O General Douglas Mac Arthur frente ao impasse na Coréia disse certa vez que, numa guerra não havia substituto para a
vitória. Mesmo achando temerária a sua ideia de travar uma guerra com a
China, eu acredito que a sua citação encerrava muita sabedoria.
Ninguém vai à
guerra senão para lograr obter uma paz em melhores condições, contudo, aqui, nós pegamos a mania de
empenhar as Forças Armadas em ações de polícia, sem lhes permitir fazer aquilo para o qual elas são projetadas, que é empenhar-se sempre
em ganhar todas as guerras!
Aqui, as autoridades civis que
pensam ser fácil designar quaisquer missões para as Forças Armadas normalmente não pensam
nas implicações e nos desdobramentos dessas missões. Dar a missão é
fácil, proporcionar os meios e o respaldo para o seu bom cumprimento é que são
elas.
Na verdade, a idéia é sempre a de... pega as Forças Armadas, bota lá...e eles se viram”!“
Os criminosos
aprenderam a lidar com as Forças Armadas no Alemão, conhecem suas
limitações (sobretudo as legais) e
hoje, num terreno de topografia mais plana e com muito mais becos e
edificações, não estão em nada
inclinados a ceder aquele poder que se alicerça no vício da nossa mesma boa
gente que clama por mais segurança nas ruas!
Hoje está claro que o
tráfico pretende resistir e até se arma com pequenas armas automáticas para
fustigar os militares no terreno, tornando sua ocupação uma tarefa
muito mais arriscada do que foi na Penha e no Alemão. O emprego de táticas guerrilheiras é hoje
algo muito mais claro e perigoso do que antes. A população civil é sua
refém. A idéia de empregar
tropas numa ocupação de área como essa pressupõe manter toda a extensão de
favelas sob vigilância, circular em toda parte, inspecionar pessoas,
veículos e eventualmente residências, deter, interagir com a população
dissuadindo pela presença ostensiva e atuante. Se isso não
ocorrer, a imagem da instituição militar
poderá ficar francamente comprometida.
O tráfico é uma atividade econômica clandestina que pode se habilmente
conduzida, ser desenvolvida em qualquer lugar; contudo a presença da força
militar numa determinada área retomada do tráfico implica que os criminosos não
mais possam exercer o mando sobre a população local.
Os criminosos precisam sentir que, com as Forças Armadas, as coisas não
correm frouxas.
A área de favelas posta sob controle
das Forças Armadas é muito grande e para assegurar que o tráfico atue e
os militares tem de agir de uma maneira muito mais presente que a
polícia. O emprego das Forças Armadas não pode admitir qualquer
coexistência de um Poder Paralelo; seja de dia ou de noite e em qualquer
parte da área ocupada.
O ideal seria que a mesma sociedade que cobra segurança ao Estado se conscientizasse que isso não é possível enquanto ela se mantiver consumindo drogas e fazendo do tráfico a atividade rentabilíssima que ele é;
O ideal seria que a mesma sociedade que cobra segurança ao Estado se conscientizasse que isso não é possível enquanto ela se mantiver consumindo drogas e fazendo do tráfico a atividade rentabilíssima que ele é;
contudo, enquanto
no Brasil essa atividade criminosa só cresça, ela sempre deverá ser
clandestina, subterrânea, discretíssima, que sinta e tema a força do
Estado. Aos bandidos que escaparam à prisão num primeiro
momento, ou aqueles que atuam no tráfico mas que não teriam sido presos ainda, deveria ser dado saber que, com as Forças Armadas na área, o
exercício da sua atividade ilícita só poderá leva-los para prisão ou para o
cemitério.
Numa operação como essa nas favelas da Maré, a credibilidade dos militares é posta em cheque em todo momento; e nenhum cidadão consciente deseja que as
Forças Armadas sejam empregadas apenas
para representar a desmoralizante figura de espantalho na horta.
Hoje pranteamos o
primeiro militar do Exército morto em serviço durante a ocupação e curiosamente, no
mesmo dia, a imagem emblemática de um
blindado dos fuzileiros, atacado a tiros, caído num valão se espalha pelas
redes sociais e pela mídia.
Seriam esses sinais de
fraqueza das forças armadas?
Claro que não! Se todos os traficantes mais perigosos com suas melhores armas, munições e explosivos pudessem ser concentrados numa única área qualquer, sem risco para a população civil, eles seriam varridos do mapa, mais rápido do que levamos para comer e lavar a louça no almoço de domingo. A questão quanto às Forças Armadas não é que lhes falte poderio, mas as táticas é que poderiam ser mais adequadas ao fim que se busca alcançar! Mesmo com dimensões menores do que as desejáveis para um país do tamanho do Brasil, as nossas Forças Armadas tem a quantidade de soldados necessária, tem armas, aparato logístico para manter esse contingente operando naquele terreno e dispõe de soldados treinados para a missão de segurança interna; porém a tarefa de mandar soldados para as comunidades do Rio é muitíssimo mais delicada do que empregá-los sob manto da ONU na pacificação do Haiti.
No Caribe, a situação com certeza é mais tensa, pois se trata de uma terra estrangeira, porém os adversários todos tem outras feições e falam outra língua. Nas favelas de Porto Príncipe, qualquer cidadão sabe que deve respeitar os militares das forças armadas brasileiras em serviço e acatar suas solicitações. Lá, os inimigos sabem que estão lidando com uma tropa bem armada, a qual, investida de autoridade policial pode prender e que não hesitará em responder com fogo aos eventuais disparos dirigidos contra seus soldados.
Aqui, embora estejamos operando num meio urbano conhecido e aparentemente amistoso, o inimigo não tem cara, fala a mesma língua e ainda pode buscar, de forma muitíssimo mais traiçoeira, atacar os militares e se escudar na população civil.
Claro que não! Se todos os traficantes mais perigosos com suas melhores armas, munições e explosivos pudessem ser concentrados numa única área qualquer, sem risco para a população civil, eles seriam varridos do mapa, mais rápido do que levamos para comer e lavar a louça no almoço de domingo. A questão quanto às Forças Armadas não é que lhes falte poderio, mas as táticas é que poderiam ser mais adequadas ao fim que se busca alcançar! Mesmo com dimensões menores do que as desejáveis para um país do tamanho do Brasil, as nossas Forças Armadas tem a quantidade de soldados necessária, tem armas, aparato logístico para manter esse contingente operando naquele terreno e dispõe de soldados treinados para a missão de segurança interna; porém a tarefa de mandar soldados para as comunidades do Rio é muitíssimo mais delicada do que empregá-los sob manto da ONU na pacificação do Haiti.
No Caribe, a situação com certeza é mais tensa, pois se trata de uma terra estrangeira, porém os adversários todos tem outras feições e falam outra língua. Nas favelas de Porto Príncipe, qualquer cidadão sabe que deve respeitar os militares das forças armadas brasileiras em serviço e acatar suas solicitações. Lá, os inimigos sabem que estão lidando com uma tropa bem armada, a qual, investida de autoridade policial pode prender e que não hesitará em responder com fogo aos eventuais disparos dirigidos contra seus soldados.
Aqui, embora estejamos operando num meio urbano conhecido e aparentemente amistoso, o inimigo não tem cara, fala a mesma língua e ainda pode buscar, de forma muitíssimo mais traiçoeira, atacar os militares e se escudar na população civil.
O problema está em colocar
as Forças Armadas nesses locais, literalmente "secando gelo".
Quando se optou pelo concurso dos militares, a eles deveria ser permitido ir além daquilo que hoje é feito pela polícia militar. Não estou aventando procedimentos autoritários ou de tortura, mas de identificação, credenciamento, busca residencial etc. Esse "softpower" empregado hoje só faz estabilizar, mas não nos deixa nem mais perto de "ganhar a guerra" contra essa ainda incipiente narco-guerrilha.
Voltando à lição do General americano, não se deveria desgastar as Forças Armadas numa situação de impasse
a qual elas não podem empregar as táticas
necessárias para vencer e nem recuar!
Tomemos muito cuidado pois o Exército, os
Fuzileiros (e as Forças Armadas no sentido
geral) não podem ser desacreditados por bandidos (que como combatentes
são muito fracos), frente ao enorme contingente da opinião pública que
francamente as apóia nas operações de
combate à criminalidade nas favelas do Rio.
Por: Vinícius Domingues
Cavalcante é Diretor da Associação
Brasileira de Profissionais de Segurança - ABSEG (www.abseg.com.br) e membro do Conselho de Segurança da Associação
Comercial do Rio de Janeiro.
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