Talvez.
Para
melhorar sua articulação política e, no limite, blindar-se
contra um pedido de impeachment, ela manterá sua dependência de Lula
No início
de 2014, quando a presidente Dilma
Rousseff liderava com folga as pesquisas eleitorais, assessores dela
gostavam de dizer reservadamente, a jornalistas e a empresários, que o segundo
mandato de Dilma no Palácio do Planalto sepultaria
a sombra de seu padrinho político e antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Em julho, com o início oficial da campanha eleitoral, a
reeleição de Dilma mostrou-se mais complicada. As dificuldades da campanha se
agravaram com o mau momento da economia, e o PT começou a trabalhar com um
cenário provável de derrota de Dilma, fosse para Marina Silva (PSB) ou para
Aécio Neves (PSDB). Em meio ao desespero, a solução foi recorrer justamente a
ele, Lula, para bater pesado nos adversários do petismo e se transformar, pela
segunda vez, no fiador de sua afilhada.
Essa “dívida de gratidão” já seria suficiente para manter Lula como uma peça
importante do segundo mandato de Dilma. Há
ainda outro fator determinante na relação do padrinho com a afilhada. O petrolão colocou sob alerta a base de apoio ao governo no
Congresso. Vários políticos foram citados pelo ex-diretor e delator
Paulo Roberto Costa como beneficiários do esquema de desvios de verbas. Entre
eles, líderes de partidos. Já no início
de 2015, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deverá enviar ao
Supremo Tribunal Federal (STF) a lista
oficial com os pedidos de abertura de inquérito. A oposição planeja entrar com pedidos de
cassação de mandato assim que esses inquéritos forem instaurados.
Dilma terá de evitar a aproximação do escândalo da rampa do Planalto (há ministros e ex-ministros
citados) e o esfacelamento do bloco de apoio ao governo no
Legislativo. No limite, o risco máximo para Dilma é a oposição, liderada pelo PSDB,
reunir forças e estofo jurídico para um pedido de impeachment. Tanto esse
cenário causa temor a Dilma que, na última segunda-feira, dia 22, ela
declarou que “essa história de
impeachment não cabe no Brasil nesta década”, uma referência ao processo
que em 1992 afastou Fernando Collor.
É justamente esse contexto de turbulência e incerteza que duplica o poder de Lula. Dilma jamais foi uma grande articuladora política – nem fez questão de ser. O primeiro mandato dela apresentou uma série de trapalhadas nessa área e, a julgar pela dificuldade dela para montar o novo ministério, o segundo mandato tem tudo para repetir o desastre. O PMDB, parceiro preferencial do PT, está mais fortalecido por ter sido determinante, no início de dezembro, pela aprovação da Medida Provisória que, na prática, alterou a meta de superávit primário e salvou o balanço final das contas públicas. Os petistas, liderados por Lula, consideram ter sido fundamentais para a reeleição de Dilma, pois não pouparam esforços para defender sua candidatura nas ruas, nas redes sociais, nos sindicatos e nas empresas públicas. Em privado, líderes desses dois partidos reclamam do tratamento que receberam do Planalto nos últimos quatro anos e querem mais interlocução e mais espaço.
O problema central é que o petrolão atingiu em cheio PT e PMDB, além do PP, nos últimos anos uma espécie de sigla satélite do Planalto, disposta a tudo em troca de cargos e de verbas. Muitos dos nomes indicados por esses partidos para compor o novo governo podem estar, direta ou indiretamente, ligados ao esquema de corrupção. Começar um novo mandato e logo ser obrigada a demitir um ministro ou um chefe de estatal por causa de suspeitas de irregularidades mergulharia a nova gestão numa crise logo de cara.
As nomeações de Dilma podem travar ainda mais sua articulação política. Ciente das dificuldades dela e também de olho na possibilidade de ser o candidato do governo e do PT à sucessão em 2018, Lula passou o final de 2014 em atividade. Nos próximos meses, somente ele será capaz de acalmar os aliados, que ainda suspiram de saudades, e de manter os petistas sob controle. Lula esteve em Brasília para reuniões com a afilhada e interferiu de maneira decisiva na escolha de Joaquim Levy para a Fazenda. Divulgou um vídeo na internet dando conselhos a Dilma e dizendo que “o povo quer ser mais ouvido”. Essa deverá ser a maneira de Lula capitalizar a dependência que Dilma terá dele no início do novo mandato, ora se aproximando para defendê-la dos inimigos, ora passando “pitos” públicos nela, para manter certa distância regulamentar de um eventual fracasso de Dilma II.
É justamente esse contexto de turbulência e incerteza que duplica o poder de Lula. Dilma jamais foi uma grande articuladora política – nem fez questão de ser. O primeiro mandato dela apresentou uma série de trapalhadas nessa área e, a julgar pela dificuldade dela para montar o novo ministério, o segundo mandato tem tudo para repetir o desastre. O PMDB, parceiro preferencial do PT, está mais fortalecido por ter sido determinante, no início de dezembro, pela aprovação da Medida Provisória que, na prática, alterou a meta de superávit primário e salvou o balanço final das contas públicas. Os petistas, liderados por Lula, consideram ter sido fundamentais para a reeleição de Dilma, pois não pouparam esforços para defender sua candidatura nas ruas, nas redes sociais, nos sindicatos e nas empresas públicas. Em privado, líderes desses dois partidos reclamam do tratamento que receberam do Planalto nos últimos quatro anos e querem mais interlocução e mais espaço.
O problema central é que o petrolão atingiu em cheio PT e PMDB, além do PP, nos últimos anos uma espécie de sigla satélite do Planalto, disposta a tudo em troca de cargos e de verbas. Muitos dos nomes indicados por esses partidos para compor o novo governo podem estar, direta ou indiretamente, ligados ao esquema de corrupção. Começar um novo mandato e logo ser obrigada a demitir um ministro ou um chefe de estatal por causa de suspeitas de irregularidades mergulharia a nova gestão numa crise logo de cara.
As nomeações de Dilma podem travar ainda mais sua articulação política. Ciente das dificuldades dela e também de olho na possibilidade de ser o candidato do governo e do PT à sucessão em 2018, Lula passou o final de 2014 em atividade. Nos próximos meses, somente ele será capaz de acalmar os aliados, que ainda suspiram de saudades, e de manter os petistas sob controle. Lula esteve em Brasília para reuniões com a afilhada e interferiu de maneira decisiva na escolha de Joaquim Levy para a Fazenda. Divulgou um vídeo na internet dando conselhos a Dilma e dizendo que “o povo quer ser mais ouvido”. Essa deverá ser a maneira de Lula capitalizar a dependência que Dilma terá dele no início do novo mandato, ora se aproximando para defendê-la dos inimigos, ora passando “pitos” públicos nela, para manter certa distância regulamentar de um eventual fracasso de Dilma II.
Fonte: ÉPOCA On Line
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