É
impossível para Lula e sua turma conseguirem o que estão querendo por qualquer
meio que esteja fora da lei
Lá vai o governo de Dilma Rousseff caminhando para
o seu fim a cada dia que passa, e enquanto não se chegar ao desfecho o público em
geral vai ficar com a atenção dividida entre as questões práticas que realmente
interessam ─ como será, e o que vai
fazer, o novo governo? ─ e a barulheira de algo que
corre o risco de ser chamado “luta de
resistência”. Resistência a
quê, mais exatamente? O ato de resistir, para ser de algum interesse
concreto, normalmente requer que o resistente tenha alguma chance real de mudar
a situação que se recusa a aceitar. Se não for assim, é
apenas vaia de arquibancada ─ a
torcida que perde fica xingando o juiz, a diretoria do time, o técnico, os
jogadores, a bola, e no fim o resultado marcado no placar continua o mesmo.
Dilma, o ex-presidente
Lula, o PT e a esquerda inconformada com o impeachment passam os dias
correndo daqui para lá à procura de um portento qualquer, possivelmente
sobrenatural, para poderem continuar mandando. Mas essas coisas em geral não
existem no mundo da realidade. Para terem uma perspectiva séria
de evitar o que vem por aí, Lula, Dilma e o seu sistema
precisariam,
obrigatoriamente e com urgência, oferecer
à população um mínimo de atrativos coerentes em favor dos seus desejos. E aí é que está: não têm nada de
útil a oferecer. Sua gaveta está vazia.
Falta gente, para começar. Lula e
o governo que neste momento caminha para o cemitério não juntam multidão na rua,
como os seus adversários foram capazes de juntar. Não se espera, por exemplo, mais de 1 milhão de pessoas na Avenida
Paulista gritando “Fica Dilma!”, ou “Fora Temer!”. Faltam senadores para absolver Dilma da
deposição, assim como
faltaram deputados para impedir que fosse julgada no Senado ─ ela tinha mais ou menos 100 votos do seu lado quando a Câmara
começou a decidir o caso, acabou
com pouco mais que isso quando a votação se encerrou. Falta um plano
concreto, imediato e compreensível para melhorar qualquer coisa que a população
quer que melhore já. Não têm, nem Lula nem, menos ainda, Dilma, mais que 20% nas
pesquisas de opinião. Não têm um “programa
de oposição”, como imaginam neste momento de anarquia mental em que estão
dentro e fora do governo ao mesmo tempo.
Será
cômodo dizer, daqui a pouco, que há 10 milhões de desempregados; o difícil será
convencer o eleitorado de que Dilma e o PT não têm nada a ver com isso,
ou com os hospitais em estado de
calamidade, a recessão, as placas de “vende-se” e “aluga-se”, e por aí afora.
O ex-presidente, ao mesmo tempo,
quer que acreditem nele quando diz que está enfrentando uma “quadrilha” política ─ mas de que jeito, se passou os últimos treze anos vivendo
como sócio dessa mesma “quadrilha”, que levou para dentro do governo e à qual
até outro dia, num hotel de
Brasília, estava tentando agradar com oferta de empregos?
O
governo tem oferecido, isto sim, algo parecido a um projeto de guerra civil ─ ou pelo menos é o que vem dizendo em público, com ameaças de sabotagem
econômica, greve geral, “parar o país” etc., se for seguido o único caminho legal que existe para a
substituição de Dilma, ou seja, a posse do vice-presidente Michel Temer. O PT já decidiu que o governo a ser formado
por decisão do Congresso Nacional e do STF é “ilegal”; promete
que não vai dar “um dia de sossego” a
quem ficar na cadeira de Dilma.
Lula e seu partido vão mesmo
tentar seguir por aí? Pode ser, mas não se sabe se terão os meios reais de fazer o
que propõem. Além do mais, quantos votos pode
render uma coisa dessas? Têm sido ofertados, também, episódios de cuspe;
não está claro se isso será promovido à categoria de “ato político de resistência”. Sobram tentativas de fazer com que o Brasil
receba punições “internacionais”, possivelmente de entidades invisíveis como Unasul, Parlasul, ou coisas
assim ─ mas quantos eleitores de carne e osso estariam preocupados com
isso?
Querem que a Operação Lava Jato “pegue”
os que estão indo para o governo. E as bombas que podem estourar contra Lula, Dilma e os
amigos? Só seria interessante se a Justiça parasse as investigações
contra eles e começasse a investigar só os outros. Ou estão esperando uma anistia geral?
A questão real, para Lula e todo o seu
universo, é clara: é impossível
conseguir o que estão querendo por qualquer meio que esteja fora da lei. Dentro da lei a
única saída disponível é recuperar o governo pelo voto, e a próxima
oportunidade para isso é a eleição presidencial de 2018. O resto é muita
conversa de “resistência” – e nada
mais.
Por: J. R. Guzzo – Coluna Augusto Nunes
Nenhum comentário:
Postar um comentário