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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

“Os dias de ira” e outras seis notas de Carlos Brickmann



Quando o governo chileno de Salvador Allende mais precisava de tranquilidade, um movimento que queria radicalizá-lo, o MIR, comandado por um sobrinho do presidente, ajudou a dificultar o diálogo com a oposição. No Brasil, cabos e sargentos favoráveis ao presidente João Goulart, liderados pelo cabo Anselmo, mais tarde identificado como agente duplo, rebelaram-se e dinamitaram as pontes entre governo e Forças Armadas (na ocasião, Luiz Carlos Prestes, aliado de Goulart e dirigente maior do Partido Comunista, proclamava: “já estamos no poder, só nos falta tomar o governo”).
 
A história se repete com outro governo de esquerda: no momento em que Lula e Dilma procuram conciliar, seus aliados petroleiros entram em greve. Não é questão de saber o que é que pretendem; mas o que conseguem é enfraquecer, por questões outras, o governo que apoiam.

Agora, somemos: à greve dos petroleiros segue-se a greve dos caminhoneiros ─ e, sejam quais forem suas reivindicações, geram instabilidade no país. Há a manifestação Fora Dilma já marcada para o dia 15. A primavera promete ser quente. E hoje começa para valer o processo contra Eduardo Cunha na Comissão de Ética.

Há três possibilidades: a abertura do processo é rejeitada, ou é aceita e derrubada no voto, ou é aceita e aprovada. Nas duas primeiras hipóteses, a opinião pública sentirá o inequívoco cheiro de acordo mútuo, Cunha salva Dilma, Dilma salva Cunha; na terceira, Eduardo Cunha se sentirá impelido a revidar, encaminhando o impeachment, com greves na rua e manifestações. 

Prepare-se.

Bola de cristal
Há chances de Cunha ficar na Presidência da Câmara. Mas são escassas.

Guerra à pobreza
Lula, o ex-ministro Antônio Palocci, a ex-ministra Erenice Guerra e o governador mineiro Fernando Pimentel, também ex-ministro, não nasceram em berço de ouro. Mas não podem se queixar: de acordo com dados do Coaf, Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda, os quatro movimentaram perto de R$ 300 milhões em suas contas bancárias, nos últimos anos. As informações oficiais foram enviadas à CPI do BNDES. Lula, diz o Coaf, movimentou R$ 52,3 milhões em quatro anos, de abril de 2011 a maio de 2015, entre contas pessoais e de sua empresa de palestras, a LILS. Palocci movimentou muito mais: R$ 216 milhões entre 2008 e 2015, boa parte por sua empresa, a Projeto Consultoria. Fernando Pimentel foi bem mais modesto: R$ 3,1 milhões entre 2009 e 2014. E Erenice atingiu R$ 26,3 milhões de 2008 a 2015.

Ao chegar ao poder, o PT declarou guerra à pobreza. Foi bem sucedido.

Os bons amigos
Da ótima coluna de Aziz Ahmed, de O Povo, do Rio: Pedro Bifano, irmão do deputado João Bifano Magalhães (PMDB-MG), foi designado diretor da Cemig Overseas estranha subsidiária da empresa mineira de eletricidade, com sede em Barcelona.
Salário: 35 mil euros, ou seja, R$ 147 mil. Mais de cinco vezes o salário de Dilma. Bifano foi diretor dos Correios, demitido por Lula quando presidente. A Cemig está na área de influência do governador Fernando Pimentel.

Os bons partidos
Corte de despesas? É preciso cortar na carne? Sim ─ mas o corte é na carne, não na despesa pública com os partidos políticos. Neste ano, foram R$ 608 milhões gastos com o Fundo Partidário (distribuído entre todos os partidos, tenham ou não votos). No ano que vem, a quantia chegará pertinho do bilhão. 

Com esse dinheiro, os partidos se dispensam de buscar apoio entre os eleitores: despesas de aluguel, telefone, aviões, jantares, recepções e pessoal são pagas pelo fundo ─ quer dizer, por nós.  E o dinheiro é farto: em 2014, quando o volume de dinheiro não chegava a um terço disso, o deputado Levy Fidelix, do PRTB, lamentava-se de ter de manter o partido com R$ 100 mil mensais, que chamava de “merreca”.

Economizar, jamais
Corte de despesas? É preciso cortar na carne? Mas isso, naturalmente, não vale para todos. Neste ano, até setembro,
a Câmara dos Deputados gastou R$ 3,6 bilhões ─ ou, fazendo o cálculo individual, sete milhões de reais por parlamentar. Cada Excelência gastou por mês algo como R$ 710 mil, para amenizar seus sacrifícios pessoais ao servir à população que o elegeu. Os cálculos são do ótimo portal Contas Abertas, que busca a transparência nas contas públicas. Economia?

Em 2014, neste mesmo período, as despesas tinham sido de
R$ 3,25 bilhões. O aumento foi de pouco mais de 10%. Mas que é um bilhão para quem tem tantos?

Bons companheiros
Dois adversários de longa data, o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, e o apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, fizeram as pazes, ao menos por algum tempo. Ambos concordam em apoiar o retorno da CPMF, proposta pelo governo, desde que as igrejas fiquem isentas da cobrança. 

A aproximação entre Macedo e Santiago está documentada: há a foto do encontro da presidente Dilma com o senador Marcelo Crivella, sobrinho do bispo Edir Macedo e dirigente do PRB, partido ligado à Universal, e o deputado Francisco Floriano, muito ligado ao apóstolo Valdemiro Santiago. 

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

CARLOS BRICKMANN - http://www.brickmann.com.br/


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