Investigado desde o final do ano passado no caso Adélio Bispo, que apura as circunstâncias da facada que o presidente
Jair Bolsonaro
levou durante a campanha eleitoral,
o advogado Zanone Júnior diz temer
"maldades" por parte do "andar de cima" da Polícia Federal (PF), que
apura a origem do dinheiro que bancou seus honorários. Desde que assumiu o caso,
o criminalista tem tentado explicar como
foi remunerado, mas não revela quem fez o pagamento, apesar da
investigação da PF e da pressão da opinião pública em busca de eventuais
mandantes do crime.
Em entrevista ao
Congresso em Foco, o criminalista
reclamou de
"teorias da conspiração" e
disse ter sofrido prejuízos
profissionais com a perda de seu celular, apreendido pela PF em dezembro
de 2018. Apesar de temer represálias do governo, Zanone elogiou o
delegado que conduz a investigação, a quem chamou d
e "gente boa" e
"educado". O advogado repetiu a versão já conhecida de que recebeu apenas
R$ 5
mil pelo trabalho,
[insuficiente para pagar o jatinho que o levou de BH à prisão.
estranho um advogado que se diz experiente, ter receio da cúpula da PF.] mas garante que não vai abandonar o cliente
"para ver
onde isso vai dar". Confira a entrevista:
Afinal, não saberemos quem paga pela defesa do Adélio?
[O financiador] não queria aparecer. Mas de qualquer forma eu expliquei:
eu não tenho os dados da pessoa. Tenho o primeiro nome, que eu não dei.
Porque a pessoa fez o contrato do primeiro serviço, que foi o
inquérito, que eu fechei por R$ 25 mil [este inquérito foi encerrado
três semanas após o atentado]. E como foi no dia da audiência de
custódia, eu saí muito correndo, a pessoa ficou de voltar para trazer [o
restante do pagamento].
Ela me deu R$ 5 mil em dinheiro e ela traria
para mim quatro cheques de R$ 5 mil. Eu só dei o recibo para ela dos R$ 5
mil. E a pessoa não voltou. Eu tenho o nome. Não dei o nome, mas eu
falei o valor, falei tudo.
O contrato, então, era só para o primeiro inquérito?
Só o inquérito. Eu só tinha falado para ele quanto é que ficaria até a
sentença e quanto ficaria até esgotar os recursos, até chegar no
Supremo.
Se o senhor só recebeu uma parte do pagamento, por que continua defendendo o Adélio?
[Depois de receber] aquela primeira parte, eu pensei que a pessoa ia
voltar. Conversei com os colegas. A gente estava discutindo se ia
continuar, se não ia continuar... agora eles abriram esse inquérito aí
contra a gente, tentando ouvir. Trouxe esse monte de teoria da
conspiração, falando que a gente estava recebendo do
PT, do Psol, do
PCC, do Estado Islâmico! Como é que é o nome do outro também? Dinheiro
da
Guiné Equatorial... aí o pessoal
[o grupo de advogados que o auxilia]
falou: "
Ô, velho, vamos ficar nesse troço pelo menos até ver onde isso
vai dar. Ainda mais agora que já tem inquérito contra a gente". [uma certeza existe = esse dinehiro não é honesto e está sujo do sangue de inocentes, desde os que morreram na fila do SUS, por falta de atendimento, em acidentes em rodovias mal conservadas, em assaltos em ruas sem segurança = tudo lembra os assassinatos dos petistas Celso Daniel e Toninho do PT = eles opor queima de arquivo.]
Como vocês veem o inquérito contra o Adélio, que apura se houve mandantes do crime?
Na verdade o que esse inquérito quer saber é o seguinte: é se tem alguém
[além de Adélio] com aquele dolo homicida, sabe? Com dolo de
extermínio. Se a pessoa elocubrou um plano homicida contra o presidente
da República. É isso que a Polícia Federal quer saber. Eu acho que a
ideia de se investigar é absolutamente legítima. Eu só fui contra a
apreensão do meu celular. Nem a busca e apreensão no meu hotel eu achei
ruim. Mas no meu escritório de advocacia, e não é só no meu escritório, é
em qualquer negócio hoje, se a pessoa tem um smartphone o computador
está ali. Tanto que a perda que eu sofri é irreparável. Um monte de
cliente sumiu, desapareceu, não entra em contato mais comigo.
Os
contratos que eu estava fechando, as pessoas não me ligaram mais, eu
perdi alguns contatos. E abriu-se no Brasil um precedente perigosíssimo
[violação de sigilo profissional da advocacia, segundo Zanone]. E a OAB
não faz nada.
[o sigilo profissional na relação cliente x advogado é necessário, desde que com limites e o advogado sempre sabendo, antecipadamente, até onde o sigilo existe - não pode é o sigilo ser usado para auxiliar bandidos presos a praticar crimes.]
A PF ainda não devolveu o celular?
Até hoje não. Disseram que têm mais perícia para fazer, tem isso, tem
aquilo... o delegado
[Rodrigo Morais, que coordena as investigações],
rapaz, é gente boa, acredita? Muito educado e tal. Eu tenho medo é do
que vem de cima. É hierarquia. É de pedirem, por exemplo, para ele
inventar coisa, para fazer maldades. Disso eu tenho medo. E não duvido,
né?
E a ação penal contra o Adélio segue suspensa até que se conclua o exame de saúde mental...
Vai ficar tudo suspenso. E hoje eu nem posso abandonar a causa. Eu,
Zanone, sou o curador do Adélio. O juiz não suspendeu o processo? Então o
Adélio hoje não responde por nada na vida. Se o Adélio ganhar na
loteria, ganhar uma herança, qualquer coisa, quem vai administrar isso
sou eu.
O Adélio não tem mais nenhum amigo ou familiar o acompanhando?
Parece que tem uma menina aí que falou que é namorada dele, e os parentes pobres.
E ninguém, velho, ninguém.
[o assassino tentou matar o presidente da República Federativa do Brasil e tem que ser punido com rigor extremo - ele e todos que de alguma forma o ajudaram no atentado.]
Congresso Jurídico