A semana passada terminou com sinais ainda mais
contraditórios do que o normal nesta conjuntura brasileira. A bolsa só
não bateu seu recorde histórico por causa do Irma, mas tem subido com os
nossos furacões. As análises equivocadas no mercado financeiro são de
que o autogrampo de Joesley enfraquece a PGR e que isso fortalece o
presidente Temer, o que pode levar à aprovação de reformas.
A economia só vai se fortalecer de forma sustentada quando o país
tiver um quadro político estável decorrente do sucesso no combate à
corrupção. E um governante tão dependente, para permanecer no poder, dos
lobbies e grupos de interesse não fará reformas consistentes. Ainda
andamos sobre os escombros produzidos por essa luta intensa na qual o
Ministério Público e o Judiciário estão no papel central, além da
Polícia Federal.
Era para ser uma semana política enforcada, com o feriado da
independência na quinta-feira, mas foi mais uma de revelações sobre o
tamanho do fosso em que nos encontramos. Um apartamento com R$ 51
milhões com as digitais do ex-ministro de Lula e Temer, Geddel Vieira
Lima, o notório Geddel; a divulgação de conversa sórdida do empresário
Joesley Batista; o depoimento de Antonio Palocci contra os
ex-presidentes Lula e Dilma foram alguns dos espantos da semana. Como
começou-se a revisão do acordo do JBS, após a divulgação dessa conversa
entre Joesley e seu executivo Ricardo Saud, algumas análises sustentaram
que Temer, acusado com base nas delações dos dois, estaria mais forte.
Não há o que fortaleça o presidente Temer e seu grupo político, nem
mesmo um suposto enfraquecimento da Procuradoria-Geral da República. A
PGR errou, como disse aqui neste espaço desde o início do acordo com o
JBS, ao aceitar a imposição dos delatores pela imunidade penal. Quando
Joesley disse na gravação o “nóis não vai ser preso”, era a explicitação
do que já se sabia, mas veio no meio de outras revelações que abriram
para o Ministério Público a possibilidade de fazer a cirurgia
necessária: rever os benefícios e manter as provas que ele entregou.
Isso não atinge o instituto da delação porque, por mais injusto que
tenha sido o acordo costurado por Rodrigo Janot com Joesley e Wesley
Batista, ele seria mantido. Quem rompeu as cláusulas foi Joesley.
Saíram certos bons indicadores e de novo o equívoco visitou as
análises com a tese de que está ocorrendo um descolamento entre política
e economia. Ainda há um longo caminho antes que se possa comemorar a
recuperação do PIB perdido nos últimos dois anos e meio. Há melhoras
pontuais e isso é um respiro saudável, mas o Brasil perdeu 10% do PIB
per capita na pior queda que já tivemos. Nos últimos dias, o IBGE
divulgou que o segundo trimestre teve alta de 0,2%, a produção
industrial começou o segundo semestre com crescimento de 0,8%, a
inflação caiu ainda mais do que se esperava, com a deflação de
alimentos, e os juros foram cortados para 8,25%. Os sinais são de que a
inflação ficará muito baixa em setembro, apesar das altas sequenciais da
gasolina, e os juros vão a 7,5% e podem, no fim do ciclo, chegar à casa
dos seis. Fez bem o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, ao
ignorar as sugestões feitas por diversos economistas de que divulgasse
logo que assumiu uma alteração da meta para mais. Hoje, o problema é o
risco de a inflação ficar abaixo do piso. Os sinais bons, contudo, não
garantem a recuperação do PIB perdido, nem a redução do déficit fiscal
do governo.
O depoimento de Palocci atinge diretamente a viabilidade da
candidatura de Lula para 2018 e talvez leve o partido a pensar no plano B
a ser construído em torno de Fernando Haddad. Mas a troca de nomes
significará um ajuste nas ideias do PT? Pelo visto, não. Os outros
partidos vivem também seus dilemas. A incerteza em relação ao ano que
vem permanece e com isso um horizonte de aprovação das reformas fica
mais imprevisível. Tudo isso faz com que a recuperação econômica esteja ocorrendo em
terreno minado. As comemorações do mercado financeiro e as apostas de
que as reformas tornam-se mais viáveis são derivadas de erros de
análise.
Fonte: Coluna da Míriam Leitão - O Globo - Com Com Alvaro Gribel, de São Paulo
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