos não partilhados — as famigeradas “contribuições”. Em decorrência, os brasileiros passaram a carregar o peso de duas camadas de Estado superpostas, como apontou o economista Eduardo Giannetti de Fonseca em outro artigo de título sugestivo sobre a Constituição: “Retrato do fracasso”, publicado em 2013.

Levando em conta que a Carta também impulsionou a proliferação desenfreada e oportunista de municípios, podemos considerar que se trata na verdade de três camadas superpostas. Desde 1990, mais de mil municípios foram criados, na maioria sem condições de bancar as próprias despesas, mas que foram responsáveis por aumentar, só com suas câmaras de vereadores, em pelo menos 200 mil o número de servidores públicos cujo salário é pago pelo contribuinte. Não surpreende que a carga tributária, que era da ordem de 24% do PIB antes da “Constituição Cidadã”, tenha explodido para os cerca de 35% de hoje. A Constituição transformou o Estado brasileiro em um monstro obeso, opressivo e inoperante.

A Constituição transformou a política no país em um negócio empresarial lucrativo

A disposição dos constituintes para invencionices estendeu-se também, e com consequências igualmente deletérias, ao modelo político adotado, um sistema híbrido que mistura características do presidencialismo norte-americano com as do parlamentarismo da tradição europeia. Criou-se o malfadado presidencialismo de coalizão, que dificulta a governabilidade e favorece negociações nem sempre republicanas entre o Legislativo e o Executivo, na conhecida prática do “é dando que se recebe”. Cujo exemplo mais escandaloso foi a compra de votos praticada pelo Partido dos Trabalhadores durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com pagamento aos parlamentares, em forma de mesada e dinheiro vivo, na boca do caixa bancário — o infame Mensalão.

Em paralelo, a Constituição de 88 beneficiou políticos e partidos com tantos privilégios que acabou por transformar a política no país em um negócio empresarial lucrativo, que raramente tem qualquer relação com os interesses da população ou o bem comum. Do voto proporcional — artifício pelo qual a maioria dos brasileiros geralmente não sabe sequer o nome de quem elegeu — à proibição de candidaturas independentes, passando pelo foro privilegiado e pela consolidação do Fundo Partidário, criado durante o regime militar, tudo tem se somado, ao longo das últimas três décadas, para impedir a efetiva  participação e representatividade da sociedade na política. Haja vista o absoluto descaso do Congresso com as demandas de mudanças expressas a partir das manifestações de 2013.

Por essa ótica, a Constituição que nasceu para consagrar a democracia, e cujo mérito inquestionável foi a garantia dos direitos civis fundamentais, hoje é vista, paradoxalmente, como falha também nesse aspecto. Em vez de uma democracia substantiva, fundada na isonomia de direitos e deveres entre todos os cidadãos, e que extrapola portanto a mera realização periódica de eleições, deu origem a uma democracia de fachada, como afirma o jurista Modesto Carvalhosa. “No Brasil, o Estado é hegemônico, não restando à cidadania nenhum papel em nossa construção civilizatória. A sociedade civil é dominada por um Estado que se estruturou para preencher todos os espaços.”

O constitucionalista norte-americano Bruce Ackerman, um dos mais respeitados do mundo e antigo estudioso da legislação brasileira, vê nesse descompasso uma das principais causas da crescente frustração da população com a democracia. E se alinha aos que defendem a convocação de uma nova Assembleia Constituinte. “Uma vez eleitos, os representantes deveriam reconsiderar as decisões-chave da Assembleia de 1988 já que elas, ao longo das décadas, geraram a atual crise de confiança pública”, justificou em artigo recente. Essa é também a proposta de Carvalhosa, que em novembro lançará um projeto de Constituição completo para promover o debate no livro Uma Nova Constituição para o Brasil: de um Ps de Privilégios para uma Nação de Oportunidades.

Seria essa mudança radical do ordenamento jurídico realmente a melhor solução? É fato que os próprios constituintes reconheceram as deficiências de sua criação, já que propuseram a revisão do texto num prazo de cinco anos — uma providência bizarra, visto que cartas constitucionais se pretendem por natureza duradouras. A revisão, contudo, acabou sendo superficial, devido à crise em que o país estava mergulhado em 1993, em função do impeachment do ex-presidente Fernando Collor.  Em vez disso, optou-se por corrigir alguns dos erros mais flagrantes, sobretudo no capítulo da economia, como as restrições ao capital estrangeiro, e por remendos pontuais por meio de emendas. Propostas de mudanças estruturais, por outro lado, vêm sendo seguidamente adiadas, ou desvirtuadas, já que a Constituição se autoblindou, tornando o processo da aprovação de emendas longo e dificultoso.

No momento, parece não haver condições políticas para uma Constituinte, embora o assunto volte à tona com frequência, já tendo sido defendido também à esquerda, pelos ex-presidentes Dilma Rousseff e Lula. Mais recentemente, o presidente do Senado, David Alcolumbre, chegou a aventar essa possibilidade, quase como uma ameaça. Para alguns, como o consultor político Murillo de Aragão, seria mais recomendável aproveitar as crises para avançar nas reformas. Assim como ele, não falta quem alegue que a durabilidade da Constituição de 88, apesar das inúmeras crises que o país atravessou, comprovaria seu valor e resiliência. Para outros, como se viu, a Constituição é ela própria a origem da sucessão de crises.

Seria temerário tentar prever qual caminho prevalecerá. O que parece indiscutível é que o Brasil real no qual vivemos, com sua pesada carga de atribulações, não se parece nem um pouco com aquele idealizado pela Carta de 88. Este talvez seja o argumento definitivo contra ela. “Uma boa Constituição não é suficiente para proporcionar a felicidade de uma nação” resume o constitucionalista francês Guy Carcassonne. “Já a má Constituição pode levar à sua infelicidade.” Parece ser este o nosso caso.

Selma Santa Cruz, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 3 de julho de 2020

Poderia ser pior - Nas entrelinhas


“O afrouxamento do distanciamento social, por descoordenação entre os entes federados e forte pressão social, mostra o risco da imunização de rebanho”

Em meados de março passado, um estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido — a mesma que desenvolve a vacina que está sendo testada por aqui — previa a ocorrência de 478 mil mortes pelo novo coronavírus no Brasil, o que foi e ainda é considerado um exagero. Chegaram a essa conclusão analisando os casos da Itália e da Coreia do Sul e comparando os perfis demográficos desses países com os do Brasil e da Nigéria.
Correio Braziliense - Nas Entrelinhas - 3/7/2020

[Importante destacar que a falta de coordenação entre os entes federados - que deveria ser exercida por um poder central (no caso excepcional da pandemia pelo Poder Executivo) - só existe devido decisão do Supremo Tribunal Federal - STF, atribuir aos estados e municípios total autonomia na execução da política de controle da pandemia.
Devido a descoordenação citada na matéria está prevalecendo, ainda que contra à vontade dos inimigos do presidente Bolsonaro, por vias oblíquas a imunidade de rebanho defendida pelo presidente, que também defende a hidrocloroquina como preventivo à contaminação pela Covid-19.
Uma vida humana tem valor imensurável, mas a imunidade de rebanho, combinada com a cloroquina, vai apresentar um número menor de mortes do que o previsto pela universidade inglesa - que esperamos seja melhor no desenvolvimento da vacina do que nas previsões.
Com as bençãos de DEUS a previsão dos ingleses é várias vezes superior ao número de mortes que ocorrerão no Brasil, devido à pandemia.
A propósito,um dos coordenadores da política de combate ao covid-19,conforme estabelecido pelo STF, foi o governador do DF. O ilustre governante baixou um decreto estabelecendo o uso de máscaras no DF - sob pena de multa de R$2.000,00 - e ontem, 2, foi flagrado em área pública (próximo a uma UPA) sem máscara. ]

Na mesma época, dois pesquisadores brasileiros montaram um modelo matemático em Python, que previa a ocorrência de 2 milhões de mortes no Brasil, caso o isolamento social não fosse adotado. José Dias do Nascimento Júnior, professor e doutor em astrofísica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e astrônomo associado ao Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, e Wladimir Lyra, doutor da New Mexico State University, compartilharam os dados com o conceituado Centro de Ciências de Sistemas e Engenharia (CSSE, em inglês) da Universidade Johns Hopkins.

Então, os indicadores de contaminação da Itália registravam que um infectado passava o vírus a três ou quatro pessoas, em média, antes de se curar ou morrer pela doença; com isso, o número de casos dobrava a cada quatro dias. Diante das projeções, Lyra concluiu que haveria duas maneiras de finalizar essa epidemia. A primeira é quando muitas pessoas fossem infectadas e desenvolvessem a imunidade ao se curar. Obviamente, nesse caso, o número de mortos poderia ser assustador. A segunda maneira seria quando a taxa de infecção fosse menor do que a taxa de remissão. A quarentena (ou vacina) funciona por diminuir a taxa de infecção. O tratamento aumenta a taxa de remissão. Sem capacidade de tratamento ou vacina, temos apenas a quarentena como medida eficaz.

Na época, no Brasil, cada pessoa infectada estava, em média, infectando seis. Caso nada fosse feito, em dois meses, 53% da população estaria infectada ao mesmo tempo. Isso significaria mais de 100 milhões de casos e 2 milhões de mortos. Esses e outros estudos foram decisivos para a adoção da estratégia de isolamento, com objetivo de achatar a curva da epidemia e permitir que o sistema de saúde se estruturasse para enfrentar a doença.

Caso a estratégia de “imunização de rebanho” tivesse sido adotada, como o presidente Jair Bolsonaro ainda defende, a situação atual seria muito pior, diria o humorista Barão de Itararé, na sua Teoria das duas hipóteses, segundo a qual tudo pode piorar. Apparício Fernando Brinkerhofer Torelly, genial criador do jornal A Manha, sabia das coisas. Ou seja, é falsa ideia de que a quarentena não funcionou, mesmo aos trancos e barrancos. E o afrouxamento da política de distanciamento social, por descoordenação entre os entes federados e forte pressão social sobre governadores e prefeitos, está mostrando o risco que a imunização de rebanho ainda representa.

Tragédia anunciada
Quando os estudos foram divulgados, o Brasil tinha 413 casos confirmados, sendo 291 em São Paulo, e registrava a primeira morte, um homem de 62 anos, na capital paulista. Hoje, estamos próximos de 1,5 milhão de brasileiros infectados, com quase 50 mil novos contaminados e mais de 1.200 mortes por dia. Somente o estado de São Paulo confirmou mais 12.244 casos nas últimas 24 horas e mais 321 óbitos.

Metade das unidades federativas do país já registrou mais de mil mortes pelo novo coronavírus. O Rio de Janeiro tem 116.823 casos e 10.332 mortes. O Pará bateu mais de cinco mil perdas, com 5.004 registros. O Ceará tem 6.284; Pernambuco, 4.968 mortes. Amazonas, 2.862; Maranhão, 2.119; Bahia, 1.947; Espírito Santo, 1.728; Rio Grande do Norte, 1.103; Alagoas, 1.091; Minas Gerais; 1.059; e Paraíba, 1.044. A epidemia, agora, avança nos estados do Centro-Oeste e no Distrito Federal.

Como na economia o estrago é enormea massa salarial perdeu R$ 52 bilhões, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)—, prefeitos e governadores entraram numa espécie de salve-se quem puder. Em muitas cidades, o isolamento social está sendo substituído pela distribuição de um coquetel à base de hidrocloroquina, para a população de baixa renda, que se contamina na volta ao trabalho.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense




terça-feira, 26 de novembro de 2019

Pirataria no petróleo - O Globo

José Casado  

Negócios no submundo do óleo renderam a Taylor um fortuna

Aos 63 anos, o escocês Ian Roper Taylor tenta vencer um câncer na garganta e se manter na mesa de jogos com petróleo, onde aprendeu a viver perigosamente, como um pirata moderno em aventuras com figuras sombrias, como o iraquiano Saddam, o líbio Kadafi e o sérvio Arkan, responsáveis por alguns dos maiores massacres humanos do século XX. 

Negócios no lado oculto do mundo do óleo renderam a Taylor uma das maiores fortunas do Reino Unido, avaliada em US$ 180 bilhões — superior ao PIB de Minas. Sua biografia remete à de Marc Rich, fundador da Glencore (Rich acabou condenado nos EUA a três séculos de prisão, maior que a  pena do ex-governador Sérgio Cabral. Morreu em 2013, na Suíça).
A empresa de Taylor, Vitol, aumentou lucros em cem vezes nos últimos 25 anos, sobretudo na alta das commodities que mudou economias de Brasil, China e Índia e inflou o caixa da Venezuela, do Congo e da Nigéria.
Semana passada, os escritórios suíços da Vitol e das concorrentes Glencore e Trafigura foram invadidos pela polícia. A ordem judicial nasceu em Curitiba, onde se investigam contratos dessas empresas com a Petrobras. 

Parte das transações delas com a Petrobras, entre 2004 e 2014, não teve registro e deu prejuízos à estatal. Foi azeitada com subornos a funcionários, intermediários e políticos de PT, MDB, Progressistas (antigo PP) e do PSDB. As propinas oscilaram de dez centavos até US$ 2 por barril — mostram os processos da Operação Lava-Jato. 

Vitol negociou 14 bilhões de barris, e Taylor sabia de tudo — confessou um dos seus agentes, Carlos Herz. Segundo ele, o fundador da Trafigura Claude Dauphin (morto em 2015) e os executivos Tim Water e Mike Wainwright também pagavam para obter lucros fáceis com a Petrobras.

As investigações avançam em Curitiba, Houston e Genebra. Pela dimensão das empresas envolvidas, é previsível uma reforma nas regras do comércio de commodities. A última resultou na divisão da Glencore, de Marc Rich. Desta vez, quem está no centro é a Vitol de Taylor, benfeitor da Royal Opera House, de Londres, e filantropo de pesquisas contra o câncer.
 
José Casado, colunista - O Globo
 

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

‘Queridos companheiros’



Lula lamentou não poder reencontrar velhos amigos no fim de semana em Adis Abeba, líderes de dinastias cleptocratas que sustentam longevas ditaduras

Horas depois de ser condenado a mais de 12 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, estava pronto para atravessar o Atlântico e participar de uma reunião sobre... a luta contra a corrupção.  A viagem de dez mil quilômetros à Etiópia (14 horas em voo direto) foi abortada pela Justiça na sexta-feira. “Vejam que absurdo” — contou em vídeo na página do PT. “Eu estava com a mala pronta, quando recebi um recado em casa: um juiz bloqueou o meu passaporte.”


Protestou: “Nós vivemos um momento de ditadura de uma parcela do Poder Judiciário, sobretudo o Poder Judiciário que cuida de uma coisa chamada Operação Lava-Jato, que vocês já devem ter ouvido falar aí na África.”  Lula iria à cúpula da União Africana em Adis Abeba, capital de um país onde o “estado de emergência” é decreto recorrente, e a opinião pública não pode ser expressa nem em particular. Queixou-se por não poder estar com “o querido companheiro” Hailemariam Desalegn, primeiro-ministro etíope, cuja polícia matou mil opositores nos últimos 16 meses e recolheu outros 21 mil a “campos de reabilitação” — informa a Human Rights Watch em relatório deste mês.


Organismo comunitário, a União Africana foi erguida nos anos 90 pelo falecido ditador líbio Muammar Kadafi, na época isolado porque patrocinava atentados como o da bomba num avião da Pan Am, que espalhou 270 cadáveres sobre uma vila da Escócia. Kadafi apoiou Lula na campanha de 2002, segundo o ex-ministro Antonio Palocci, preso em Curitiba. Eleito, Lula foi a Trípoli. 

A visita a Kadafi para “negócios” , como definiu, está contada em livro dos repórteres Leonêncio Nossa e Eduardo Scolese. 

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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Vai ter branca de turbante

Vai ter gente se apropriando de todos os símbolos que ajudem o mundo a destruir muros e construir pontes 

#VaiTerNegraDeCabeloAlisado. E branca de cabelo encaracolado permanente

E negra de peruca loura ou cabelo descolorido. E hétero de camisa arco-íris. E homem de saia. E mulher de calça (até 80 anos atrás, não podia). E homem fazendo sobrancelha. E mulher sem se depilar. E gente branca, negra, amarela, cinza se apropriando de todos os símbolos que ajudem o mundo a destruir muros e construir pontes.

A história começou no metrô de São Paulo. A estudante Thauane Cordeiro, branca, de 19 anos, usava um turbante. Eis seu relato: “Cinco meses atrás fui diagnosticada com leucemia. Meu cabelo foi caindo. Eu não queria aceitar. Raspei meu cabelo todo e doei para o Instituto do Câncer. Eu estava me sentindo feia, fui comprar um turbante, uma amiga me disse que eu ia me sentir melhor. A moça da loja foi gentil e me ensinou a fazer uma das amarrações. No metrô, um grupo de jovens estava me olhando torto. Uma chegou para mim e disse: ‘Moça, dá licença? Você não pode usar esse turbante’. Por quê?, perguntei. ‘Porque você é branca.’ E na hora ali me veio aquela raiva. Respirei. Tirei o turbante e disse: ‘Tá vendo isso aqui? Essa careca? É câncer. Então eu uso o que eu quero’”.

O assunto viralizou nas redes sociais. Por baixo dos panos na cabeça, havia o racismo e a “apropriação cultural”, alimentados por ressentimentos históricos e sociais.  Sou branca, mas não branquela. Tem índio entre meus antepassados. Desconfio de sangue árabe ou judeu, por meu nariz e o sobrenome de cristão-novo. Sou brasileira, mas zero nacionalista. Só uso turbante de toalha, no chuveiro. Não fico bem. O turbante, como acessório, valoriza rostos harmônicos. O primeiro turbante que vi foi nas Mil e uma noites e no gênio da lâmpada, Aladim. Depois, nos indianos de Londres. E, mais tarde, nas viagens à África. Que riqueza de tecidos e modelos.

Minha primeira reação à guerra do turbante foi achar  uma besteira maior que proibir a palavra “mulata” e reprimir as marchinhas de Carnaval incorretas. Mas não. Se tantos se sentem ofendidos, é porque o turbante é uma desculpa ou um gatilho.  O turbante é uma desculpa errada e arrogante para discutir racismo. Não é propriedade dos negros. Esconde um dos maiores símbolos da negritude universal: os cabelos black. Quem conhece a África sabe que a expressão “cultura africana” é quase ofensiva a um continente tão diversificado, com 54 países e uma infinidade de tribos, dialetos, regimes e costumes.

Pior é falar em “apropriação cultural” – como se usar adornos, temperos ou roupas de outras etnias e culturas não pudesse ser uma homenagem, vinda da admiração. Como se fosse um crime e devesse ou pudesse ser evitado.  Vi gente aplaudida por dizer que quem pode discutir feminismo é mulher, discriminação de gênero é homo ou trans, racismo é negro ou mestiço. O resto pode ouvir. Parecemos discípulos do Trump and this is a huuuuge mistake. Cada um no seu quadrado, recolha-se a seu lado do muro, porque você não sabe de nada e o mundo é preto e branco. Não se coloque no lugar do outro.

“O turbante habitado por negras é diferente do turbante habitado por brancas”, pontificou a escritora Ana Maria Gonçalves. Entendo o simbolismo – e acho difícil que uma branca fique mais imponente com os turbantes amplos que uma negra. O texto de Ana Maria é emocionado. “Para carregar este turbante sobre nossas cabeças, tivemos de escondê-lo, escamoteá-lo, disfarçá-lo, renegá-lo. Era abrigo, mas também símbolo de fé, de resistência, de união.” Mas e aí? Uma pena que Ana Maria reduza a polêmica à “branquitude que não quer assumir seu racismo”. Pela cor de nossa pele branca, seremos sempre usurpadores, jamais irmãos? Não ouviríamos isso de Martin Luther King, Nelson Mandela, Barack Obama.

Achei esquisito quando Michelle Obama alisou os cabelos, preferia o penteado menos formal, mais autêntico. Mas Michelle faz o que quiser e ninguém tem nada a ver com isso. A menina branca que usa dreads não se apropria de tranças negras. Ela faz o que quiser. Não existe cultura, moda ou arte sem “apropriação”, no sentido de mistura, inspiração e troca. Desde quando a apropriação se tornou inapropriada? Thauane foi vítima de racismo às avessas.

A negra Juliana Luna, estilista de turbante, descendente dos iorubás, disse à GloboNews, de Lagos, na Nigéria: “Quem sou eu para dizer a Thauane que ela não pode usar turbante? A abordagem não deve ser combativa. Isso cria uma rede de ódio desnecessária. Devemos construir diálogos de aproximação, usando a moda. Queria me desculpar em nome das negras por termos chegado a você, Thauane, com tanta insensibilidade. O câncer deve ter te deixado desestruturada. Se você quiser, te dou aula e te mando tecido”.  Touché, Juliana, linda.

Fonte: Ruth de Aquino - Revista Época

 

 

terça-feira, 4 de outubro de 2016

A tragédia das crianças esqueléticas no Iêmen - em grande parte motivada pela covardia da Arábia Saudita que tem o apoio dos Estados Unidos

Milhares de iemenitas passam fome após dois anos de guerra civil

Depois de dois anos de guerra civil, cerca de 1,5 milhão de crianças passam fome no Iêmen. Desde o mês passado, imagens de bebês desnutridos explicitaram a profundidade da crise humanitária e trouxeram a lembrança das fotos feitas na Somália e em Biafra, na Nigéria, no século passado.


Salem Abdullah Musabih, 6, com grau intenso de desnutrição, no Yemen (Abduljabbar Zeyad/Reuters)

Há vários motivos para explicar a crise no Iêmen. Essa nação já era o país árabe mais pobre antes de sucumbir á guerra em março de 2015, quando os hutis expulsaram o presidente Abed Rabbo Mansour Hadi.  Além disso, organizações internacionais que tentam ajudar a população enfrentam obstáculos por vezes intransponíveis. Na semana passada, uma funcionária da Cruz Vermelha foi libertada depois de mais de dez meses sequestrada pelos hutis, nome tribal pelo qual são conhecidos os xiitas iemenitas. Em agosto, um hospital da organização Médicos Sem Fronteiras no norte do país foi bombardeado pela coalizão liderada pela Arábia Saudita, que luta contra os hutis.

O bloqueio naval e aéreo imposto pela Arábia Saudita dificulta a entrada de alimentos. “O fechamento de portos e a destruição da infraestrutura gerou escassez de combustível e aumentou a dificuldade em conseguir alimentos, que estão muito caros”, diz Hailu Eregnaw Teka, coordenador  da Oxfam para o Iêmen.

Outro fator que complicou o acesso a alimentos foi a quebra de confiança do sistema financeiro sobre o pagamento de importações, do qual o Iêmen depende para suprir 90% das necessidades. O alto preço do combustível impede que produtores agrícolas gerem alimentos e trabalho. O desemprego atinge 70% da força de trabalho e uma em cada quatro empresas foram fechadas.

Além de enfrentarem o desemprego e a escassez, o conflito entre hutis, apoiados pelo ex-presidente Ali Abdullah Saleh, deposto em 2011, e a coalizão saudita, os civis convivem com a presença da Al Qaeda para a Península Arábica, tida como uma das facções mais perigosas do grupo que atua na região desde os anos 1990, e com o avanço dos terroristas do Estado Islâmico (EI).

Cerca de 65% dos quase 28 milhões de habitantes são sunitas, enquanto 35% são xiitas. A divisão reflete uma disputa de poder que vai além das fronteiras nacionais. Os sunitas são apoiados pela vizinha Arábia Saudita, aliada aos Estados Unidos e outras potências ocidentais, enquanto xiitas são financiados pelo Irã.  “O Iêmen se tornou campo de batalha pela supremacia no Oriente Médio. A dificuldade americana em criticar os bombardeios sauditas contribui para o prolongamento da crise”, diz o cientista político Jamsheed Choksy, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos.

Mais de 6,5 milhões de pessoas morreram, vítimas de bombardeios, balas de franco-atiradores ou no fogo cruzado. Cerca de três milhões de iemenitas foram internamente deslocados pelos conflitos.  Ao contrário da Síria, a localização geográfica do Iêmen dificulta que a população busque um local seguro fora das fronteiras. O país faz fronteira apenas com a Arábia Saudita e Omã e fica distante da Europa.  “É difícil exagerar no desespero que está lá. A situação humanitária vai reverberar por décadas. É importante que qualquer que seja a autoridade legítima garanta que os direitos humanos sejam respeitados para que possamos impedir que a situação piore”, diz a pesquisadora da Human Rights Watch Kristine Beckerle, que esteve no país em agosto.

Leia também:
Iêmen: O desastre humanitário que o mundo não quer ver


Fonte: Revista VEJA

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Terror islâmico, 15 anos após o 11 de Setembro

Ao se completar 15 anos dos audaciosos ataques terroristas perpetrados pela rede Al-Qaeda em 11 de setembro de 2001, nas cidades de Washington e New York, há elementos de juízo suficiente para avaliar a dinâmica do terrorismo islâmico contra os “infiéis” ocidentais e os “apóstatas” muçulmanos.

Durante este agitado lapso, não só a rede Al-Qaeda se fortaleceu, senão que surgiu de seu seio o auto-denominado Estado Islâmico (ISIS), muito mais radical e violento do que seu gestor. Hoje, este novo grupo constitui uma séria ameaça contra a liberdade humana, e por suas conotações geopolíticas e estratégicas poderia ser a chispa que inicie uma conflagração maior no sempre convulsionado Oriente Médio.

Desde o ângulo geopolítico internacional, o recrudescimento do terrorismo islâmico coincidiu com o re-assentamento político internacional da Rússia depois da desintegração da antiga União Soviética, o desdobramento econômico e militar da China, a imersão de vários países latino-americanos no socialismo pró-castrista pela mão do venezuelano Hugo Chávez, a Primavera Árabe que estremeceu a estrutura montada com governos inclinados ao ocidente, o desenvolvimento da capacidade nuclear na Coréia do Norte, 16 anos contínuos de desacertados governos nos Estados Unidos, altos e baixos da União Européia, mais atraso no continente africano e extensão das ramificações do jihadismo na Nigéria, Somália, Iêmen, Tanzânia, Quênia, Afeganistão, Paquistão e outros lugares.

As guerras no Iraque e Afeganistão encabeçadas pelos Estados Unidos para derrotar o terrorismo islâmico e a suposta existência de armas de destruição massiva no Iraque, se empantanaram em um empate estratégico de soma zero, no qual os terroristas saíram folgadamente favorecidos, que com armas de infantaria ligeira e os letais homens-bomba, ou o estalido de trampas explosivas se multiplicaram em células jihadistas e multiplicaram o recrutamento de adeptos nos cinco continentes.

No âmbito militar ficou para decantar em doutrina de guerra contra-terrorista a execução de exitosas operações aero-terrestres como a que conduziu Osama Bin Laden à morte, ou a impactante eficiência dos drones guiados por experts em inteligência eletrônica e equipes de especialistas em inteligência tática. É uma guerra de nova geração que pelas condições do problema se estenderá por várias décadas nos quatro pontos cardeais do globo terrestre.

A derrota da riqueza financeira e econômica deixada por Reagan, que começou a ser mal-gasta por Bill Clinton, encontrou em George Bush e Barack Obama dois mandatários inferiores ao desafio de manter os Estados Unidos no topo de seu outrora vertiginoso crescimento econômico.   Por razões politiqueiras, democratas e republicanos se trasladam as culpas dessa debacle sem ir ao fundo do assunto. Por isso, com um discurso agressivo Donald Trump capta adeptos frente a uma candidata que o questiona pelas saídas em falso do magnata, porém, para desgraça dos Estados Unidos e de tantos países interdependentes da grande potência, tampouco é a pessoa adequada para chegar à Casa Branca. A crise de liderança mundial também é evidente nos Estados Unidos.

De quebra, o crescimento geométrico e matemático do terrorismo internacional distribuído pelo mundo mas com epicentro no Oriente Médio, exacerbou a guerra fria entre Arábia Saudita (sunita) e Irã (shiita), a qual se materializou no envio de tropas e recursos de toda ordem para oxigenar as guerras civis na Síria e no Iêmen, o duvidoso acordo de suspensão do projeto nuclear iraniano, o incremento das relações clandestinas da Arábia Saudita com o Paquistão para islamizar a Ásia Meridional e parte da Ásia Central, com o gravíssimo risco da possessão de armas nucleares no Paquistão e Índia, cujos governantes promovem um ódio irreconciliável mútuo.

Por sua parte a Rússia, com óbvios interesses geopolíticos não só nessa região senão no mundo, aproveitou a circunstancial guerra contra a ditadura de Bashar Al Assad na Síria, para entrar no conflito e com o ímã de seu poderio militar atraiu a Turquia que pretende matar dois coelhos com uma cajadada só, tirar vantagens da guerra síria, consolidar-se como o líder muçulmano do Oriente Médio, ser potência e catalizador frente ao Ocidente e eliminar a sangue e fogo os independentistas curdos. 

O problema se agrava para a Turquia e para o resto do mundo, devido à mentalidade ditatorial de seu presidente Erdogan, o descontentamento de um amplo setor militar turco com seu governo, a presença do ISIS em seu território, a pressão dos Estados Unidos e Europa para que combata com maior eficiência toda a infra-estrutura terrorista, e a necessidade de manter boas relações com Israel.

Em síntese, à previsível e marejada dinâmica de mudanças geopolíticas deduzíveis e esperadas depois da queda do muro de Berlim, se acrescentou com força irresistível o incremento do terrorismo islâmico no mundo que, como já se disse, poderia ser a chispa que desate uma conflagração maior em um mundo no qual não há líderes com estatura similar à de Churchill, Roosevelt ou De Gaulle, porém há sim condições muito mais tensas que as que originaram a Segunda Guerra Mundial.

Essa é a mais clara herança que os ataques terroristas do 11 de setembro de 2001 deixaram nos Estados Unidos, ao coincidir com as mudanças permanentes da ordem mundial.


TraduçãoGraça Salgueiro
 

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Perseguição islâmica: cristãos "inúteis" tratados como animais



Ataques de Muçulmanos contra Igrejas Cristãs




Sua Santidade Mor Ignatius Aphrem II, Patriarca Sírio-ortodoxo de Antioquia e de Todo o Oriente (esquerda) solicitou ao governo da Suécia que garanta a segurança dos refugiados cristãos na Suécia, encaminhando-os para outros alojamentos longe dos abrigos onde são perseguidos pelos muçulmanos. Anders Danielsson (direita), diretor geral do Conselho Sueco de Migração, ressaltou que habitações separadas para cristãos e demais grupos vulneráveis "irão contra os princípios e valores centrais da sociedade sueca e da nossa democracia."

Estados Unidos: um grupo pró-ISIS chamado Califado Cibernético Unido "hackeou" o website da Igreja Reformista Cristã em Lamont, Michigan. Uma menina de 15 anos descobriu o vandalismo que consistia na inclusão de um vídeo de propaganda do ISIS e um texto em árabe. O recrutador apresentado no vídeo diz: "nós iremos conquistar a sua Roma, quebrar suas cruzes e escravizar suas mulheres, com a permissão de Alá, o Louvado. Esta é a Sua promessa, Ele é glorificado e não deixará de cumprir a Sua promessa."

Etiópia: muçulmanos deste país de maioria cristã se envolveram em tumultos na zona leste de Shewa com o objetivo de atacar cristãos acusados de converterem muçulmanos ao cristianismo. Eles incendiaram, reduzindo a cinzas, 14 igrejas de diferentes denominações deixando mais de 2.000 cristãos sem terem onde rezar. O cemitério de uma igreja também foi vandalizado. O líder da igreja assinalou: "estamos rezando do lado de fora da igreja, sentados no chão, suportando o sol escaldante. Apelamos aos nossos irmãos, onde quer que estejam, que venham em nosso auxílio. Os agressores derramaram gasolina cantando 'Allahu Akbar' (Deus é Grande) antes de incendiarem a igreja."

Uganda: em 12 de abril, por volta da meia-noite, vândalos muçulmanos demoliram uma igreja cristã. Era possível ouvi-los cantarolando: "não dá para convivermos com vizinhos infiéis. Temos que lutar pela causa de Alá." Foram destruídos instrumentos musicais, mais de 500 cadeiras de plástico e outros bens. Dois dias antes um grupo de muçulmanos gritava: "somente Alá deve ser adorado e Maomé é o seu profeta", eles abateram os porcos de um líder da igreja, uma de suas mais importantes fontes de renda. Ele já havia recebido uma mensagem de texto dizendo: "que os membros da sua igreja saibam que porcos são extremamente profanos e abomináveis perante Alá, extremamente afrontoso e vergonhoso. Eles são haram (proibidos) e ilegais conforme proibição do nosso sagrado Alcorão." Um membro da igreja também recebeu uma mensagem que dizia: "em breve caçaremos as cabeças dos seus porcos." Ele logo descobriu que oito dos seus porcos tinham sido mortos.


Iraque: o Estado Islâmico explodiu a icônica igreja católica da Santa Maria em Mossul, conhecida como a "Igreja do Relógio". De acordo com a Agência Internacional de Notícias Assíria, "militantes isolaram as áreas ao redor da igreja e saquearam o prédio a procura de objetos de valor e antiguidades antes de destruí-la com explosivos... A Igreja do Relógio... já foi alvo de ataques do ISIS no ano passado, quando a sua cruz foi retirada." Houve uma época em que Mossul contava com cerca de 45 igrejas, a maioria delas foi destruída ou convertida em tribunais ou prisões, isso desde a conquista de Mossul pelo Estado Islâmico em junho de 2014.

Indonésia: um grupo islamista vandalizou uma igreja recém-inaugurada em Bekasi e exigiu que o prefeito local cancelasse o alvará de funcionamento. A Igreja Santa Clara obteve o alvará de funcionamento em julho de 2015 sendo inaugurada em 7 de março do ano corrente. O Foro da Comunidade Islâmica e outros líderes muçulmanos acusaram os líderes da igreja de adquirirem o alvará de funcionamento por meio de fraudes. O prefeito de Bekasi negou a acusação e se recusou a anular o alvará da igreja. Ele realçou que a igreja tinha cumprido todos os requisitos legais necessários para a construção. "Mesmo assim", explicou a Comissão Asiática de Direitos Humanos, "as agências encarregadas de assegurar o cumprimento da lei não conseguiram proteger os fiéis da Igreja Santa Clara; na realidade, ao que tudo indica, as agências não têm disposição ou vontade política para fazer valer a lei contra os justiceiros. Como resultado, a congregação da igreja vive pressionada e intimidada". O grupo de direitos humanos pediu mais uma vez à polícia local que "se posicione firmemente" contra o Foro da Comunidade Islâmica e "se certifique de que o governo garanta a proteção à Congregação Santa Clara para que ela possa praticar sua religião."

Argélia: "as igrejas na Argélia estão enfrentando intimidação e assédio, apesar das disposições constitucionais que garantem a liberdade religiosa no país," assinalou o World Watch Monitor em 29 de abril. Naquela mesma semana, as autoridades alegaram que uma igreja na região da Kabylie foi intimada a cessar todas as atividades religiosas, com base na alegação de que estava infringindo uma lei de 2006 que regulava o culto não muçulmano. As autoridades ameaçaram instaurar ações judiciais contra a igreja se o culto cristão continuasse. No último mês de fevereiro as autoridades também notificaram a igreja na cidade de Aït Djima, também em Kabylie, com base na mesma lei. Os críticos dizem que a lei de 2006, que visa regulamentar todos os cultos religiosos exceto o culto islâmico, é usada como instrumento de perseguição pelas autoridades. De acordo com o Reverendo Haddad, pastor de uma igreja protestante na cidade de Argel: "trata-se de uma lei injusta contra os cristãos, a quem foi negado o direito ao culto e a oportunidade de compartilhar o Evangelho livremente... a situação dos cristãos na Argélia não vai melhorar até que a lei totalitária, que já não se justifica mais, seja revogada."

Turquia: Seis igrejas foram confiscadas pelo governo no mês de abril em curso. Após dez meses de conflito na região sudeste da nação o governo desapropriou áreas enormes em Diyarbakir, a maior região da cidade. "Mas para o desespero das poucas congregações cristãs da cidade," observa o World Watch Monitor: "a medida inclui todas as igrejas ortodoxas, católicas e protestantes. Diferentemente das mesquitas financiadas pelo estado, as milenares igrejas da Turquia – algumas das quais pré-datam o Islã – foram geridas, historicamente, pelas fundações da igreja. A nova deliberação efetivamente torna as igrejas de Diyarbakir – uma delas com 1.700 anos, outra construída em 2003 – propriedade do estado da Turquia, um país islâmico com 75 milhões de habitantes." Poucas casas de culto cristãs permanecem de pé na região sudeste da Turquia. Embora seja a terra natal ancestral dos sírios e armênios, mais de 1 milhão destes cristãos étnicos foram massacrados e enviados às marchas da morte durante os últimos anos do Império Otomano no início do século XX.

Territórios Palestinos: na Cidade de Gaza, autoridades demoliram uma igreja cristã de 1.800 anos, recentemente descoberta, juntamente com seus valiosos objetos, apesar das tentativas de cristãos palestinos de salvá-los. Protestos não chamaram a atenção da comunidade internacional, nem das agências das Nações Unidas como a UNESCO, cuja missão é proteger o patrimônio cultural e natural da humanidade. A milenar igreja foi encontrada em uma área onde o Hamas planeja construir um shopping center. Segundo o relatório:
"A extraordinária descoberta das antiguidades parece não ter impressionado os trabalhadores da construção que removeram os artefatos e continuaram normalmente com o seu trabalho. Escavadeiras foram usadas para destruir alguns dos artefatos da igreja -- a devastação provocou duras críticas dos cristãos palestinos, alguns dos quais se apressaram em acusar tanto o Hamas quanto a Autoridade Palestina (AP) de fazerem uso das mesmas táticas do ISIS ao demolirem os patrimônios históricos. Visto pela ótica dos cristãos palestinos, a destruição das ruínas da igreja é mais uma tentativa dos líderes muçulmanos palestinos de eliminar tanto a história cristã quanto qualquer vestígio da sua presença nos territórios palestinos."

Massacres Muçulmanos de Cristãos
Nigéria: pastores muçulmanos Fulani massacraram cerca de 40 pessoas em uma aldeia de maioria cristã e incendiaram a Sagrada Igreja Internacional de Cristo reduzindo-a a cinzas. Dez casas foram arrasadas por incêndios criminosos, carros e motos foram destruídos e animais foram mortos a esmo. Do leito do hospital um sobrevivente ressaltou: "eu estava saindo de casa quando ouvi o sino da comunidade badalar. Eu estava indo com um amigo para ver porque o sino estava badalando, quando vi 40 pastores Fulani armados com facões e armas sofisticadas. Eles foram atrás de nós, mataram meu amigo e atiraram em mim várias vezes mas não conseguiram me atingir. Eles me atacaram com facões até eu desmaiar."