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terça-feira, 3 de maio de 2016

Dilma (“coração valente”) escolhe o seu destino



Lula faltou ao ato público de 1º de Maio, em São Paulo, não por que estivesse rouco, quase sem voz. Mas porque Dilma não gostou do que ele pretendia falar. Foi por isso que Dilma falou sozinha para menos de 50 mil militantes de movimentos sociais arrebanhados pela Central Única dos Trabalhadores.

O que Lula pretendia dizer poderia ter sido interpretado como uma admissão prévia de que o impeachment de Dilma é jogo jogado. Como de resto é. Ele se valeria do discurso do golpe para anunciar que o PT e seus aliados irão desde já para a oposição ao governo Temer, e se oferecer, se fosse o caso, como candidato a presidente em 2018.

Dilma discordou da linha do discurso de Lula. Ela não quer dar o impeachment como liquidado. Acha que liquidado ele está na Comissão Especial formada por 21 senadores que na próxima sexta-feira deverá aprovar a admissibilidade do impeachment, remetendo o processo para votação em plenário no dia 11 ou 12 do mês corrente.

Reconhece que o plenário também aprovará a abertura do processo contra ela. Mas imagina que ainda terá chances de retomar o cargo, mesmo se afastada dele por um prazo máximo de 180 dias. Tudo irá depender, conforme os cálculos de Dilma, do placar no plenário e, depois, do desempenho dos primeiros meses do governo Temer.  

São 81 os senadores. Até ontem, pelo menos, Dilma achava que poderia contar apenas com 21 votos para barrar a admissibilidade do impeachment no plenário. Mas tinha esperança de amealhar mais alguns na votação final, lá por setembro, quando precisará de 27 votos para vencer. Temer espera derrotá-la desde já com 60 votos contra 21.

Uma fora do cargo, e mesmo sabendo que dificilmente será absolvida pelo Senado quando for julgada finalmente, Dilma terá tempo para tentar reescrever a história dos seus governos malsucedidos. Sua defesa final seria menos técnica e mais política. E ela poderia construir uma narrativa para opor-se à narrativa que por ora predomina. É nisso que ela pensa quando nega a hipótese de renunciar, e quando teima em dizer que lutará até o fim. 

A renúncia esvaziaria o discurso de que ela foi vítima de um golpe parlamentar. E não combinaria com a imagem que ela tanto preza de mulher de coração valente, capaz de enfrentar toda a sorte de sofrimentos sem se acovardar.

Fonte: Blog do Noblat


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