Articula-se no Congresso a retirada a família Batista do comando das empresas
Na
última segunda-feira, Joesley Batista foi jantar em Denver, capital do
Colorado (EUA), com banqueiros e sócios minoritários do conglomerado
JBS, um dos maiores produtores mundiais de carne. Era
um bilionário acossado por dificuldades políticas, jurídicas e
policiais, mas seus convidados estavam preocupados mesmo é com a asfixia
financeira do grupo, que obtém 92,6% de sua receita (US$ 42 bilhões) em
negócios fora do Brasil.
Para investidores, JBS
agora é sinônimo de US$ 12 bilhões em dívidas, dos quais US$ 5 bilhões
vencendo até 2018. Um curto-circuito nesse conglomerado pode afetar
bancos de São Paulo a Nova York e cerca de 150 mil fornecedores e
revendedores. Na última semana, depois de Joesley
confessar pagamentos de propinas a políticos, destacando o presidente
Michel Temer e os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, o grupo JBS
perdeu cerca de US$ 300 milhões por dia em valor de mercado. As
revelações semearam dúvidas sobre a solidez dos balanços, que
alavancaram o endividamento do grupo na última década.
A
crise mal começou. No Congresso arma-se uma intervenção do Estado (27%
do capital do grupo é controlado pelo BNDES e pela Caixa). O objetivo é
retirar a família Batista (dona de 44% do capital) do comando das
empresas. É uma operação delicada. O êxito depende da efetiva
demonstração de defesa do interesse público, sem traço de vingança
política.
"Trata-se de salvar a empresa e os
empregos, não os donos" — explica o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES).
"Quem usou a empresa para cometer crimes não pode continuar a
administrá-la."
A intervenção para impedir abuso
de poder e conflito de interesses é prevista na lei das sociedades
anônimas (Artigos 115, 117 e 123). Hoje, os Batista desfrutam de uma situação aparentemente mais confortável do que as empresas JBS. Sexta-feira
passada, em Washington, enquanto negociavam com o Departamento de
Justiça a delação de crimes cometidos nos EUA, eram denunciados à
comissão de fiscalização (SEC, na sigla em inglês). Uma boa fatia do
patrimônio dos Batista deverá ser consumida em novos processos, na
Europa e nos EUA.
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