Pesquisa mostra que 38% dos brasileiros acham que presidente pode fechar a corte
A última edição da pesquisa Barômetro das Américas mostrou que 38% dos
brasileiros acham que o presidente pode fechar o STF caso o país
enfrente dificuldades. O sentimento não é majoritário, mas sua escalada
chama a atenção. Nos últimos dez anos, esse percentual nunca ultrapassou
a casa dos 15%. Não é de hoje que a popularidade do Supremo está no fundo do poço. Ainda
assim, é espantoso que tanta gente apoie a solução radical de passar a
chave na porta do tribunal e mandar os ministros para casa.
Exposta a desgastes, a corte conquistou o desapreço de eleitores de
esquerda (35%), de centro (25%) e, principalmente, de direita (52%). O
ambiente pode se tornar ainda mais desfavorável, já que o STF permanece
rachado em discussões criminais, assumiu protagonismo em pautas
políticas e enfrenta o antagonismo do presidente da República e aliados. A divisão do tribunal em processos relacionados à Lava Jato e em
julgamentos de corrupção é a causa mais visível dessa insatisfação. Não é
coincidência que pedidos de fechamento do Supremo estivessem presentes
nas manifestações de apoio ao ex-juiz Sergio Moro e ao governo Jair
Bolsonaro, no fim de maio.
A corte continua tomando decisões nessa seara que desagradam às massas,
mas também se mostra vulnerável ao mau humor das ruas. Um sinal disso é a
hesitação do tribunal em enfrentar casos como a prisão após condenação
em segunda instância e outros julgamentos que poderiam afetar o
ex-presidente Lula.
Mais um ingrediente amargo dessa receita é a imagem de que o STF age
contra o governo. Nos últimos meses, o tribunal barrou a decisão de
Bolsonaro de extinguir conselhos federais e suspendeu a privatização de
uma subsidiária da Petrobras. Na próxima semana, a corte também pode
derrubar o decreto que ampliou o acesso a armas no país.
No papel de contrapeso, o Supremo deve continuar sob pressão. É natural
que a corte seja sensível à opinião pública. Resta saber se ficará
intimidada com gritos autoritários.
Nenhum comentário:
Postar um comentário