Em entrevista, o homem sugere que sua política econômica estaria à esquerda do PT... E o que pretende quando diz que Trump não é de direita?
Escrevi um pequeno post endossando uma consideração de um amigo médico, Felipe Nogueira, segundo quem é Ciro Gomes, não Jair Bolsonaro, o candidato a ser o Donald Trump brasileiro. A observação é arguta e absolutamente compatível com a reveladora entrevista publicada ontem pela Folha. Aliás, convém que aqueles que consideram que o homem é apenas louco comecem a desconfiar de que ele também tem método.
Começo por essa questão momentosa porque
vejo, no Brasil, alguns tontinhos de direita à procura do “nosso Trump”.
Pois é… Mas o que fez o já decadente Trump presidente dos EUA? Eu
resumiria assim: fastio de amplas camadas com a prevalência da agenda
politicamente correta que Obama abraçou, sobretudo no segundo mandato,
e, atenção!, a mobilização daqueles que não se julgam beneficiados pelo
mundo moderno. Supor que Bolsonaro é o Trump só porque é o mais
reacionário que a política brasileira pode oferecer é evidência de
análise rasa.
Até porque, resta provado, e Ciro acerta
ao fazer esta consideração à Folha, Trump é um populista, sim, mas será
mesmo “de direita”, da “direita liberal”? Acho que não. Tanto é assim
que esquerdistas brasileiros viram com bons olhos quando o Malucão
anunciou que pretendem proteger as empresas americanas da concorrência
para preservar empregos.
Ciro tem aquele jeito de doidão, reitero, mas
tem método. Afirmou sobre o presidente americano: “Por que o Trump é de
direita? Populista, sim, ok. Mas a vitória dele foi importante. Ele
representa a negação da perversão neoliberal. E, no Brasil, o problema
não é de direita e esquerda. A política econômica do Lula é igual à do
FHC”.
E, claro, ele elogiou também o que
considera a franqueza do americano, similar, então, à sua: “Em tempos
bicudos, as pessoas procuram franqueza”. Antes ainda: “[Uma
especialista] sempre me estimulou a manter minha linguagem, meu sotaque,
meu jeito de ser. Só tenho como ferramenta minha língua”. Quando o
pré-candidato diz que receberia os homens de Moro a bala caso tentassem
prendê-lo de modo injusto, não está falando sem querer. Ele sabe que os
fanáticos do morismo não votarão num candidato de esquerda.
E é esse o espaço que está buscando
consolidar, junto com Lula, com quem ele anuncia uma aliança. É claro
que não pode se descolar também do eleitorado de centro e de
centro-direita. Notem: ele receberia os homens de Moro a bala, mas,
sozinho, o sujeito se comporta como polícia, Ministério Público e juiz.
Atira contra tudo e todos. Fica-se com a impressão de que resta um
honesto na República. Adivinhem quem.
Ele está se posicionando para a guerra.
Tanto é que a maior saraivada para o prefeito João Doria, de São Paulo
(PSDB), em quem vê um potencial candidato. Então pespega: é farsante;
deixou um rastro de irregularidades na Embratur; fez propaganda que
estimulou o turismo sexual e ficou milionário com a ajuda de governos
tucanos. Levou um troco: tem de cuidar de sua saúde mental; não tem
moral para falar em defesa das mulheres porque disse, em 2002, que a
função da sua ex-mulher era dormir com ele; exibe “habitual destempero” e
“tradicional desequilíbrio”.
Que fique claro: Ciro conta também comos contra-ataques, como contava Trump.
Aliança tácita
A aliança tácita com Lula está dada. Quando ele diz que não se lança candidato se o outro o fizer, deixa claro que estão juntos. Com acerto, supõe que o petista tenderia a polarizar o debate, e ele, Ciro, seria condenado à irrelevância como alternativa de esquerda. Faz sentido? Faz. Lula vai ser candidato? Depende da Justiça. A suposição de que estarão juntos em 2018, em qualquer cenário, é muito razoável. Ainda que o PT viesse a lançar um qualquer (se não for Lula), coisa de que duvido um pouco, a aliança tácita seria mantida.
A aliança tácita com Lula está dada. Quando ele diz que não se lança candidato se o outro o fizer, deixa claro que estão juntos. Com acerto, supõe que o petista tenderia a polarizar o debate, e ele, Ciro, seria condenado à irrelevância como alternativa de esquerda. Faz sentido? Faz. Lula vai ser candidato? Depende da Justiça. A suposição de que estarão juntos em 2018, em qualquer cenário, é muito razoável. Ainda que o PT viesse a lançar um qualquer (se não for Lula), coisa de que duvido um pouco, a aliança tácita seria mantida.
Para encerrar: na entrevista à Folha,
Ciro deixa claro que considera neoliberais tanto a as opções econômicas
do PSDB como as do PT. É, colegas, em economia, o homem pretende ser a
verdadeira esquerda. Viva a Terra Arrasada de Rodrigo Janot, em que ninguém presta; em que todos são culpados. Ele nos expõe a perigos como esse.
Um Ciro com tal discurso é, arremate-se, mais uma obra da direita xucra.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
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