Mudanças feitas são estratégicas para os planos do presidente Jair Bolsonaro
As mudanças feitas na estrutura do governo, como a escolha do general
Luiz Eduardo Ramos para a coordenação política no lugar do ministro Onyx
Lorenzoni (Casa Civil) e a nomeação do advogado e major da PM Jorge
Oliveira para a Secretaria-Geral do Palácio do Planalto, estão
relacionadas com a decisão de Jair Bolsonaro de disputar a reeleição em
2022. Também faz parte desse pacote da luta pela reeleição a demissão do
general Santos Cruz, que dava pouca bola para a agenda conservadora de
Bolsonaro, fundamental para manter o presidente conectado com seus
eleitores fundamentalistas.
Bolsonaro sabe que o campo político da direita e da centro-direita está
congestionado por pretensos candidatos à sua sucessão: os mais expostos
são Sérgio Moro, João Doria, Wilson Witzel e Rodrigo Maia. Nos planos de
Bolsonaro, pelo menos no que se fala nas rodas do poder, estaria a
montagem de uma chapa com o ministro da Justiça no lugar do hoje vice, o
general Hamilton Mourão. Nesse caso, Doria e o presidente da Câmara
tenderiam a formar uma outra chapa. Witzel, por enquanto, está sem lugar
nesse clube, embora tenha esperança de arrumar um jeito de a ele se
associar. Por fora, menos falados, aparecem também pela centro-direita
os nomes do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e do prefeito de
Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto, ambos do DEM. Como se vê, há um
congestionamento grande nessa estrada rumo a 2022.
Bolsonaro tenderia a convidar Sérgio Moro para sua vice por considerar
que formaria uma chapa muito forte, além de trazer para seu lado um
possível concorrente. E Moro, que completará 50 anos às vésperas da
eleição de 2022, poderia construir sua candidatura a partir da
experiência como vice, caso a chapa consiga a vitória. É claro que tudo isso ainda faz parte dos planos de um campo político
que se viu de repente alçado ao poder pela eleição do ano passado por
causa de uma série de fatores coincidentes: a forte rejeição ao PT e a
Michel Temer, então na Presidência e com comichões de tentar a
reeleição, a falta de união da centro-esquerda, que lançou vários
candidatos, a perda de timing dos petistas, que insistiram em Lula,
mesmo condenado e preso, o pífio desempenho eleitoral do tucano Geraldo
Alckmin e a tentativa de assassinato de Jair Bolsonaro, o que o tirou da
exposição pública dos debates e o transformou em vítima do sistema. A
tudo isso, somam-se também o instinto político do atual presidente, que
conseguiu traduzir para o eleitor a ideia de que era o candidato
anti-Lula e anti-PT, e o impressionante aproveitamento que tirou das
redes sociais para sua propaganda política.
Dificilmente essa junção de fatores ocorrerá novamente. De Bolsonaro,
que agora pensa na reeleição, será exigido muito trabalho à frente do
governo. Primeiro, só sua agenda conservadora não será suficiente para
lhe dar condições de competitividade. Será preciso ganhar confiança dos
investidores com uma gestão menos conflituosa e fazer a economia voltar
aos trilhos do crescimento, com geração de empregos em massa. Não será
fácil. Mas também não será impossível. Porque, embora a reforma da
Previdência tenha sido assumida pelo Congresso, dentro da agenda
positiva para o País, se ela for aprovada e der resultados na economia,
Bolsonaro será beneficiado. Seus esforços pela aprovação do projeto
podem não ser lá essas coisas, mas não há como negar que, se ele não
quisesse, a proposta não teria sido apresentada. Bolsonaro nega que seja político. Mas é. Se não fosse, não cativaria o
eleitorado evangélico como cativa. Só nesse setor estão cerca de 25% ou
mais um pouquinho dos votos.
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