O
desemprego, depois de atingir o pico de 13,7%, vem caindo e estava, ao fim de
outubro, em 12,2%. A massa de rendimentos no começo do 2016 registrava queda de
4%, agora está em alta de 4,2%. O mercado de trabalho começa a se recuperar da
destruição em massa de postos de trabalho iniciada em dezembro de 2014. Mas o
Brasil faz o errado de imediato e posterga o certo, e isso enfraquece a
recuperação.
É certo
incluir mais 18 mil pessoas dentro do inchado serviço público federal? Pois,
uma proposta de emenda constitucional acaba de ser aprovada na Câmara para que
servidores de Roraima e Amapá, que entraram nos serviços dos ex-territórios
entre 1988 e 1993, passem a ser servidores da União. O autor da proposta é o
senador por Roraima, Romero Jucá. O mesmo que fala em necessidade de ajuste
fiscal em nome do governo Temer. E ele apresentou essa PEC por que? Interesse
eleitoral e demagogia. Esse não é o momento de aumentar o número de servidores.
Da mesma forma que, em maio de 2016, com o desemprego aumentando em avalanche
no setor privado, não era hora de aprovar aumentos salariais para funcionários
públicos até 2019. Agora, o governo tenta adiar o reajuste do ano que vem, mas
o Congresso não se move para votar.
O mercado
de trabalho vai se ajustando aos poucos. A economia dá sinais discretos de
recuperação. Talvez o PIB do terceiro trimestre traga a boa notícia de ter sido
positivo — calcula-se algo em torno de 0,3% — e com o sinal bom de alta no
investimento. É o que se prevê sobre o dado, que sai hoje. Olhando os números
do mercado de trabalho, o que se vê é que a máquina de destruir emprego, ligada
pela recessão iniciada no governo Dilma Rousseff, começa a reduzir seu apetite.
Há 586
mil desempregados a menos do que no final de julho e 868 mil pessoas a mais com
emprego. A maioria aceitou uma ocupação informal ou criou seu próprio trabalho.
Os dados comparados com o trimestre anterior (maio-junho-julho) mostraram
melhora, mas em relação ao mesmo trimestre do ano passado, houve piora. Ainda
assim, o economista José Márcio Camargo acha que o quadro já inspira alguma
confiança. Ele acredita que o país está perto de uma virada nessa comparação
anual. No começo do ano, a diferença em relação à taxa do início de 2016 era de
3,1 pontos percentuais; agora é de 0,4. Ele acha que o país terminará 2017
melhor do que no fim do ano passado, com o desemprego em 11,5%. Quando a taxa
começou a subir no início do segundo mandato de Dilma, José Márcio previu que
chegaria a 13%. Parecia exagero. E chegou a 13,7%.
O pior
passou no mercado de trabalho, mas o desemprego ainda é muito alto. Portanto, a
taxa de criação de emprego tem que ser acelerada para dar algum conforto às
famílias. Mas isso não acontecerá com o Congresso se recusando a aprovar
medidas de ajuste, fechando os olhos para a urgência de uma reforma no sistema
de aposentadorias e pensões. O governo está em contradição sistemática, como
nesse episódio da entrada de 18 mil funcionários a mais na folha da União. E o
que disse a equipe econômica? Nada. E o que fez o Planalto para impedir a
aprovação desse aumento de gastos? Nada. O governo parece dizer: ajuste,
ajuste, minha clientela à parte.
O IBGE
tem divulgado dados impressionantes da realidade brasileira. O país precisa
urgentemente aumentar o esforço para tirar do trabalho infantil quase um milhão
de menores em situação irregular, por não serem registrados ou por terem entre
5 e 13 anos. Trinta mil dessas crianças têm entre cinco e nove anos. O Brasil é
desigual, extremamente, mais do que as lentes do instituto captam porque o que
está sendo medida é a desigualdade na renda do trabalho. A população de 60 anos
ou mais cresce em ritmo acelerado, como também mostra o IBGE; de 2012 para 2016
aumentou 16%.
Diante da
necessidade urgente de proteger as crianças e preparar a Previdência para a
elevação da idade da população, o que é feito? Desidrata-se a proposta de
reforma que estabelece a idade mínima para se aposentar em 53 anos e 55 anos
agora e que só em vinte anos chegará aos níveis em que já estão México e Chile,
de 62 e 65 anos. E a reforma pode nem ser votada. Este governo, com suas
contradições e seu labirinto, vai acabar em 12 meses e 30 dias. O Brasil
permanecerá com suas urgências imediatas, pedindo que o país seja capaz de
tomar as decisões certas. Antes que seja tarde.
Coluna da Miriam Leitão – Com Marcelo Loureiro