O Supremo Tribunal Federal está no centro da crise
política brasileira, e agora não mais como instância mediadora, mas como
parte dela. O ministro Gilmar Mendes já demonstrou ontem o tom que
levará ao plenário hoje, quando será discutido o pedido da defesa do
presidente Michel Temer de suspeição do Procurador-Geral da República,
Rodrigo Janot, e de suspensão de uma eventual segunda denúncia contra o
presidente baseada nas delações premiadas de Joesley Batista e do
doleiro Lucio Funaro.
Ontem, o ministro Gilmar, que tem
denunciado irregularidades na delação dos donos da J&F e quer anular
como prova a gravação que Joesley fez com Temer no Palácio Jaburu,
[anulação que ocorrendo representará apenas e tão somente o cumprimento do CPP e da Lei das ORCRIM; prevalecendo a validade das chamadas provas - que não são, devido sua obtenção ser resultado de ato ilícito - os SUPREMOS MINISTROS estarão violando as leis brasileiras.] classificou de “gestão de bêbado” o período em que Janot esteve à frente
da Procuradoria-Geral da República e disse que o Supremo está “numa
situação delicadíssima. O STF está enfrentando um quadro de vexame
institucional.”
Ele está certo de que o ex-procurador Marcelo
Miller, que ontem teve seu registro de advogado suspenso pela OAB, atuou
ajudando a delação premiada dos executivos da J&F e constrangeu o
ministro Luiz Facchin, relator da Lava Jato, que deu o aval para as
delações da JBS que se mostraram fraudulentas no mínimo por omissão de
fatos importantes: “Nesse caso, imagino seu drama pessoal. Ter sido
ludibridado por Miller ‘et caterva’ deve impor um constrangimento
pessoal muito grande (…) certamente tão poucas pessoas na história do
STF correm o risco de ver o seu nome e o da própria Corte conspurcado
por decisões que depois vão se revelar equivocadas”, disse Gilmar em uma
reunião da 2ª Turma.”
Fachin não entrou no clima de confronto
proposto por Gilmar, disse que sua alma “está em paz” e reiterou o voto
que proferiu “com base naquilo que entendo que é a prova dos autos”. O
escritório Trench, Rossi & Watanabe, que demitiu o ex-procurador
Marcelo Miller pouco depois de tê-lo contratado, mantém uma associação
com o escritório norte-americano Baker & Mackenzie, considerado o
maior do mundo, há 50 anos. Está colaborando com as investigações de
maneira espontânea, certamente orientado pelos americanos, entregando
todos os documentos que uma auditoria interna reuniu, demonstrando que o
ex-procurador já atuava no caso JBS antes mesmo de pedir demissão da
Procuradoria.
Um e-mail trocado entre Marcello Miller e a
advogada Esther Flesch – que também foi demitida - indica que o
escritório Trench, Rossi e Watanabe pagou uma passagem aérea entre Rio e
São Paulo para Miller enquanto ele ainda era procurador, o que
caracteriza a prestação de serviço. O contrato entre o
escritório Trench, Rossi e Watanabe e a J&F foi assinado no dia 6 de
março, um dia antes de Joesley Batista gravar Michel Temer no Palácio
Jaburu. O ministro Gilmar Mendes quer demonstrar que o procurador
Marcelo Miller atuou ativamente na delação premiada de Joesley, o que,
na sua concepção, invalidaria a gravação, mesmo que Rodrigo Janot não
soubesse, no que o ministro não acredita.
Ele chegou a insinuar
que o método usado contra o presidente Temer foi o mesmo das gravações
do ex-senador Delcídio do Amaral e de Sérgio Machado, presidente da
Transpetro, sugerindo que esse era um método utilizado por Marcelo
Miller no Ministério Público. O que está por trás da importância
da reunião de hoje do STF é justamente essa disputa para a anulação das
provas apresentadas pela Procuradoria-Geral da República contra o
presidente Temer e o senador do PSDB Aécio Neves. Não parece haver uma
maioria disposta a tomar essa decisão, mas a cada prova que surge contra
o procurador Marcelo Miller, mais o ministro Gilmar Mendes reafirma sua
suspeita de que tudo não passou de uma armação contra o presidente, e
considera que o STF está sofrendo um desgaste institucional com a crise
provocada pelas irregularidades registradas na delação premiada da JBS.
Se
o clima da sessão de hoje for o que está se armando, porém, sairá
prejudicado o próprio Supremo Tribunal Federal como instituição que
assegura a democracia brasileira.
Fonte: Coluna do Merval Pereira - O Globo
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quarta-feira, 13 de setembro de 2017
Parte da crise
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