Lula tem saudade daqueles tempos em que sua polícia colaborou para quebrar as pernas do DEM, por exemplo.
Bom era prender Daniel Dantas, José Roberto Arruda, Carlinhos Cachoeira, destruindo, de quebra, Demóstenes Torres. Aí era o caso até de cantar o Hino Nacional.
Mas eis que essa Polícia Federal decide atuar com isenção partidária, não perguntando qual é a filiação do investigado. Aí Lula passou a ver uma ameaça ao estado de direito
É evidente
que José Eduardo Cardozo foi um péssimo ministro da Justiça. Basta ver
as questões que estavam afeitas à sua área. Só pioraram ao longo do
tempo — ok, reconheço que esse não é um privilégio só dele. Mais de uma
vez , teve um comportamento detestável com o governo de São Paulo, por
exemplo, que pertence a um partido adversário. Então não me peçam
lágrimas por ele. Mas não é menos evidente, também, que foi derrubado
por Luiz Inácio Lula da Silva.
Se essa é a
última concessão de Dilma para tentar impedir que o cerco se feche em
torno de Lula ou se é apenas a primeira, isso é o que vamos ver. Uma
coisa é certa: desde que teve início a Operação Lava Jato e, depois, a
Zelotes, que investiga Luís Cláudio, o filho mais novo do chefão
petista, a carga do ex-presidente sobre a sua sucessora se tornou quase
insuportável.
Lula nunca
gostou de Cardozo. Durante o mensalão, achou que o então deputado se
empenhou pouco na defesa dos companheiros. Mais: à época, o ministro
defenestrado alinhou-se com aqueles que pregavam a renovação do partido.
O Apedeuta é homem de ódios eternos quando a sua cidadela está em
disputa. Ele pode fechar acordo com José Sarney, Fernando Collor e com o
capeta, caso estes se dignem a fazer a genuflexão. Adversários
convertidos viram amigos eternos. Já os amigos que ousam contestá-lo vão
para o inferno.
O Poderoso
Chefão já derrubou três ministros de Dilma. Não entro no mérito da
competência de cada um, mas é fato que Aloizio Mercadante (ex-Casa
Civil, hoje Educação); Joaquim Levy (Fazenda) e agora Cardozo caíram
pelas mãos de Lula. Se vocês olharem bem, nos três casos, eram o seu
interesse pessoal e as necessidades do partido que estavam em pauta. A
esta altura, o homem quer que o Brasil se dane.
Mas o tal
Wellington César tem como interferir na Polícia Federal? Em tese, não.
Na prática, vamos ver. Desde logo, ele pode substituir, se quiser,
Leandro Daiello, diretor-geral da PF. O cargo é de confiança do
ministro. Ainda assim, a autonomia fica tecnicamente preservada. Nem o
Número 1 da instituição tem poder para mandar um policial parar de fazer
uma investigação.
Ocorre que
isso que se escreve aqui não ilumina os corredores, não é? Aliás,
sabemos, as coisas são diferentes. Até porque a gente se obriga a ser
lógico: se nada houvesse a fazer, então substituir o ministro para quê? A
demissão de Cardozo da Justiça só foi exigida por Lula porque ele
acredita que a PF pode voltar a funcionar mais ou menos nos moldes de
quando ele foi presidente.
E a gente
sabe que raramente se viu tamanha politização do órgão. Lula tem claro
que, na sua gestão, os alvos preferenciais da Polícia Federal eram
adversários do governo e do petismo. E aí eles batiam no peito e se
orgulhavam de uma Polícia Federal que não poupava ninguém. A eficiência
do órgão chegou a fazer parte de horário político e de campanha
eleitoral.
Lula tem
saudade daqueles tempos em que sua Polícia colaborou para quebrar as
pernas do DEM, por exemplo. Bom era prender Daniel Dantas, José Roberto
Arruda, Carlinhos Cachoeira, destruindo, de quebra, Demóstenes Torres.
Aí era o caso até de cantar o Hino Nacional. Mas eis que essa Polícia
Federal decide atuar com isenção partidária, não perguntando qual é a
filiação do investigado. Aí Lula passou a ver uma ameaça ao Estado de
Direito.
O corolário é
o seguinte: quando a PF algemava os inimigos de Lula, estávamos diante
da evidência de que, “nestepaiz”, os ricos também choram. Agora que a PF
prende petistas, mesmo sem algemas, então é porque existe no país um
Estado policial. Segundo o preclaro Rui Falcão, setores da PF e do MPF
foram “capturados” pela direita…
É evidente
que a troca de guarda no Ministério da Justiça obedece aos piores
propósitos. Ou, então, fazê-la pra quê? Dilma não queria que Cardozo
saísse; Cardozo não queria sair. E, no entanto, isso aconteceu. Tenho fé que o tiro acabe saindo pela culatra. Afinal, a PF tem todo o direito, dadas as circunstâncias, de se sentir sob ameaça.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
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