Alexandre Garcia
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acaba de se
manifestar sobre as dúvidas e sugestões dos militares, que visavam a
mais segurança, transparência e confiança no processo de apuração.
Especializados em guerra cibernética — sabem que não há segurança
absoluta no mundo digital —, militares convidados pelo TSE para integrar
uma comissão de transparência das eleições não permaneceram como
espectadores passivos apenas para servir de avalistas do processo, mas
fizeram muitas perguntas e sugeriram muitas ações que podem afastar as
desconfianças de eleitores de quaisquer dos candidatos.
O TSE permanecera em silêncio sobre as sugestões, e até
recusou pedido de um deputado para torná-las públicas. Semana passada, o
ministro da Defesa sugeriu que tudo fosse divulgado. Apuração é um ato
da administração pública e, como tal, precisa ter a publicidade exigida
pelo artigo 37 da Constituição.
Nas respostas, o TSE burocraticamente negou tudo o que
fora proposto. Coisas simples foram negadas com teimosia adolescente.
Certamente frustrou os militares, que aceitaram o convite do Tribunal
como uma oportunidade de ajudar.
O calor do ano eleitoral afeta os espíritos e as
emoções exacerbam as posições a respeito. De um lado, o presidente da
República a advogar transparência no processo, citando os precedentes da
eleição Dilma Rousseff x Aécio Neves, e do passeio do jovem hacker
português no sistema do TSE. Do outro lado, ministros do TSE, como
Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, a não aceitar
modificações num sistema que defendem como seguro.
As respostas de agora negando ações simples que dariam
mais confiança a eleitores e candidatos, refletem um jogo de
cabo-de-guerra. Entre os milhões de eleitores, formam-se torcidas de um
lado e de outro, muitas vezes estimulando posições cada vez mais
radicais. E os militares, de instituições permanentes de estado, estão
no meio dessa corda, querendo e podendo ajudar.
As duas partes aparentemente antagônicas têm o mesmo
senhor: o povo brasileiro. É possível que os personagens da contenda
tenham em mente que estão servindo ao povo, e sabem que eleição é uma
das ações mais sagradas do processo democrático. Para que não pairem
dúvidas, como as que subsistem desde que o PSDB não conseguiu auditar os
resultados de 2014, cada eleitor precisa entender como seu voto é
contado e computado.
Por isso, foi sugerido um teste aleatório num maior
número de urnas, inclusive as do modelo mais recente; que os TREs apurem
nos estados, para não centralizar tudo num só lugar; e que o
Legislativo fiscalize, que haja medidas para o caso de irregularidades e
que se tenha o número de abstenções e brancos por seção. Nada disso foi
aceito.
Questões pessoais, antipatias, não podem ser
consideradas nessa disputa, mesmo porque a Constituição exige que haja
impessoalidade. Tensões precisam ser esfriadas para que, racionalmente,
se perceba que segurança e transparência interessam a todos que não
estejam mal-intencionados.
Não parece que as respostas do TSE tenham vindo para
aliviar as tensões. As sugestões dos militares que, embora sob o comando
supremo do presidente da República foram convidados pela própria
Justiça Eleitoral a participar da Comissão de Transparência, aparecem
como uma oportunidade de solução para uma corda esticada.
O que pode distensionar a corda e dar aos brasileiros um fiador de alta credibilidade popular aos resultados das urnas.
Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense