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segunda-feira, 23 de agosto de 2021

7 de Setembro: forças militares estão alertas em relação aos protestos

Prováveis manifestações em 7 de setembro ligam o sinal de alerta em órgãos responsáveis pela segurança do Congresso e da Esplanada. PM também se prepara para o evento do dia do soldado, na próxima quarta-feira

As forças militares que cuidam da segurança do Congresso e da Esplanada dos Ministérios estão em estado de alerta para possíveis manifestações no feriado da Independência, em 7 de setembro, em Brasília. Fontes ouvidas pelo Correio afirmam que, apesar de ainda não existir nenhum planejamento especial em relação o dia, os militares estão preparados para conter qualquer possível ação violenta.

A operação começou após a investigação a respeito de postagens e vídeos, publicados nas redes sociais nos últimos dias, que incitam a população a praticar atos criminosos e violentos às vésperas do feriado. Como medida de segurança, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o cumprimento de 13 mandados de busca e apreensão, atendendo a um pedido da subprocuradora Lindôra Araújo, da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Políticos, cantores, blogueiros e empresários estiveram na mira da Polícia Federal. Entre eles, o cantor e ex-deputado Sérgio Reis. Ele está sendo investigado por convocar uma manifestação de caminhoneiros em apoio ao presidente Jair Bolsonaro, com cobrança ao Congresso para derrubar todos os ministros do STF e pedidos de uma ação militar no país.

A repercussão do caso foi negativa e Sérgio Reis foi desautorizado por lideranças de caminhoneiros e ruralistas, que diziam que não apoiavam nenhuma manifestação. O músico se disse arrependido, mas continuou pedindo que as famílias fossem para as ruas. Na avaliação do deputado federal Neri Geller (PP-MT), o posicionamento de Sérgio Reis foi “infeliz” e precipitado. “Sou radicalmente contra a possibilidade de quebra institucional. Não tem nenhuma possibilidade de defender”, afirma.

Geller, que é produtor rural e um dos fundadores da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), ressalta que não é a favor de manifestações antidemocráticas e da separação dos Poderes. “Tem algumas lideranças que estão se excedendo um pouco. Essa suposta exigência do Senado votar um impeachment e, se isso não acontecer, fecharem rodovias, sou totalmente contra. Inclusive, eu sou da base do Bolsonaro, mas eu penso que o Brasil precisa de convergência e diálogo”, diz.

A Polícia Militar também se prepara para o evento do dia do soldado, em 25 de agosto, próxima quarta-feira. As forças de segurança temem que o espaço seja transformado em um local de ato político. A cerimônia prevê poucas pessoas e tem uma estrutura física. A reportagem entrou em contato com o Departamento de Trânsito, com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. No entanto, nenhum órgão se manifestou sobre qual é o planejamento para cuidar da segurança de Brasília em 7 de Setembro.

O cientista político Leonardo Queiroz Leite, doutor em administração pública e governo pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), afirma que Bolsonaro se mostra perdido diante dos fatos. “Ele parece que está perdendo o rumo do próprio governo ao atacar o Supremo. Esse pedido de impeachment é o primeiro da história e a chance de fracassar é enorme. Tem uma série de autoridades se manifestando contra e apoiando o STF”, aponta. [senhor Leonardo, respeitosamente, peço que se atualize - só este ano, ingressaram no STF 18 pedidos de impeachment contra ministros do STF; é um procedimento previsto na Constituição, que para passar a processo precisa ser encaminhado pelo presidente do Senado a uma  Comissão daquela Casa, se aprovado no colegiado, segue para Plenário, etc, etc. Um processo transparente e democrático.]

Leite explica que todo cidadão tem direito de protestar, desde que a manifestação seja democrática. “As pessoas podem se manifestar contra ou a favor do governo. O problema é ter uma manifestação antidemocrática de destituir um ministro do Supremo. Isso é um absurdo do ponto de vista constitucional. A questão principal é o tom que esses manifestantes estavam adotando”, ressalta.

Política - Correio Braziliense  

 

sábado, 10 de março de 2018

Sinal de alerta

O passar do tempo vai abrandando nossos movimentos de busca por “aquele futuro que nunca chega”


Quando minha mãe caminhava para os sessenta anos, ficaram mais frequentes seus telefonemas noticiando a morte de algum amigo da família, de um parente, de uma comadre, de alguém de quem gostávamos… Ela buscava, era natural, dividir comigo tristezas comuns, ainda mais porque nossa ligação e afinidade eram enormes e vivíamos distantes mais de 2,5 mil quilômetros.

Comecei a compreender aquilo como uma espécie de esvaziamento natural do seu mundo particular e da vida que ela construíra. Até o ponto de, já octogenária e uma das últimas remanescentes do seu grupo, ter partido e nos deixando com a impressão de que poderia ter vivido um pouco mais. Ao que parece, não lhe interessava permanecer naquele cenário de desmanche afetivo pela perda de tantos, quase todos a quem queria bem.

Despediu-se da vida de forma serena, quase singela – não é fácil juntar morte e singeleza! Por isso, jamais dissipará minha nítida impressão de que ela sempre esteve no comando do processo que a levou à sua hora extrema.  Hoje, os comunicados tristes já não são feitos com o adorno quase cultural dos telefones de baquelita, substituído pela aridez instantânea do mundo digital que matou o tuc tuc tuc eletrônico gerado pelo movimento de retorno do disco dos números ao ponto original de discagem. Pouca gente se dava conta de que a quantidade daqueles pulsos sonoros era correspondente ao algarismo discado.

Os amigos se espalharam por cidades diferentes e distantes, cumprindo os êxodos necessários para garantir a sobrevivência. Celulares, tabletes, computadores e internet suprem, na medida do possível, a falta da convivência cotidiana.  De repente, aquela mensagem de notificação de caixa postal cheia aparece uma, duas, diversas vezes para um mesmo amigo. É a fagulha que aperta o coração, que acende um sinal de alerta. E não há sossego até que tudo fique esclarecido – simples correria cotidiana, viagem de trabalho, férias, convalescença ou, a pior das constatações, saída definitiva de cena.

Esse é o jeito moderno de nos dar conta do avanço do tempo sobre nossas vidas. Não mais cultivamos os relatos falados com a devida dramatização, nem os retratos amarelados do passado em velhos álbuns, até porque já não temos a companhia daqueles parentes que, diante das imagens surradas, explicavam quem era quem no tabuleiro do jogo da vida.  O passar do tempo vai abrandando nossos movimentos de busca por “aquele futuro que nunca chega”, como diz um amigo com impaciência e precisão cirúrgicas.

É estranha a sensação dos primeiros sinais de que aquele futuro é apenas este presente sem graça. É normal recusá-los, como se não nos dissessem respeito. Mas eles dizem, impiedosos. Está na letra do tempo que já passou e no que vai passar sem reduzir a velocidade. Está no branco do cabelo, nas rugas espalhadas pelo rosto. Vai-se perdendo o conceito de muito ou pouco. Sobra apenas a certeza de que volumes e limites ficarão confusos, incertos, imprecisos, dúbios.

De repente, como velhos cães, vamos nos agrupando naturalmente, guiados por interesses comuns. Fortalecendo afetos e fidelidades. Aceitando emergências alheias. Perdoando ausências. Aliviando incompreensões. Dividindo medos e angústias. Amparando inseguranças e perdas. Entendendo a dor alheia que não nos dizia respeito. Recomendando o médico da moda ou o remédio da hora, mesmo sabendo que não farão efeito. A matilha é sábia, vai se juntando para o fim. Sabe tirar da prática a prática de ir vivendo da melhor maneira possível. Driblando sombras, disfarçando dores, abafando desesperanças, distribuindo sorrisos difusos, variando nas lembranças de amores imaginados, acomodando o corpo para uma soneca, ignorando sinais de alerta. E rindo dos sábios modernos que transformam tudo em conceitos que não conseguem praticar, pois a vida não cabe em teorias acadêmicas.

Como por encanto, caiu da memória direto para as minhas tintas o célebre trecho quase sinônimo de Pessoa “Navegar é preciso, viver não é preciso”, também atribuído a Pompeu, general romano que viveu antes de Cristo. E antes de Pessoa.  Preciso como as letras e seus subliminares. Impreciso no mistério da autoria. Impreciso como o sentido da vida e a vontade de seguir viagem para encontrar o próprio sentido. Preciso na certeza de que quase tudo não faz o menor sentido.

Heraldo Palmeira - Coluna do Augusto Nunes 

 

quinta-feira, 4 de maio de 2017

União precisa assumir seu papel na segurança

Fronteiras vulneráveis permitem a entrada no país de drogas e armas, que estão na raiz dos problemas de violência em vários estados, incluindo o Rio de Janeiro 

Quem observasse do alto as colunas de fumaça preta que se erguiam de pontos da Avenida Brasil e da Rodovia Washington Luís, na manhã de anteontem, poderia pensar que testemunhava um bombardeio na Síria. Mas era só mais uma batalha da guerra cotidiana do Rio. Traficantes haviam ateado fogo a nove ônibus e dois caminhões em represália a uma ação da polícia na Cidade Alta, em Cordovil, onde facções rivais se enfrentavam. Em consequência, algumas das vias mais importantes da Região Metropolitana tiveram de ser bloqueadas, enquanto motoristas e passageiros ficavam reféns da situação, alguns em meio a tiroteios. Para completar o caos, ainda houve saques às cargas dos caminhões incendiados.

São vários os motivos que contribuem para esse descontrole da segurança no Rio. A começar pela grave situação fiscal do estado, que praticamente paralisou a administração, impactando setores essenciais — o governo chegou a admitir que a polícia corria o risco de parar este mês por falta de combustível. Soma-se a isso a fragilidade do governo Pezão, que tem se mostrado incapaz de reagir à crise, ficando à espera do socorro da União na medida em que a situação só se agrava. 

Acrescente-se ainda o enfraquecimento das UPPs. Reportagem do GLOBO com base em pesquisa da FGV mostrou que, embora o número de homicídios não tenha voltado a patamares pré-UPP, houve um aumento de 23% entre 2012 e 2016. E já há crimes que se situam nos mesmos níveis de 2006. É mais um sinal de alerta para as autoridades. O projeto das UPPs, de retomada de territórios dominados pelo tráfico, representou m ganho importantíssimo para a sociedade. Por isso, é fundamental que o programa seja recuperado, dentro dos princípios que o nortearam, como o policiamento de proximidade que desestimularia ações desastradas da PM em comunidades.

Mas, acima de tudo, o controle da segurança depende do governo federal. E não apenas para enviar a Força Nacional ou contingentes das Forças Armadas em situações de emergência, como agora. A União precisa assumir o protagonismo na segurança. Não só no Rio, porque hoje a atuação das quadrilhas ultrapassa os limites dos estados e mesmo do país. Isso ficou comprovado nas sangrentas rebeliões em presídios do Norte-Nordeste com participação de facções do Sudeste. Ou no roubo a uma transportadora de valores em Ciudad del Este, Paraguai, por bandidos brasileiros.

Fronteiras vulneráveis permitem a entrada no país de drogas e armas, que estão na raiz dos problemas de violência em vários estados, incluindo o Rio. Durante a operação na Cidade Alta, anteontem, a polícia apreendeu 32 fuzis, quantidade maior do que a que foi recolhida em todo o mês de março. Nenhum deles foi fabricado no estado. O problema demanda ações coordenadas de inteligência. Sem que União e estados resolvem essas questões, cidadãos continuarão reféns dos bandidos, vivenciando cenas que estão mais para Aleppo do que para o Rio.


Fonte: Editorial - O Globo