Nova procuradora-geral fez sua primeira
intervenção no STF
O
memorial que escreveu sobre o caso de quarta-feira permitiu estrategicamente a
Raquel Dodge, de
alguma forma, intervir por sua primeira vez em uma sessão do Supremo Tribunal
Federal (STF). Foi uma maneira de marcar sua presença. Como foi essa
intervenção? Que estilo próprio anuncia?
Primeiro:
sua
intervenção foi literalmente de duas páginas. Curta. Mesmo assim, como diria Fernando Pessoa,
nada faltou ou excedeu. Curta e objetiva, como poderiam ser os votos dos
ministros na maioria dos casos.
Ou seja, o
culpado por sessões intermináveis não é a TV Justiça. É
o modo como os ministros usam a TV Justiça e estruturam seus votos. O memorial imediatamente envelheceu os votos
recheados de doutrinas e doutrinações.
Segundo: sua brevidade objetiva só foi possível porque descartou
atalhos fora da questão central. Não se aproveitou para falar de outros
assuntos, ou avançar posições em futuros julgamentos.
Não
tratou da legalidade da delação premiada. Não era pertinente.
Não
tratou da legalidade de provas. Não era pertinente.
Não
julgou os procedimentos do Ministério Público. Não era pertinente.
O
memorial envelheceu a estratégia de usar a sessão como palco midiático. Não
é. Não aproveitou decidir sobre A, para falar de B. Tratou apenas de se
posicionar diante da questão vital: se o Supremo Tribunal Federal deve
ou não encaminhar a denúncia logo à Câmara. Ou pode e deve fazer qualquer
avaliação prévia.
Disse
não. Mande-se logo.
A
Constituição é rigorosa. As etapas estão bem definidas. Ponto final.
Terceiro:
não
personalizou a questão. Não
ameaçou ninguém. Não fez insinuações. Não usou de sutilezas. Não desqualificou
comportamentos. Não deu interpretações próprias sobre o passado nem avançou o
futuro. Não fez elucubrações.
No fundo,
disse, sem dizer, que a questão a decidir não era sobre Rodrigo Janot,
Marcello Miller, Sérgio Machado, Michel Temer, Aécio Neves etc. Disse, sem
dizer, que se trata apenas de interpretar a Constituição. Sem fulanizações.
O cidadão não espera do Supremo a imaginação de uma
Agatha Christie.É difícil analisar comportamentos em apenas uma
oportunidade. O memorial, tecnicamente, em geral, é curto e objetivo. Ao
mesmo tempo que protege e revela, mantém sombras. Raquel Dodge começou a se
desfazer enquanto mistério.
Bom para
a democracia.
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