A presidente Dilma fez bem em ir ao Congresso apresentar sua mensagem
para o novo ano legislativo. Aliás, o que não faz sentido é o ritual
brasileiro em que o ministro da Casa Civil entrega um discurso do
presidente. Muito melhor é o do presidencialismo americano, em que o
chefe do governo vai ao Congresso, faz seu balanço e fala de projetos.
As vaias contra a CPMF foram menos importante do que o ato em si de a
presidente ir ao Congresso, que foi a proposta do ex-ministro Delfim
Netto. Ela foi e falou sobre algumas reformas necessárias, mas gastou
muito mais tempo em, de novo, elogiar o próprio governo com fatos e
números que se distanciam da realidade. A oportunidade poderia ter sido
mais bem aproveitada.
Este vai ser um ano difícil no conflito entre os dois poderes, como
foi o ano passado. O governo está contando com receitas que dependem de
aprovação de medidas controversas, como a CPMF. E o mais importante,
este será o ano da tramitação do pedido de impeachment, o que vai elevar
muito a tensão entre Congresso e executivo. Isso é mais um motivo que
prova o acerto da presidente de ter ido ler a sua mensagem neste segundo
ano da 55ª legislatura.
Nesta época de aperto de todos os cofres, ela lembrou que a CPMF terá
uma parte para os estados. E para contornar a dificuldade de aprovar a
DRU (Desvinculação de Receitas da União) ela disse que o governo proporá
a mesma desvinculação para estados e municípios. Não chegou a sugerir
acabar com as vinculações, mas tentou ter mais flexibilidade.
Ela levou adiante a proposta de flexibilizar a meta fiscal. Em má
hora o governo pensa nisso. A ideia é criar limite para os gastos, mas
ter metas mutantes, que acomodem perda de receita. Dilma continua
afirmando que no ano passado foi feito um grande esforço fiscal.
Alguém
precisa apresentá-la ao resultado divulgado pelo Tesouro: 2015 terminou
com um rombo de proporções olímpicas, R$ 115 bilhões. Na hora de
apresentar a suposta diminuição das despesas, ela propôs que fosse
excluído o que o governo gastou com a conta de energia. Se isso fosse
possível, os brasileiros adorariam usar o mesmo truque e provar que
estão com os orçamentos equilibrados. O que pesou no ano passado foi
realmente a conta de luz, e o tarifaço foi ela que fez, com sua
contraditória política energética.
A presidente quis convencer também que reduziu a carga tributária.
Foi quando ouviu outras vaias. Excluiu as receitas obtidas com a
Previdência, FGTS e o Sistema S para dizer que carga tributária federal
caiu de 16% para 13,5% do PIB. O governo está, na verdade, elevando os
impostos. A arrecadação está caindo por causa da recessão.
Ela exaltou vários programas que na verdade encolheram em 2015 como o
Minha Casa, Minha Vida e o Pronatec. E apresentou como vitória o
Programa de Proteção ao Emprego que teria preservado 41 mil empregos, no
ano em que o número de desempregados aumentou em um milhão e meio.
Dilma defendeu a reforma da Previdência, mas o projeto ainda não está
pronto. Ela tem razão quando diz que a reforma não reduzirá os gastos
no atual governo, mas sim nos próximos, porque seu efeito é sempre
prolongado no tempo. Tempo que se perdeu nos últimos 13 anos em que o
tema não foi tratado, ou até mais tempo ainda. O ex-presidente Fernando
Henrique encaminhou uma reforma que teve a feroz oposição do PT e acabou
descaracterizada no Congresso, que derrubou a idade mínima.
Na melhor frase do discurso, a presidente disse que “crise é um
momento muito doloroso para ser desperdiçado”. E desta forma ela fez a
defesa de reformas que equilibrem as contas públicas. Faltou na sua fala
a capacidade de mobilização e convencimento para enfrentar a crise
grave como é e transformá-la em uma oportunidade de mudança. Até quando
falou na tragédia do vírus zika faltaram à presidente palavras que
ajudassem a superar o enorme fosso que existe hoje no sistema político
brasileiro.
Quem fez um apelo pela união em torno de projetos de interesse
nacional foi o presidente do Senado, Renan Calheiros, que, em poucos
minutos, defendeu a independência do Banco Central e mudança da
regulação que hoje paralisa o investimento no setor de petróleo.
Fonte: Coluna Míriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo
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