Dilma faria um bem imenso ao país se renunciasse já ao mandato.
Ela sabe que não há volta. De resto, o PT nada tem a dizer a não ser o sempre: “é golpe!”
Acabou!
Treze anos,
quatro meses e 11 dias! Esse é quanto durou o PT no poder. É pouco? Não!
Foi o partido que mais tempo ficou no comando da máquina federal desde a
redemocratização do Brasil. Aliás, excetuando-se os regimes
ditatoriais, foi a legenda mais duradoura do período republicano. Assim,
meus caros, se vocês acham que o país tem algumas mazelas a reparar,
convém indagar também a responsabilidade do PT.
Embora o
afastamento, em princípio, seja temporário, é evidente que a presidente
Dilma não volta ao Palácio do Planalto, salvo um cataclismo do governo
Michel Temer, o que, parece-me, nem os petistas conseguirão provocar. A
repulsa ao petismo é de tal sorte grande que, no raiar da manhã,
ouviram-se rojões de comemoração.
Atenção! Na
jornada desta quarta e quinta, bastavam, de fato, 22 votos para afastar a
presidente. Por quê? O relatório do senador Antonio Anastasia
(PSDB-MG), recomendado a abertura do processo, precisava ser aprovado
por maioria simples para que Dilma tivesse de deixar o Palácio por um
período máximo de 180 dias. O que é a maioria simples? Metade mais um
dos senadores presentes desde que garantido o quórum de metade mais um
do total de parlamentares. Ou por outra: a votação só pode acontecer com
42 presentes, bastando, portanto, os 22 votos para afastar a
mandatária.
Mas o que se
viu foi casa cheia. Votaram 78 senadores: 55 a favor do afastamento, 22
contra e uma abstenção de praxe: a do presidente da Casa, Renan
Calheiros. Atingiu-se, pois, já na fase da admissibilidade, a maioria
qualificada para a aprovação do impeachment: são necessários 54 votos
para a condenação.
Alguém
poderia dizer: “Mas apenas um a mais? Se dois senadores retirarem o
apoio, então não há impeachment?” Bem, a conta não é tão simples assim.
Notem que esse é o placar que se tem antes de o futuro governo se
estabelecer, quando algumas reticências ainda estão no ar. Parece
improvável que os 55 de agora mudem de ideia. Daí ser a votação desta
quarta e quinta, na prática, um julgamento antecipado.
Dilma gravou
um pronunciamento à nação, que será divulgado nas redes sociais. Vai
insistir na tese impossível do golpe — aquela mesmo que seduziu apenas
os já convertidos. E que não tem como ser explicada por um critério
mínimo de razoabilidade. Tal conversa
mole é juridicamente insustentável e politicamente absurda, uma vez que
um presidente da República jamais será deposto se contar com o apoio da
maioria da população e do Parlamento. No presidencialismo à brasileira,
só cai quem perde as condições de governabilidade. E Dilma, por óbvio,
as perdeu.
Assim, com
um pouco de amor pelo país, a petista deveria, desde logo, renunciar ao
mandato. Dilma não está numa prova de resistência; Dilma não está num
desafio em que se testa a sua resiliência; Dilma não está numa
competição consigo mesma para avaliar a sua disposição ao sofrimento.
Toda essa
disposição subjetiva que buscaria evidenciar a têmpera única de seu
caráter tem, a essa altura, uma vítima: o povo brasileiro. Ora, ela fará
a narrativa do golpe de qualquer modo, não é? Melhor que o faça com o
país livre de sua sombra. Quando, finalmente, for condenada pelo Senado,
ela perderá o foro especial por prerrogativa de função. Poderia nos
poupar a todos dessa pantomima lamentável.
É uma pena que não saiba morrer o que viver não soube.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
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