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sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Eles sumiram! Ou: O povo não perdoa traíra - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino


Nota do autor: qualquer semelhança entre esses nomes e alguns conhecidos é mera coincidência

Acordei com uma sensação estranha, sem saber o motivo. Quando olhei para meu telefone, quase caí da cama: a data mostrava 12 de agosto de 2026! Fui transportado para o futuro?! Ou será que fiquei em coma esse tempo todo?!  Pois poderia jurar que fui dormir no dia 11 de agosto de... 2022! Olhei em volta com cuidado, tateando o escuro, e liguei a televisão na Fox News Brasil. Opa! Sim, Bolsonaro ainda é o presidente. Isso, confesso, acalmou um pouco meus ânimos. Eu poderia ter acordado na Argentina, quiçá na Venezuela lulista!

Mas logo fui acometido por uma curiosidade incontrolável: que fim levaram, então, todos aqueles traíras do Brasil, que tentaram derrubar o presidente após surfarem na onda criada por ele? Dei de ombros para o fenômeno estranho da viagem no tempo e saí em busca de respostas, tal como um Sherlock Holmes tupiniquim. O que encontrei foi incrível.

Após muito esforço – e ter molhado a mão de muita gente do submundo descobri que o Alex Fruta tinha voltado a fazer filmes pornográficos. “Justo”, pensei comigo. Sem interesse em verificar sua “arte”, parti para o próximo alvo. E descobri que o Jonny Doriana fazia agora dancinhas para animar festas LGBT! Acho que vi o que parecia uma seringa à guisa de um pênis pendurado atrás dele. “Mais justo ainda”, pensei.

Circulando pelas ruas do Leblon, esbarrei no João Ameba. Ele soltava sua mão de alface em cima de qualquer um que passasse, pedindo em sua voz mansa para cada transeunte assinar um Novo pedido de impeachment de Bolsonaro. Fiquei com pena, admito.


Bolsonaro edita decreto autorizando o uso das Forças Armadas nas eleições

Qual será o papel estratégico dos candidatos a vice na campanha presidencial

Fui relaxar num bar, e lá vi Luís Mandeitá jogando uma sinuca como se não houvesse amanhã. Ele não usava máscara. Ou seja, nada havia mudado nesse aspecto desde aquela pandemia famosa do passado. Mandeitá falava de seu passado com estranhos presentes no bar, que não demonstravam qualquer interesse e sorriam constrangidos. “Eu já fui ministro!”, soltava todo vaidoso.

Comecei a ouvir gritos histéricos do lado de fora. Fui verificar, e era Joy Rassel. Ela tinha o rosto cheio de hematomas, e berrava que tinha levado uma surra de Bolsonaro. Atraía olhares curiosos e muitos risos. Uma alma mais caridosa ligou para os homens de branco e resolveu dar fim àquela triste loucura exposta em praça pública.

Felipe Doura Barril estava jogando xadrez em Copacabana com Alex Burres, que tinha acabado de descer do apartamento de sua mãe, onde ainda morava, com quase 60 anos. Ele estava quase terminando seu primeiro livro acordado com a editora. Ambos sussurravam que eram os únicos defensores da verdadeira direita. Ninguém em volta sabia quem eles eram. Fiquei com pena dos ex-relevantes formadores de opinião conservadores, que nunca tiveram coragem de voltar a criticar o aborto em público.

Arthur Duvall, antigamente conhecido como Mamãe Peguei, estava participando de sua quarta edição do programa “Fazenda”. No último ano, soube que ele tinha levado uma surra de um colega do reality show, ao tentar forçar uma relação com uma mulher bêbada. Ele gritava: “Assim é melhor, mulher bêbada é mais fácil de pegar”. Pegou foi um olho roxo.

Sergio Morno fora visto pela última vez após disputar e perder o cargo de vereador numa cidadezinha paranaense. Ele concedeu uma entrevista a um estagiário do Grobo e alegou que estava lutando para proteger sua biografia. Mas levou uma baita bronca de sua esposa, Roseana, que o mandou para casa lavar a louça. Nunca mais foi visto em público depois disso.

Rodrigo Laia foi encontrado num spa, tentando queimar parte dos seus 136 quilos, mas foi descoberto um esquema em que ele pagava para os funcionários levarem chocolate escondido no seu quarto. Laia, confrontado pelo diretor do spa com a prova do crime na mão, rebateu: “Você sabe com quem está falando?! Eu fui o presidente da Câmara! Você me deve obediência!”. Foi expulso no ato.

Os irmãos W foram vistos pela última vez provocando apoiadores do Bolsonaro, no afã desesperado de terem algum holofote. A última “live” deles tinha tido apenas três visualizações, contando com a mãe e o pai. Ao me reconhecer, o Abraão berrou: “Rato! Vem cá, vamos debater!!!”. Virei as costas com pena e fui embora. Ouvi algo que parecia muito com um choro contido atrás de mim.

Diogo Mau Nardi tinha voltado de Veneza e procurava emprego no Brasil247, sem sucesso. Ronaldo Azedo era o responsável pelo marketing do PSTU. Guilherme Malatossi não consegui encontrar fácil, pois ninguém sabia quem era, mas depois descobri que estava trabalhando como copeiro do Azedo. Marquinho da Vila, conhecido como Professor Papagaio, circulava pelas ruas xingando todo mundo de fascista, nazista, e algumas almas caridosas colocavam umas moedas no chapéu dele.

Fui para casa um tanto melancólico, pensando em como a vida tinha dessas guinadas. Todos eles tiveram lá sua importância num determinado momento, mas resolveram trair a nação, virar a casaca. E o povo não perdoa mesmo traidor.

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

segunda-feira, 22 de março de 2021

Totalitários sempre tentam destruir núcleo familiar - Gazeta do Povo - VOZES

Rodrigo Constantino 

O núcleo familiar é a essência da sociedade, o pilar da civilização. É na família que somos educados, civilizados, conhecemos o amor, o respeito, os limites. Daí a crueldade ímpar e indizível de quando os próprios pais são os algozes dos filhos, ou quando estes se tornam inimigos ou até assassinos dos próprios criadores. Felizmente, situações bem raras, e que geram profunda revolta na sociedade.

Proteger as crianças é uma obrigação do estado. Mas isso quer dizer garantir o básico, impedir abusos que atinjam a dignidade humana. Não é o estado ser o educador das crianças no lugar dos pais. Porém, esse é exatamente o anseio de todo totalitário: substituir o papel dos pais, usar o estado para controlar cada indivíduo. E, para tanto, é necessário justamente enfraquecer o elo familiar.
 
Não por caso todo regime coletivista comunista tentou fazer isso. Até as refeições deveriam ser comunitárias, para acabar com o convívio da família nesse momento crucial de conversas. Marx e Engels chegaram a pregar abertamente contra as famílias, que enxergavam como autoritárias e como obstáculo ao comunismo. A Escola de Frankfurt foi pelo mesmo caminho depois. A esquerda totalitária odeia o conceito de família tradicional, "burguesa".
 
É da família que saem os valores da liberdade individual, e daí se constrói o tecido social. Para se viver numa sociedade de confiança, torna-se essencial ter famílias saudáveis em vez de disfuncionais. Quem quer substituir a família pelo estado precisa, portanto, enfraquecer os laços de família, e com isso produzir desconfiança geral, esgarçando esse tecido social até o caos total, para que o estado absolutista possa entrar em cena.
 
Nada disso é tese conspiratória, mas sim projetos bem declarados de revolucionários, e experimentos que produziram terror e caos no passado. Para jogar uns contra os outros na sociedade, o ponto de largada será a família. Não foi por outro motivo que o genocida Mao Tse-Tung usou crianças em sua "revolução cultural", formando um exército de pirralhos dispostos a matar os membros de suas próprias famílias por serem "contrarrevolucionários".
 
Em Cuba, Fidel Castro incentivou que filhos denunciassem seus pais também, e vizinhos que "entregassem" vizinhos "perigosos" poderiam receber recompensas. Foi o mesmo no nacional-socialismo e todo modelo totalitário. O tirano instiga cada um a se tornar um X9, um caguete, pois não há polícia secreta capaz de dar conta do recado completo. Na Alemanha comunista, parcela significativa da população trabalhava para a Stasi.
 
O totalitarismo não pode abrir mão dos "traíras" que, com pouco apreço pela liberdade, ou por excesso de medo, comportem-se como agentes do estado opressor. O ressentimento seria outro componente: o invejoso que sempre detestou o vizinho ou mesmo o irmão enxerga na ideologia um instrumento para se vingar, para punir o desafeto.
 
Eis o pano de fundo para chegarmos ao cerne da questão aqui: essa pandemia está servindo para que mentes totalitárias saiam do armário e avancem contra o núcleo familiar. 
Um vídeo produzido pelo governo estadual de São Paulo mostra uma jovem num bar com alguns amigos infectando depois seu pai de covid, o que o leva para a UTI. Campanha de persuasão dos perigos de contágio tudo bem, mas isso já é terrorismo psicológico tentando incutir culpa nos filhos, gerando intrigas familiares. 
 
Um jornal carioca foi pelo mesmo caminho com essa reportagem:
Além do pânico, querem meter culpa nos jovens e só vão relaxar um pouco quando irmão denunciar irmão, filho entregar pai e vice-versa. Já estamos num ambiente em que vizinhos se consideram "cruzados pela vida" ao denunciar um churrasco na casa do outro vizinho, o que é assustador. Agora estão tentando ir mais longe, e colocar membros da mesma família em confronto.
 
A pandemia é grave, ceifa vidas, espalha o medo. Mas seu custo não pode ser medido somente numa contagem mórbida de cadáveres
Nossas liberdades mais básicas estão ameaçadas. Nosso valores mais caros estão em risco. 
Não resta dúvida de que os totalitários viram na crise da pandemia uma oportunidade para instaurar regimes controladores e opressores. 
E eles sempre começam com a destruição das famílias.
 
Rodrigo Constantino, jornalista  -   Gazeta do Povo - VOZES
 

sábado, 15 de fevereiro de 2020

A militarização do Planalto – Editorial - O Estado de S. Paulo

Decisão de Jair Bolsonaro é compreensível. O problema é que ele parece disposto a fechar definitivamente as portas aos políticos, aquartelando-se no Planalto

O presidente Jair Bolsonaro anunciou o general Walter Braga Netto, chefe do Estado-Maior do Exército, como o novo ministro da Casa Civil. Quando a nomeação for efetivada, todos os Ministérios com gabinete no Palácio do Planalto estarão ocupados por militares.

É compreensível que Bolsonaro queira ter, como seus ministros mais próximos, pessoas com quem tenha maior afinidade. O presidente, como capitão reformado do Exército, decerto sente-se mais à vontade e confiante com assessores que foram seus companheiros de farda ou são egressos do mesmo ambiente em que se formou como militar. O problema é que, assim, Bolsonaro parece disposto a fechar definitivamente as portas aos políticos, aquartelando-se no Palácio do Planalto.

Nada disso pode ser considerado definitivo, em especial para um presidente que troca ministros e assessores com enorme facilidade, muitas vezes como consequência de rompantes inesperados e por motivos obscuros – em geral relacionados às idiossincrasias dos filhos. Poucos são os ministros de Bolsonaro que podem se dizer seguros no cargo, mesmo os que supostamente se ligam ao presidente pelo espírito de camaradagem dos quartéis – que o diga o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido da Secretaria de Governo em junho do ano passado por interferência direta do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), um dos filhos do presidente. Esse caso, como vários outros, mostra que o único compromisso firme de Bolsonaro não é com a estabilidade da administração do País, mas sim com relações de parentesco. Nem mesmo um amigo de longa data do presidente, como o general Santos Cruz, resistiu à força dos laços familiares.

Enquanto durar, contudo, o “gabinete fardado” do Palácio do Planalto é um indicativo claro de que o presidente Bolsonaro resolveu retirar o gerenciamento de seu governo da órbita dos políticos. “Ficou completamente militarizado o meu terceiro andar”, brincou o presidente, em referência ao andar do Palácio do Planalto onde ficam o gabinete da Presidência da República e os de alguns de seus principais auxiliares. Agora, ministros militares ocupam toda a chamada “cozinha do Planalto” – a Casa Civil, a Secretaria de Governo, o Gabinete de Segurança Institucional e a Secretaria-Geral.

Uma das principais tarefas da Casa Civil é justamente coordenar os Ministérios, o que dá a seu titular o enorme poder de ser a voz do presidente no relacionamento com todo o primeiro escalão. Ao que parece, o presidente Bolsonaro acredita que um militar terá melhores condições de realizar esse trabalho. “Nada contra os civis”, apressou-se a dizer Bolsonaro, mas, segundo deu a entender, o futuro ministro, por ser general, conseguirá “coordenar os ministros, buscar soluções e antecipar os problemas que podem acontecer”. E o que não tem faltado neste governo, desde o primeiro dia, são problemas.

Ao se acercar somente de militares e colocar em função-chave na organização do governo um general com o perfil de Braga Netto ao chefiar a intervenção federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro, em 2018, ele demonstrou elogiável discrição e foco na disciplina –, Bolsonaro sinaliza rédea mais curta em relação a seus ministros, em especial os que podem nutrir pretensões eleitorais, e uma interlocução ainda menor com os políticos e com o Congresso.

Sabe-se, desde sempre, que Bolsonaro desconfia até da própria sombra, imaginando-se cercado de “traíras” – a expressão é dele, para designar os que, em sua visão, se aproveitam da onda bolsonarista para auferir lucros eleitorais. Recentemente, disse que daria “cartão vermelho” a ministro que esteja “usando Ministério” como trampolim eleitoral. Coincidência ou não, pouco depois o ministro Onyx Lorenzoni, que ultimamente passou mais tempo cuidando de seu projeto de se tornar governador do Rio Grande do Sul do que das tarefas da Casa Civil, perdeu o cargo.

De seus ministros, Bolsonaro espera lealdade absoluta, bem de acordo com o espírito da caserna.
É o único critério que, para ele, realmente importa.
 
 Editorial - O Estado de S. Paulo