É
óbvio, e portanto não há nenhuma necessidade de se ficar insistindo no
assunto, que ninguém pode atirar na polícia – a não ser naturalmente os
piores criminosos do Rio de Janeiro, por exemplo, que no entendimento
das nossas altas cortes de justiça agem em “legítima defesa” quando
abrem fogo contra policiais.
Mas qualquer outro cidadão brasileiro, que
não desfrute da proteção legal e política do crime organizado, está
proibido de fazer o que fez o ex-deputado Roberto Jefferson, que recebeu
à bala, na casa onde cumpre prisão domiciliar, uma equipe que veio lhe
apresentar uma ordem de prisão do STF.
Isso é voltar à lei da selva – só
que o STF, mais o ministro Alexandre Moraes, têm responsabilidade
direta na construção desse desastre. Eles são dados como vítimas, e dão a
si próprios o papel de agredidos. Mas também eles são agressores, ao
violar de forma cada vez mais grosseira as leis do país para perseguir
inimigos e impor suas posições políticas a 215 milhões de brasileiros.
Acaba dando em tiroteio.
A prisão de Robert
Jefferson, em regime fechado ou domiciliar, é escandalosamente ilegal.
Certo: por suas posições radicais e sua conduta verbalmente violenta,
ele é um homem detestado pela esquerda, pelos “moderados-equilibrados” e
pelas classes que se consideram capazes de pensar por todos.
Mas isso
não pode significar, absolutamente, que o ministro Moraes ou o STF
estejam autorizados a suprimir seus direitos legais e constitucionais.
Jefferson é um cidadão brasileiro como outro qualquer; tem de estar,
como todos, sob a proteção das leis em vigor no país. [é indiscutível que o STF não pode mandar prender Roberto Jefferson ou qualquer cidadão que agrida seus ministros - o Poder Judiciário, no tão decantado 'estado democrático de direito' e em qualquer democracia do mundo só age quando provocado;
além do mais Roberto Jefferson, por decisão do próprio STF não pode ser preso nem julgado pelo STF. Roberto Jefferson.
Todos sabem disso, incluindo o ministro Moraes.
Mas é aquele negócio ele manda prender e quem recebe a ordem não ousa desobedecê-lo; e as prisões ilegais vão ocorrendo;
Dois exemplos: um deles é que a maior parte dos prazos ordenados pelo STF é descumprido por Bolsonaro e outras autoridades e fica tudo por isso mesmo.
Mas não está – há
mais de um ano o ministro desrespeita de maneira flagrante e abusiva
toda a legislação nacional para punir o ex-deputado. Diz, para
justificar essa aberração, que é preciso defender a “democracia”
Ninguém
pode ser preso por ofender um ministro do STF, ou qualquer outra pessoa
– é contra a lei, simplesmente isso.
Jefferson fez insultos aos
ministros no ano passado, e voltou a fazer agora.
Mas só pode ser
culpado por isso, e receber a punição legal, se for julgado e condenado
pela justiça. Mais: os crimes que ele pode ter cometido, se assim for
decidido pela mesma justiça, são os de injúria e de difamação, para os
quais o Código Penal Brasileiro estabelece penas de detenção que vão de
um mês a um ano, mais multa – detenção, a ser cumprida em liberdade, e
nunca prisão fechada.
Jefferson está preso desde setembro ano passado
(em prisão domiciliar com tornozeleira, desde fevereiro, e agora de
volta à prisão fechada), sem culpa formada, sem sentença de condenação e
sem data para o julgamento. Ou seja: ele já ficou na cadeia, sem ter
sido condenado por qualquer crime, mais tempo do que ficaria se tivesse
recebido a pena máxima prevista na lei – uma pena de detenção, ainda por
cima. Onde está a legalidade disso?
Jefferson fez insultos aos ministros no ano passado, e voltou a fazer
agora. Mas só pode ser culpado por isso, e receber a punição legal, se
for julgado e condenado pela justiça
Alexandre
Moraes e o STF criaram uma monstruosidade – um Brasil sem lei, onde
eles prendem, censuram, multam, “desmonetizam”, proíbem os cidadãos de
falar e interferem com brutalidade crescente na campanha para favorecer o
seu candidato, o ex-presidente Lula. Como acaba de dizer o Wall Street Journal
americano, um dos mais respeitados órgãos de imprensa do mundo: “Se a
democracia do Brasil está em risco, isso não é, como alegam as classes
que vivem falando, por causa de Bolsonaro”.
J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES