Lula faltou ao ato
público de 1º de Maio, em São Paulo, não por que
estivesse rouco, quase sem voz. Mas porque Dilma
não gostou do que ele pretendia falar. Foi por isso que Dilma falou
sozinha para menos de 50 mil militantes de movimentos sociais arrebanhados pela
Central Única dos Trabalhadores.
O que Lula pretendia dizer
poderia ter sido interpretado como uma admissão prévia de que o impeachment de
Dilma é jogo jogado. Como de
resto é. Ele se valeria do discurso do golpe para
anunciar que o PT e seus aliados irão desde já para a oposição ao governo
Temer, e se oferecer, se fosse o caso, como candidato a presidente em
2018.
Dilma
discordou da linha do discurso de Lula. Ela
não quer dar o impeachment como liquidado. Acha que liquidado ele está na
Comissão Especial formada por 21 senadores que na próxima sexta-feira deverá aprovar a admissibilidade do
impeachment, remetendo o processo para votação em plenário no dia 11 ou 12
do mês corrente.
Reconhece que o plenário também
aprovará a abertura do processo contra ela. Mas imagina que ainda terá chances de retomar o
cargo, mesmo se afastada dele por um prazo máximo de 180 dias. Tudo irá
depender, conforme os cálculos de Dilma, do placar no plenário e, depois, do
desempenho dos primeiros meses do governo Temer.
São 81 os senadores. Até ontem, pelo menos, Dilma achava que poderia contar apenas com 21 votos para
barrar a admissibilidade do impeachment no plenário. Mas tinha esperança
de amealhar mais alguns na votação final, lá por setembro, quando precisará de 27 votos para vencer. Temer espera derrotá-la desde já com 60 votos
contra 21.
Uma
fora do cargo, e mesmo sabendo que dificilmente será absolvida pelo Senado
quando for julgada finalmente, Dilma terá tempo para tentar reescrever a história dos seus governos
malsucedidos. Sua defesa final seria menos técnica e mais política. E ela
poderia construir uma narrativa para opor-se à narrativa que por ora predomina. É nisso que ela pensa quando nega a
hipótese de renunciar, e quando teima em dizer que lutará até o fim.
A
renúncia esvaziaria o discurso de que ela foi vítima de um golpe parlamentar. E
não combinaria com a imagem que ela tanto preza de mulher de coração valente,
capaz de enfrentar toda a sorte de sofrimentos sem se acovardar.
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