Reza
a lenda que nossas instituições de controle estão funcionando. Segundo
esse argumento, a melhor prova do vigor institucional da democracia
brasileira seria a Operação Lava Jato, o processo que está levando a
classe política a responder por seus atos. Não é isso, no
entanto, que a evidência mostra. Em meses recentes, as revelações de
juízes e procuradores descortinaram um quadro mais completo.
Sem
dúvida, houve enorme avanço institucional nos últimos 30 anos de vida
democrática, mas o sistema brasileiro de pesos e contrapesos não
funciona bem. O Poder Executivo tem sua própria liderança na
cúpula do Judiciário. Os Tribunais de Contas podem ser cooptados ou
comprados. As comissões parlamentares de inquérito são inócuas, e os
Tribunais Eleitorais que deveriam julgar as finanças de campanha são
peças de ficção.
O trabalho do Ministério Público depende de quem
ocupa a chefia da pasta e um ministro da Justiça empedernido pode
afetar em cheio a capacidade investigativa da Polícia Federal.
Congressistas podem pôr as leis do país à venda e, quando o fazem,
operam em conluio com o Executivo, distribuindo orçamentos e
oportunidades de negócio ilegais. Tais mecanismos subvertem e
enfraquecem a democracia brasileira. O resultado é uma situação na qual
os cidadãos votam em eleições livres e competitivas, a imprensa reporta
sem censura e, mesmo quando um general boquirroto expressa sua vocação
golpista sem reprimenda do governo de plantão, não há motivo para alguém
temer o retorno de uma ditadura. Mas, ao mesmo tempo, as regras do jogo
democrático enfrentam volumes colossais de disfunção.
O problema
é que, sem pesos e contrapesos, qualquer democracia definha. Quando
faltam controles eficientes, o resultado é um governo de quadrilhas,
sejam elas de esquerda, centro ou direita. É o império dos grupos de
interesse. As revelações mais recentes mostram que a democracia
brasileira está mais longe do que se pensava de Portugal e Espanha, dois
países que conseguiram abandonar seu passado de autoritarismo,
corrupção alta e políticas públicas de qualidade baixa. Estamos mais
perto do que achávamos de Rússia e Turquia, onde o entulho autoritário
contamina o que lá existe de democracia.
É hora de reconhecer o
problema de nossas instituições de controle. Frágeis, elas têm futuro
incerto. A Operação Lava Jato não é regra, mas exceção. A impunidade
continua sendo a moeda corrente da política brasileira. Hoje, nada
garante que o futuro será melhor. A coalizão do atraso —nos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, nas indústrias e nos serviços—
continua pisando forte para manter tudo como está.
Fonte: Folha de S. Paulo - Matias Spektor
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