A República, aparentemente, parece ser uma boa forma de governo. Tratar
as coisas do Estado como públicas, retirando o monarca da jogada, é algo
realmente sedutor.
Na concepção moderna, República tende a ser sinônimo de democracia.
Entretanto, a história nos mostra que uma coisa não tem relação com a
outra. Um país republicano pode ser tão ou mais totalitário do que as
monarquias absolutas da Europa medieval. Aliás, muito mais autoritário.
Cuba, China, Coréia do Norte e a antiga URSS são exemplos.
Montesquieu, propôs a divisão dos poderes do Estado em três: Executivo,
Legislativo e Judiciário, que seriam harmônicos e independentes. Esta
noção foi abraçada pela grande maioria dos países do mundo, sejam eles
Repúblicas ou Monarquias. A noção de bem público e a divisão dos três
poderes foram as inspirações para que reis fossem depostos e
substituídos por presidentes.
Nas terras brasileiras, o regime republicano chegou com um golpe
militar. O que se sucedeu foi uma estrutura positivista de centralização
do poder nas mãos do presidente. De golpe em golpe, de constituição em
constituição, ultrapassamos o século XX e chegamos ao século XXI como
uma República Federalista dotada de seus Três Poderes constitucionais
que nos moldam e definam. São eles que definem o funcionamento dela. Ou
não? [considerando o comportamento da maioria dos membros do Ministério Público a criação de Montesquieu deve ser ajustada, pelo menos no Brasil, de forma a manter os três poderes originais, com pequenas adequações no organograma, permitindo que o Poder Judiciário se sobreponha aos dois restantes, que permanecerão no mesmo nível hierárquico e se oficialize a criação de um QUARTO Poder, que será constituído pelo Ministério Público que ficará acima do Poder Judiciário, sendo o Poder Supremo.
O comportamento de uns tempos para cá do Ministério Público e do Poder Judiciário, - não aceitando que seus atos sejam questionados, se opondo a qualquer norma que permita aos que se sentirem prejudicados possam representar contra os autores daqueles atos - ainda que o questionamento, tenha que ter o aval do MP e com este aval a demanda será julgada por um juiz, portanto, pelo Poder Judiciário - não deixa dúvidas que o MP deseja ser o Poder dos Poderes e que o Poder Judiciário já age como um Poder superior aos dois restantes.]
Apesar de, formalmente, o Brasil ter sua República inspirada no
Espírito das Leis, na prática não é assim que ela funciona. Sim, o
Estado brasileiro tem Três Poderes que o regem e nos governam. Mas não
são aqueles que ocupam os palácios de Brasília. São eles: o Poder
Econômico, o Poder Político e o Poder Cultural. São estes que, de fato,
norteiam a forma com a qual é conduzido o país.
Como vimos, a inspiração positivista centralizou a administração do
Brasil. Ao longo da República, esta centralização fica cada vez mais
forte e tem crescido ainda mais. A concentração de poderes nas mãos da
União sufoca os demais entes federados, aprisiona a população e mina,
quase que irreversivelmente, a identidade nacional. Assim, surge uma
máquina pesada, corrupta e ineficiente. Tudo isso fruto da influência
dos verdadeiros três poderes.
A carga e a estrutura tributária brasileira, aliada a uma quantidade
imensa de fundações, empresas e bancos nas mãos da União, dá a ela o
Poder Econômico quase hegemônico. Brasília passa a sugar os recursos da
nação e utilizá-los conforme suas conveniências de momento. Ele
transforma os estados e municípios (que geram a riqueza) em seus
mendigos.
Governadores e prefeitos têm que implorar por recursos que eles mesmos
produziram, mas que são obrigados a entregar à União. Como resultado,
obras que deveriam ser feitas por eles são dependentes da boa vontade do
governo central. O mesmo ocorre com o pagamento de funcionários e o
custeio da máquina pública. Associado ao Poder Econômico, há o Poder Político. Sendo detentor dos
maiores bancos e empresas do país, o governante pode, simplesmente,
comprar adversários. Para isso, basta lhes dar algum cargo de chefia nos
Correios, Petrobrás ou BNDES e, voi-lá! Tem-se um novo aliado. O mesmo
acontece com o apoio de governadores e prefeitos. Não é por acaso que a
corrupção é endêmica em toda a estrutura do Estado e atinge todos os
Poderes Constitucionais.
Livre da necessidade de gerar lucro, o governo se vê livre para nomear
quem quer que seja para ocupar cargos de alta direção em suas empresas. O
resultado se reflete em todo o serviço público que é ineficiente,
deficitário e corrompido. Para sustentar tamanho peso, o Estado
brasileiro recorre à prática mais antiga para equilibrar as contas:
aumento de impostos, encargos, contribuições e taxas.
Com todo esse poderio em mãos, fica muito fácil centralizar o terceiro
poder, o cultural. Sendo o principal anunciante publicitário do país, o
governo pode, também, escolher quais são os veículos de imprensa e mídia
em geral que receberão maiores recursos. Aplica-se, assim, o poderio
econômico para a compra de jornalistas e canais de televisão. Quanto a
estes, caso tudo falhe, basta lhes cortar a concessão estatal para seu
funcionamento.
No final, todos ficam felizes: os governantes, que não são criticados;
os jornalistas, que recebem dinheiro para noticiar apenas o que convém
ao governo e os proprietários das redes de comunicações que, além do
recurso financeiro, mantém suas concessões. Poderíamos inferir que o sistema educacional seria a chave para a
ruptura deste domínio. Mas não é. O Ministério da Educação e a
Secretaria da Cultura centralizam currículos escolares e determinam
quais artistas receberão seu financiamento. Para isso, devem seguir a
agenda de dominação cultural proposta por Brasília e transformar a nova
geração de cidadãos brasileiros em pessoas lobotomizadas e alinhadas com
o status quo.
Qualquer um que tente ir de encontro a essa política é condenado ao
ostracismo e exposto ao ridículo. A identidade nacional da população
está sendo (aliás, já foi) substituída por um novo tipo de consciência
que é incapaz de perceber suas raízes históricas e culturais herdadas e
passa a adotar outra completamente nova, que foi produzida desde cima.
Sem que percebamos, o Estado impõe à população novos valores éticos e
morais, destruindo os antigos. É um processo de engenharia social.
O Estado ao concentrar em suas mãos esses três poderes, exerce sobre nós
um domínio tal que nem César possuía sobre a população romana. Sua
pesada carga tributária transfere o dinheiro dos pobres a ele, que passa
a subsidiar e financiar os empreendimentos no país. O governo assume o
risco do investimento que deveria ser do empresário, que é financiado
pelos pobres.
Ainda, compra apoio político, transforma prefeituras e estados em
mendigos e determina o que podemos saber. Substitui nossa herança
cultural por uma ideologia alienígena e impõe sobre cada um de nós uma
nova identidade nacional artificial e formatada que nos mantém com seus
escravos. É urgente que o Estado abdique de tamanha quantidade de poder para que
possamos encontrar novamente o caminho do desenvolvimento real e
recuperar nossa identidade como brasileiros. Do contrário, seguiremos
sucumbindo aos verdadeiros três poderes da República, mergulhados em uma
espiral de decadência e escravidão.