A produção industrial terminou o ano de 2015 em um nível 17% mais
baixo que em 2010. A política ao setor não só fracassou, como também
contribuiu para o rombo nas contas públicas. Os relatórios de
estimativas de renúncia fiscal, divulgados em cada início de ano pela
Receita, revelam que mais de R$ 130 bilhões podem ter sido gastos para
estimular o setor. É difícil dizer quanto custou, mas é fácil saber que
deu errado.
Os números vermelhos da indústria se repetiram nos últimos anos, mas
em 2015 foi recorde em todas as séries: 8,3% de queda. O Boletim Focus,
com previsões do mercado financeiro para 2016, prevê uma nova contração
este ano, de 4%. E há números mais pessimistas, como da consultoria
Rosenberg Associados, que estima uma contração de 4,5%.
Os dados ficam piores quando se sabe que o governo abriu mão de
bilhões em receitas para estimular o setor. Ou seja, ao mesmo tempo em
que a indústria desabou mais de 8% no ano passado, as desonerações
contribuíram para que o Governo Federal fechasse o ano com déficit
primário de 1,9% do PIB e entrasse no atual labirinto fiscal. O ministro Armando Monteiro Neto me disse em entrevista na Globonews
que agora não há mais espaço para aquele tipo de política industrial e
que a melhor forma de tentar estimular a indústria no momento é com
acordos comerciais que abram mercados. Quando perguntei se a política
anterior estava errada, ele admitiu apenas que foi excessiva. Isso,
outras pessoas do governo têm admitido: o erro teria sido na dose.
Aqui neste espaço sempre critiquei a política de escolher “campeões” e
de beneficiar empresas e setores com renúncias fiscais e subsídios
implícitos e explícitos. A discussão se o erro foi da política em si —
que é a minha convicção — ou apenas de dose vai continuar, mas os dados
favorecem quem critica o que foi feito porque não apenas a produção
industrial despencou como foi aberto um rombo sem solução nas contas
públicas. O “Valor Econômico” publicou um levantamento que mostra que
apenas o subsídio via BNDES para as empresas, seja da indústria ou de
outros setores, vai custar ao todo R$ 323 bilhões e pesará sobre os
contribuintes até 2060. Apenas o que foi transferido aos empresários
entre 2008 e 2014.
Questionada sobre o quanto foi gasto em desonerações ao setor
industrial, a Receita Federal respondeu que não tem essa informação
pronta. Já o economista e gerente de estudos técnicos do Sindifisco
(Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil)
Álvaro Luchiezi Jr. explica que é possível saber o quanto foi estimado
com esse tipo de gasto nos Demonstrativos de Benefícios Tributários que o
órgão emite no início de cada ano. Somando o que foi previsto ao setor
industrial, a conta chega a R$ 135 bilhões entre 2011 e 2015. — Esse demonstrativo não é um valor exato, apenas o quanto a Receita
estimou que iria acontecer. De qualquer forma, as desonerações tiveram
um custo fiscal elevadíssimo. A folha de pagamentos, por exemplo, teve
custo de R$ 22 bilhões no ano passado e não estimulou o crescimento.
Pelo contrário, aumentou o déficit e diminuiu a confiança — afirmou.
O economista Marcos Lisboa, que foi secretário de política econômica
do Ministério da Fazenda no primeiro mandato do presidente Lula e hoje é
presidente do Insper, há muito tempo vem chamando atenção para o fato
de o país não conseguir medir com clareza os resultados, e os custos, de
vários programas de incentivo ao crescimento. — A conta foi ficando bem confusa, com as diversas medidas tomadas e
os criativos critérios contábeis que foram sendo adotados. Desde o ano
passado há um esforço da Fazenda para acertar os números. Várias
estimativas já foram divulgadas, por exemplo, sobre o custo do PSI —
disse Lisboa.
Para 2016, a estimativa da Receita é de mais R$ 32,2 bilhões de
gastos com desonerações ao setor industrial, um pouco menos que os R$
33,4 bi estimados para o ano passado. A principal despesa vem com o
Simples Nacional, com custo estimado de R$ 16,8 bilhões. Depois, vem o
gasto com a Zona Franca de Manaus, com mais R$ 5 bi. Ao setor
automotivo, há a rubrica de R$ 1,47 bilhão e mais R$ 748 milhões para o
Inovar Auto. Muito foi feito para proteger a indústria, mas estava
errado, e por isso não funcionou e custou caro.
Fonte: Coluna da Míriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo - O Globo
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