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quinta-feira, 28 de setembro de 2017

''Mas Maluf já não estava preso?'

A  pergunta veio de uma amiga, assustada com o fato que o Supremo Tribunal Federal segue analisando recursos do deputado federal de São Paulo.

Paulo Maluf é um dos grandes comunicadores da história recente do país. Calhou de ser um dos mais políticos mais corruptos também, o que – para muitos eleitores de São Paulo – é apenas um detalhe.  Questionado sobre suas contas no exterior, que receberam milhões desviados dos cofres públicos de São Paulo, repetiu por sua própria boca ou pela de seus assessores uma frase que se tornou icônica: ''Paulo Maluf não tem nem nunca teve conta no exterior''.

Não importa que aparecessem testemunhas, documentos estrangeiros, batom na cueca, foto de saque em caixa eletrônico fazendo sinal da vitória. Por anos, entregou a mesma frase com tanta frequência que, por vezes, parecia rir junto dos repórteres diante daquela nonsense situação. Em outras, incorporava tão bem o papel de acusado injustamente que, para aqueles que curtem um autoengano, entregava a encomenda.

Uma delas ocorreu no período em que ficou preso na carceragem da Polícia Federal na capital paulista em entre setembro e outubro de 2005. Na época, chorou em entrevista à rádio Jovem Pan. Disse que esperava ser recompensado ''no outro mundo'', que não merecia aquele sofrimento e que era uma ''preso político''. Ficou 40 dias no xilindró.

Geddel Vieira Lima também chorou quando foi preso. Em julho deste ano, o ''querido amigo'' de Michel Temer foi levado para trás das grades por suspeita de atrapalhar investigações da Operação Cui Bono, desdobramento da Lava Jato, que apura fraudes na liberação de créditos da Caixa Econômica Federal. Geddel teve um cargo no banco durante o governo Dilma e teria se beneficiado de esquema envolvendo grandes empresários. 

Depois de alguns dias no presídio da Papuda, foi liberado pela Justiça para cumprir prisão domiciliar. Depois, acabou preso novamente no dia 8 de setembro por conta dos R$ 51 milhões encontrados no apartamento da alegria em Salvador. Na primeira prisão, assegurou ao magistrado que analisava sua soltura que ''com toda a força da alma'' não faria nada para leva-lo novamente à cadeia, para evitar o constrangimento pelo qual estava passado. E chorou.

Como aqui já disse, essa é uma parte da história que me fascina. Não me importa se as lágrimas dos políticos são falsas ou verdadeiras, mas qual tipo de psicopatia está relacionada a alguém que comete crimes em série e não encara as consequências de cabeça erguida? Como alguém que ocupa cargos importantes e tem sido sistematicamente envolvido em casos de corrupção, pode apelar para um expediente tão patético?

Talvez esteja exatamente nisso sua resistência e durabilidade. Afinal, em uma guerra nuclear, apenas os animais mais adaptados, que fazem o que for preciso ser feito, sobrevivem ao final. Maluf é talvez o animal político que mais roubou para si mesmo na história recente do país e segue pimpão. Perto dele, Geddel é um guri.

Em 2004, quando a imprensa noticiou que a Suíça enviara provas de suas contas, informando sobre um depósito de US$ 154 milhões, Dr. Paulo não se deu por rogado: ''Vou mandar providenciar num cartório em São Paulo uma escritura pública de cessão de direitos. Tanto não tenho contas, que vou passar uma escritura. O primeiro que encontrar a conta, o dinheiro é dele''. Gênio. O dinheiro vem sendo repatriado. Mas Maluf continuou se elegendo, mantido por liminares, apesar da Lei da Ficha Limpa.

Após ter sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal, em maio deste ano, a mais de sete anos pelo crime de lavagem de dinheiro, o deputado federal recorreu. O ministro Edson Fachin votou a favor de manter a condenação e Marco Aurélio Mello pediu vista do processo nesta terça (26), adiando a decisão. Se confirmada a condenação, ele pode ir para regime fechado ou contar com algum benefício dada a sua idade (86 anos).

Na última eleição, Maluf foi o oitavo candidato a deputado federal mais votado em São Paulo, com 250.296 eleitores depositando nele sua confiança.  [Maluf é o único político que não precisa fazer campanha eleitoral para ser eleito, bastando apenas informar aos seus eleitores que é candidato.] Parte do eleitorado brasileiro já provou que escolhe heróis em todos os partidos políticos, da esquerda à direita, e segue com eles até o fim – independente do que aconteça. Basta que esses heróis reafirmem suas narrativas com um mínimo de convicção.

Convicção que vem de treino, mil vezes em frente ao espelho se for preciso, para que, diante de provas, eles possam repetir, sem piscar, acreditando no que dizem e não se importando com o que o mundo inteiro pense. Mesmo que isso soe ridículo.
Triste um povo que precisa de heróis.

Fonte: Blog do Sakamoto 

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