Do ‘cartel de leniência’ à relutância em cassar Vargas e Argôlo, sinais de um acordo em Brasília para atenuar punições aos que provocaram prejuízos bilionários à Petrobras
Ensaia-se em Brasília um
grande acordo com o objetivo de suavizar punições ao condomínio
político-empresarial que fraudou em licitações, lavou dinheiro de
corrupção em campanhas e provocou prejuízos bilionários à Petrobras. No
governo, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, estrutura um
“cartel de leniência”, no qual algumas empreiteiras pagariam multas.
Como resultado, ficariam limitadas investigações sobre a dimensão dos
desvios, os pagamentos de subornos e a conivência de instituições
financeiras.
Na Câmara, líderes do PT, do Solidariedade e do PMDB advogam por indulgência para os deputados André Vargas e Luiz Argôlo. Vargas, paranaense de 50 anos, foi flagrado em maracutaias com Alberto Youssef, agente pagador de propinas, quando ocupava a vice-presidência da Câmara pelo PT. Argôlo, baiano de 34 anos, foi surpreendido em obscuras transações com Youssef na posição de vice-líder do partido Solidariedade, ligado à Força Sindical. Há oito meses adiam-se os seus processos de cassação, por corrupção. Não foram à votação porque assim quis o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, candidato do PMDB de Eduardo Cunha e Michel Temer a um ministério no governo Dilma Rousseff.
Alegações de dificuldades para o Legislativo atuar em ano eleitoral soam tão falsas quanto contratos de assessoria de Youssef com empreiteiras: em 1992, apenas 96 horas antes de uma eleição municipal, 474 deputados decidiram, por voto secreto, afastar Fernando Collor da Presidência da República, por corrupção. Agora, tem-se uma confluência de interesses partidários e governamentais. Alguns querem evitar a decisão até o recesso, que começa em dez dias. Outros propõem a votação, que é aberta, mas sem estímulo ao quorum. Para cassar mandatos são necessários, pelo menos, 257 votos a favor — a maioria absoluta do plenário.
Punidos nas urnas, Vargas e Argôlo não foram reeleitos. Se premiados no Legislativo, permanecem elegíveis para cargos públicos, até eventual decisão contrária do Judiciário. Contra ambos há fartura de evidências. Entre elas, meio milhar de telefonemas e mensagens que retratam a aposta na impunidade.
Em setembro do ano passado, por exemplo, festejavam as perspectivas milionárias de um convênio com o Ministério da Saúde. Youssef era sócio oculto de um laboratório farmacêutico, em Indaiatuba (SP), cujo galpão abrigava seis dúzias de máquinas enferrujadas após 30 anos de inatividade. O Labogen só produzia papéis falsos: em 30 meses falsificou 1.945 operações de câmbio para ocultar a remessa de US$ 113,3 milhões ao exterior.
Numa segunda-feira (16/9) técnicos do ministério visitaram o laboratório-fantasma. Viram máquinas camufladas com reluzentes folhas de sucata de alumínio. Dias depois, o então ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT-SP), solenizou a assinatura de “parceria” com o Labogen e os laboratórios EMS e da Marinha. Youssef escreveu ao vice-presidente da Câmara: “(Será) tua independência financeira. E a nossa também, claro.” A resposta: "Kkkkk.”
Argôlo não se conteve: “A gente vai dominar esse país” — teclou para Youssef, que retrucou: “Se Deus quiser, vamos sim.” O vice-líder do Solidariedade arrematou, em despedida: “Porque somos bons.”
Fonte: Coluna José Casado - O Globo
Na Câmara, líderes do PT, do Solidariedade e do PMDB advogam por indulgência para os deputados André Vargas e Luiz Argôlo. Vargas, paranaense de 50 anos, foi flagrado em maracutaias com Alberto Youssef, agente pagador de propinas, quando ocupava a vice-presidência da Câmara pelo PT. Argôlo, baiano de 34 anos, foi surpreendido em obscuras transações com Youssef na posição de vice-líder do partido Solidariedade, ligado à Força Sindical. Há oito meses adiam-se os seus processos de cassação, por corrupção. Não foram à votação porque assim quis o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, candidato do PMDB de Eduardo Cunha e Michel Temer a um ministério no governo Dilma Rousseff.
Alegações de dificuldades para o Legislativo atuar em ano eleitoral soam tão falsas quanto contratos de assessoria de Youssef com empreiteiras: em 1992, apenas 96 horas antes de uma eleição municipal, 474 deputados decidiram, por voto secreto, afastar Fernando Collor da Presidência da República, por corrupção. Agora, tem-se uma confluência de interesses partidários e governamentais. Alguns querem evitar a decisão até o recesso, que começa em dez dias. Outros propõem a votação, que é aberta, mas sem estímulo ao quorum. Para cassar mandatos são necessários, pelo menos, 257 votos a favor — a maioria absoluta do plenário.
Punidos nas urnas, Vargas e Argôlo não foram reeleitos. Se premiados no Legislativo, permanecem elegíveis para cargos públicos, até eventual decisão contrária do Judiciário. Contra ambos há fartura de evidências. Entre elas, meio milhar de telefonemas e mensagens que retratam a aposta na impunidade.
Em setembro do ano passado, por exemplo, festejavam as perspectivas milionárias de um convênio com o Ministério da Saúde. Youssef era sócio oculto de um laboratório farmacêutico, em Indaiatuba (SP), cujo galpão abrigava seis dúzias de máquinas enferrujadas após 30 anos de inatividade. O Labogen só produzia papéis falsos: em 30 meses falsificou 1.945 operações de câmbio para ocultar a remessa de US$ 113,3 milhões ao exterior.
Numa segunda-feira (16/9) técnicos do ministério visitaram o laboratório-fantasma. Viram máquinas camufladas com reluzentes folhas de sucata de alumínio. Dias depois, o então ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT-SP), solenizou a assinatura de “parceria” com o Labogen e os laboratórios EMS e da Marinha. Youssef escreveu ao vice-presidente da Câmara: “(Será) tua independência financeira. E a nossa também, claro.” A resposta: "Kkkkk.”
Argôlo não se conteve: “A gente vai dominar esse país” — teclou para Youssef, que retrucou: “Se Deus quiser, vamos sim.” O vice-líder do Solidariedade arrematou, em despedida: “Porque somos bons.”
Fonte: Coluna José Casado - O Globo
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