Em momentos como os que estamos vivendo, em que a legitimidade do
presidente da República é posta em questionamento, equívocos,
provocações e tentativas de colocar mais lenha na fogueira são comuns. Vários
exemplos se sucedem nos últimos dias, o mais alarmante a convocação das
Forças Armadas para garantir a lei e a ordem pública, em vez da Força
Nacional, como pediu o presidente da Câmara Rodrigo Maia. O ministro da
Defesa explicou depois que a Força Nacional não tinha contingente
suficiente para manter a ordem.
Mas, mesmo essa medida do
presidente da República, que mais parece ter sido tomada como uma
demonstração de que ainda está no comando da situação, não justifica a
reação radicalizada da oposição, especialmente do PT e movimentos
sociais a ele ligados, que quiseram transformá-la na decretação de
Estado de Sítio ou de Emergência, situações nas quais há suspensão de
direitos. A GLO, como é referida nos meios militares, é uma
operação conduzida pelas Forças Armadas de forma episódica, em que os
militares agem em uma área restrita e por tempo determinado. Esse tipo
de operação é permitida quando “agentes de perturbação da ordem” colocam
em risco a integridade da população e o funcionamento das instituições.
Foi
o que aconteceu ontem em Brasília, quando, a pretexto de protestar
contra as reformas e pedir a saída do presidente Temer, o vandalismo
tomou conta de partes da cidade, com prédios públicos sendo depredados e
até incendiados, e motoristas foram atacados a pedradas nas principais
vias da capital. Em várias ocasiões essa operação foi feita em
comunidades dominadas pelo tráfico no Rio de Janeiro e no Espírito
Santo, com a greve da Polícia Militar. Na reunião da ONU sobre meio
ambiente, a Rio + 20, em 2012; na Copa das Confederações da FIFA e na
visita do Papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude, em
2013; na Copa do Mundo 2014 e nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Portanto,
não se justifica a tentativa oposicionista de criar uma crise
institucional além da que já vivemos, e não são aceitáveis ações de
vândalos para atingir resultados políticos numa democracia.
Curioso
é que essa fúria oposicionista mostra-se artificial, uma busca de criar
uma crise política maior do que já temos, pois o Comandante do
Exército, General Vilas Boas, revelou recentemente em entrevista às
páginas amarelas da Veja que, durante o processo de impeachment da
ex-presidente Dilma houve consultas informais ao Exército sobre a
decretação de Estado de Emergência. A manobra foi denunciada na
época pelo senador Ronaldo Caiado, e o governo recebeu o recado de que o
Exército não aceitaria participar dessa manobra. Outra clara provocação
foi a Polícia Federal intimar por telefone para prestar depoimento o
presidente Michel Temer, no inquérito aberto no Supremo Tribunal
Federal.
Um equívoco que teve conseqüências graves foi a
divulgação de diversos áudios de diálogos de pessoas que estavam sendo
investigadas sobre temas que nada tinham a ver com os processos em que
são acusadas. Uma delas provocou um dano colateral grave na liberdade de
expressão, ao atingir o jornalista Reinaldo Azevedo. Sua
conversa com Andrea Neves, irmã do senador Aécio Neves, revelou críticas
pessoais sobre uma reportagem da revista Veja, onde trabalhava, o que
acabou inviabilizando sua permanência na revista. As explicações da
Polícia Federal e do Ministério Público são no sentido de que houve um
erro na divulgação indiscriminada das conversas, mas há a desconfiança
de que o jornalista teria sido vítima de uma vingança, pois vinha
criticando diversos aspectos da atuação do Ministério Público na
Operação Lava-Jato.
Se confirmada, essa atitude é uma grave agressão à liberdade de informação que não pode ser tolerada numa democracia.
Fonte: Merval Pereira - O Globo
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