Os brasileiros se sentem no momento sem chão. Perplexos.
Dias atrás viviam tempos de retomada. A inflação refluía. Bem como os
juros. A atividade econômica ensaiava uma volta, ainda que tímida. O
desemprego caía. As reformas, trabalhista e da previdência, estavam
encaminhadas.
As expectativas de mercado eram as melhores possíveis. A Nação
começava finalmente a entrar nos trilhos após um longo e tenebroso
período nas mãos petistas. Como que por uma hecatombe, tudo mudou. Ou
quase. A delação dos irmãos Batista impôs uma nova agenda de crise.
Parou o ciclo virtuoso. Embalados pela ideia do quanto pior, melhor,
tubarões da ladroagem, oportunistas da pior espécie e arruaceiros de
plantão aproveitaram para sabotar o País. Nas ruas, a baderna tomou
conta.
Os agitadores promoveram quebra-quebra, tocaram fogo em ministérios,
invadiram prédios públicos, impuseram o caos, numa selvageria espantosa.
Movimentos ditos de esquerda, como CUT e MST, braços radicais
vinculados ao Partido dos Trabalhadores, financiados durante anos por
subvenções federais nas gestões Dilma e Lula, empunharam suas
bandeirolas vermelhas e palavras de ordem inflamadas para reclamarem,
indignados, dos erros de Temer.
Indignação que faltou quando seus próprios líderes deixaram jorrar
bilhões em desvios da Petrobrás, em esquemas de Mensalão e para a
corrupção institucionalizada. No Congresso, protagonizando espetáculos
ainda mais deprimentes, parlamentares de oposição tentaram impor na
marra a tese de só votar projetos de interesse nacional após a retirada
de cena do presidente.
Como se a discussão de mudanças vitais e urgentes para todos os
cidadãos pudesse ser usada como moeda de troca, na base da chantagem.
Estavam se lixando para o melhor em prol do Brasil. Os espertalhões
planejaram travar a pauta de qualquer maneira até a obtenção do intento
almejado. A retaliação como forma de gerar mais incerteza política,
econômica e administrativa movia a patota.
Ao fim e ao cabo a minoria ruidosa e ensandecida dos petistas
pretende impor – em afronta aberta à Constituição – eleições diretas
antecipadas para, se possível, recolocar seu timoneiro Lula de volta no
Planalto, mudando o curso dos julgamentos que devem levá-lo à cadeia.
Suprema desfaçatez, mesmo a deposta Dilma, denunciada por caixa dois,
entre outros crimes, e acusada de receber milhões dos irmãos Batista,
apelou à Justiça para reassumir o cargo. Diz o provérbio que quando o
caldo entorna, os ratos são os primeiros a aparecer.
No Senado, o congressista Randolfe Rodrigues deu chiliques. [o mais incrível é que aquele senador dá seus faniquitos e não aparece nenhum parlamentar para denunciar o chiliquento por QUEBRA DE DECORO;
o mesmo não acontece que o deputado JAIR MESSIAS BOLSONARO, diz que uma determinada parlamentar não merece ser estuprada, vem toda uma corja com pretensões a punir aquele deputado.
Apesar dos latidos da corja não influírem em nada, tanto que a caravana do JAIR BOLSONARO segue impávida e resoluta rumo a presidência da República por vontade popular a ser expressa, por maioria absoluta, nas próximas eleições.] Queria ir
às vias de fato com os demais, evitar a leitura de um relatório da
comissão que propunha mudanças na Lei Trabalhista. Seus colegas de
parlamento, os petistas Lindbergh Farias e Gleisi Hoffmann, investigados
por improbidade e comprometidos até o pescoço na Lava-Jato, usaram do
mesmo expediente e aos berros, provocando e sem senso de
responsabilidade, tumultuaram o quanto podiam. Hoje são esses mesmos
aloprados que querem, a qualquer custo, assumir o poder para manter
funcionando as maracutaias de outros carnavais.
A forma como o sistema político fará uma reciclagem é a grande
discussão que se segue. O presidente Temer prevaricou. Recebeu na calada
da noite um empresário e escutou dele relatos absurdos de práticas de
gatunagem. Deve ser investigado e, se comprovado seu envolvimento,
punido na letra da lei. Isso não necessariamente significa condená-lo
antecipadamente.
Apeá-lo do posto na marra e colocar na vaga um aventureiro, pretenso
“salvador da pátria”, como muitos arvoram o papel, pode, ao invés de
sanar a crise, agravá-la. Não devemos ser indulgentes com o malfeito,
mas também não podemos ser alheios aos interesses ocultos. E eles são
muitos. Dizem que Temer perdeu as condições de governabilidade. E é bem
possível que sim.
Mas a dúvida maior é quem hoje, nesse carcomido cenário político que
aí está, reúne as condições para tamanha tarefa? A conversa gravada em
áudio está decerto repleta de trucagens. Na denúncia, a principal prova
não foi sequer periciada. A frase que induziria ao entendimento de uma
anuência do presidente para com um crime não está no contexto. As
chances de adulteração não estão descartadas. E nesse caldeirão de
incertezas, o presidente recusou renunciar.
Sabe que um processo de impeachment se alongaria por meses e mesmo a
alternativa de cassação de sua chapa (ao lado de Dilma), por questões
alheias a essas que estão pesando contra si, poderia ser contestada no
Supremo, arrastando o assunto por anos – enquanto a Nação sangra sem
trégua. Temer ainda tenta convencer os compatriotas, mesmo aliados, que
possui condições de seguir no cargo.
Foi de fato o fiador das reformas, como hábil negociador e conhecido
traquejo político. Seus eventuais substitutos, boa parte deles cogitados
a varejo nas rodas de Brasília, ou descartam a possibilidade ou estão
com algum nó para desatar. Rodrigo Maia, o presidente da Câmara, e
natural sucessor, responde a três inquéritos e seria, como Temer, um
presidente no cargo submetido a investigações.
O jurista Nelson Jobim, que também disse não, já foi conselheiro de
empresas flagradas na Lava-Jato e é visto como preposto de Lula, o que
gera ressalvas a seu nome. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles,
teve passagem como funcionário da J&F e muitos poderão levantar a
suspeita de que os irmãos Batista fizeram a delação para derrubar um
governo e colocar no lugar alguém de sua confiança. E por aí vai a
novela que celebra mais um triste capítulo de nossa história. Nesse
momento delicado o Congresso tem que fazer sua parte e os brasileiros
precisam estar atentos ao risco de virarem massa de manobra, seguindo
como cordeiros para o curral de criminosos contumazes.
Fonte: José Carlos Marques, diretor editorial da Editora Três - Isto É
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