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segunda-feira, 24 de junho de 2019

“Culpa do cimento e do talento” e outras notas de Carlos Brickmann

Por que punir a Odebrecht, se quem cometeu os atos de que todos sabemos não foram os prédios nem os funcionários, mas seus diretores?



Publicado na Coluna de Carlos Brickmann
A Odebrecht, uma das maiores empresas brasileiras, pediu recuperação judicial aquilo que antigamente chamávamos de concordata. As equipes que montou, e que nada têm a ver com pixulecos e propinas, já perderam muitos talentos, e os que sobraram perderão o emprego se a empresa quebrar. Os donos vão bem:  vivem  confortavelmente  (alguns diriam luxuosamente) e estão entre os que mais têm a receber da empresa, fortemente endividada.

Por que? Por que punir a empresa (e não falemos apenas da Odebrecht, mas de todas as envolvidas na Operação Lava Jato), se quem cometeu os atos de que todos sabemos não foram os prédios nem os funcionários, mas seus diretores? Equipes talentosas, que foi difícil montar, são e serão desfeitas sem que seus integrantes tenham culpa; e são eles que ficarão sem emprego. Perde também a engenharia brasileira, porque o know-how não é usado, e os clientes se afastam de empresas com problemas. “A lei manda punir as empresas” mas leis podem ser modificadas. Se quem estava irregular eram os donos e seus executivos, por que não puni-los, afastá-los da empresa até que sejam julgados, tomar-lhes as ações e entregá-las a, por exemplo, uma cooperativa de funcionários? Do jeito que a coisa anda, donos e executivos se salvam e quem não participou de ilegalidades paga com seu emprego. Como diz o jornalista Luís Nassif, é possível punir quem deve ser punido sem desmontar a empresa toda. Beneficiar quem não merece é mau exemplo.

Os credores
Na recuperação judicial de quase R$ 100 bilhões da Odebrecht, figuram entre os credores o comandante da empresa, Emílio Odebrecht, com R$ 80 milhões a receber. Seu filho Marcelo, o Príncipe dos Empreiteiros, que ficou pouco mais de dois anos na prisão por ter, digamos, pago pixuleco a uma lista telefônica de corruptos, vive hoje em prisão domiciliar, em sua bela casa, usando tornozeleira (haverá tornozeleira de grife?), e é credor de bons R$ 16 milhões. Pai e filho, quase R$ 100 milhões. Sobrará o suficiente para pagar indenizações a funcionários que não subornaram ninguém? Está certo?

Moro, um palpite
Não tenho ainda qualquer informação sobre como repercutiu o diálogo de Moro com a Comissão de Constituição e Justiça, mas arrisco um palpite: a popularidade do ministro deve crescer nas próximas pesquisas. Estava tranquilo, saiu-se bem, nem utilizou um argumento explosivo à sua disposição: dos senadores que o interrogaram, 25% tinham problemas com a Lava Jato. Moro manteve a conversa em alto nível (já Bolsonaro, falando do tema, chamou Jean Wyllys, militante homossexual, de “aquela menina”). Moro agiu certo, sem apelar. E isso deve render-lhe pontos na pesquisa.

Quem tem razão?
De acordo com os diálogos (lembrando que não houve perícia para provar que são verdadeiros), Moro ultrapassou o limite da lei ou se manteve dentro do legalmente aceitável? A discussão está brava. Creio que, com algumas exceções, quem quer Lula livre ou apenas não tolera Bolsonaro dirá que Moro ultrapassou os limites e deve ser demitido. Quem acha que o presidente é o máximo ou detesta Lula acha que Moro agiu dentro da lei. É simples: se o pênalti favorece nosso time, com certeza ocorreu e foi bem marcado.

(...)

Os adversários 2
A Marabraz, gigante do comércio, iniciou processo contra este colunista com base na contestação de informação aqui publicada — uma notícia seca, sem juízo de valor. Pois bem, o procurador do Estado-chefe Celso Jesus Mogioni e a Assistência da Presidência da Jucesp, Junta Comercial do Estado de São Paulo, confirmaram a informação.

Segundo documentos oficiais, a LP Administradora de Bens tem alteração do contrato social com texto divergente da escritura pública, omitindo entrada e saída do Grupo Marabraz do sócio Fábio Fares. E a procuração da matriarca do grupo estava revogada desde 2008, anos antes de sua utilização. Este jornalista sempre verifica suas fontes. Como não disse um anúncio famoso, checagem melhor ninguém faz.


 Coluna de Carlos Brickmann

Transcrito do Blog do Augusto Nunes - Veja


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