O general e os jornalistas
Santos Cruz exaltou o papel da imprensa, disse que os direitos humanos são para todos e exaltou a democracia
O general chegou na reunião de jornalistas carregando a sua mochila nas
costas, como todos os participantes do seminário. A diferença ficou na
roupa: ele foi de terno e gravata, vermelha por sinal. Carlos Alberto
Santos Cruz, que por cinco meses foi ministro e por cinco anos comandou
tropas da ONU, foi ao Congresso da Abraji e deu recados relevantes:
defendeu a imprensa profissional, disse que direitos humanos não são
apenas para alguns, que o governo deve combater desigualdades, que
democracia é um choque de tensões e o Legislativo não está tirando
poderes do presidente.
Antes de subir ao palco principal, o ex-ministro, em bate-papo com
repórteres pelo pátio, disse o que depois repetiria na entrevista a
Daniel Bramatti, presidente da Abraji, e à jornalista Julia Duailibi, no
Congresso Internacional da entidade. Que a imprensa profissional é
fundamental, e há uma “massa de irresponsáveis” espalhando notícias
falsas e “congestionando o mundo da informação”. O “jornalismo
investigativo tem que investigar ao quadrado”, exatamente para ajudar a
separar as informações reais do que circula sem critério e sem
veracidade pelas redes de comunicação.[e assim perder a oportunidade de atrair atenção e tentar servir aos interesses sujos e antipatrióticos da 'turma do quanto pior, melhor'? ]
Quem queria ouvir novas críticas ao presidente Bolsonaro se frustrou. Santos Cruz mostrou, de forma indireta, que discorda do presidente, mas
disse que Bolsonaro tem todo o direito de demitir quem ele quiser e que
não se sentiu afetado por isso. Repetiu que não soube o motivo da
demissão. Quando Daniel Bramatti perguntou o que ele consideraria êxito do
governo, ao fim do mandato, respondeu que era a redução das
desigualdades. Julia Duailibi quis saber: “mas isso é agenda do atual
governo?”. Ele disse que deveria ser, porque a desigualdade no Brasil é
“imoral”, inclusive entre os salários pagos no setor público.
Diante da pergunta sobre se direitos humanos devem ser só para os
“humanos direitos”, ele contou que, no Congo, derrubou um veto a
transportar rebeldes feridos no helicóptero para serem atendidos nos
hospitais. Estabeleceu apenas o critério de dar prioridade aos soldados
feridos. O general disse que o “assembleísmo” falsifica a democracia. E deu o
exemplo de um condomínio, que seria uma reunião com vinte pessoas que
baixa uma regra para ser seguida por duzentas. Fez um paralelo à
“assembleia digital”, na qual o governo se envolve. —A melhor comunicação ainda é falar com as pessoas. Às vezes se diz que
uma coisa teve seis mil curtidas. E daí? O país tem 200 milhões de
habitantes.
Para ele, esse tumulto virtual cria conflitos nas relações entre os
poderes que deveriam ser harmônicas. Diante da pergunta sobre a
declaração do presidente de que querem transformá-lo em rainha da
Inglaterra, o general defendeu a democracia.
—A democracia tem vários centros de poder, o Executivo, o Legislativo, o
Judiciário, a imprensa, a opinião pública. Tem que haver um bom
relacionamento com, por exemplo, o presidente da Câmara. Lá é um centro
de poder. E há sempre um jogo de pressão. A pessoa não pode se apavorar.
Isso é normal, a democracia é assim. Não vejo ninguém querendo
transformar o presidente numa rainha da Inglaterra. Eu saio do governo
acreditando na política.
Santos Cruz disse coisas que agradaram e que desagradaram a plateia. Não
se intimidou quando os repórteres gritaram perguntas do auditório.
Considerou um erro a morte de Evaldo Rosa, fuzilado por militares do
Exército, mas não explicou por que o governo ficou em silêncio diante do
crime. Da mesma forma, não quis enfrentar a velha questão das mortes
cometidas pelas Forças Armadas durante a ditadura. —Não vou fazer uma análise daquele período, fora do contexto. Havia uma
tática na época. A luta armada deu certo em Cuba, em outros países, e a
rapaziada queria repetir aqui. [tudo indica que, como é de praxe, não foram feitas perguntas sobre os brasileiros de bem, mortos covardemente pelos porcos guerrilheiros = hoje, porcos considerados inocentes vítimas da chamada ditadura militar.]
Disse que a milícia é crime organizado e tem que ser combatida, mas
fugiu da pergunta sobre as condecorações que filhos do presidente deram a
milicianos no Rio.
Para o general, é preciso defender princípios e não ideologia, porque “o
fanatismo faz a pessoa perder a capacidade de análise”. Entre os
princípios, defendeu o papel das Forças Armadas. — As Forças Armadas têm que se manter fora da política partidária. Há
uma impressão de que existe um grupo organizado de militares dentro do
governo. Não existe a ala militar.
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