Moro não dá respostas sobre
diálogos, mas ganha o jogo no drible
Ministro deixa dúvidas no ar e adota o diversionismo como estratégia no Senado
Na sétima hora de depoimento sobre sua troca de mensagens com
procuradores, Sergio Moro se disse perplexo por “ter de falar tanto
sobre esse tema”. O ministro insistiu em questionar a veracidade dos
diálogos e se desviou das suspeitas de que sua atuação na Lava Jato foi
parcial. Ganhou o jogo no drible. O ex-juiz não saiu do Senado com uma sentença absolutória, mas também
não caiu diante das perguntas dos parlamentares. Moro aceitou deixar no
ar questionamentos sobre as conversas publicadas pelo site The Intercept
e se refugiou atrás de dúvidas lançadas por ele mesmo.
O ministro ficou na retranca. Acusou a publicação de sensacionalismo 52
vezes e repetiu que não reconhecia a veracidade dos diálogos. No
entanto, não ofereceu qualquer indício de que as conversas reproduzidas
sejam falsas ou deturpadas. [quem tem que provar que as supostas conversas são verdadeiras é quem as divulga, publica;
o ex-juiz, não está sendo acusado de nada e mesmo que estivesse lhe cabe o direito de questionar a autenticidade das conversas, não sendo aceitável que lhe exijam a apresentação de não provas. O ônus da prova cabe a quem acusa.
Ainda que o conteúdo das conversas seja verdadeiro - tudo indica que não é - a forma criminosa como foi obtido lhe tira a validade como prova.]
Embora o assunto em debate fosse sua atuação como julgador, Moro abriu
mão de apresentar argumentos para defender que sua parceria com os
procuradores era legal e ética. Ele disse mais de 30 vezes que aquilo
era algo normal, “absolutamente normal”, “absurdamente normal”. Não era,
e o ex-juiz não explicou por que discutia táticas de acusação com o
Ministério Público. Moro buscou abrigo nas provas e em resultados incontestáveis obtidos
pela Lava Jato. A certa altura, precisou lembrar aos parlamentares que
“agentes políticos inescrupulosos haviam capturado a Petrobras”. Era
verdade, mas também diversionismo. Ninguém estava ali para fazer um
balanço da operação.
A sessão evidenciou que há uma base política favorável ao ex-juiz no
Senado. Ele recebeu elogios, embora tenha estranhado algumas críticas.
Quando Fabiano Contarato (Rede) enalteceu a Lava Jato, mas censurou seu
comportamento, Moro reclamou que aquela defesa era “um tanto quanto
peculiar”. O ministro não sepultou o caso, mas repisou o discurso de que o combate à
corrupção justifica sua conduta. Moro reforça sua proteção enquanto
aguarda novas revelações.
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