Manifestações, parecer da reforma, Moro na Câmara, governo focando em divisões
É muito arriscada a estratégia do governo de atiçar manifestações, que
agora têm até vídeos do chefe do GSI, general Augusto Heleno, de boné e
camiseta amarela, pulando uma cerca, assumindo lugar de honra no
palanque, empunhando microfone e vociferando contra os “canalhas” e
“esquerdopatas”. O ponto alto do domingo.
Já ontem, as divisões pipocaram dentro do próprio governo, com o “02”,
vereador Carlos Bolsonaro, ostentando sua mania de perseguição e
postando coisas sem nexo. Joga suspeitas sobre os seguranças do GSI do
general Heleno, diz que está “sozinho nessa” e é “alvo mais fácil ainda
tanto pelos de fora tanto por outros”. Quais os “de fora”? E quem seriam
os “outros”? Já há quem veja mais um general no alvo dos olavistas. E
um general fundamental para Bolsonaro. A mensagem do filho do presidente termina com um tom épico. Após dizer
que eles (quem?) vieram deixar “uma mensagem”, ele concluiu: “Creio que
essa (?!) faz uma parte dela (da mensagem?!), mesmo que isso custe a
minha vida!” O que é isso?
E, hoje, temos a votação do parecer da reforma da Previdência na
Comissão Especial e o depoimento do ministro Sérgio Moro para três
comissões simultaneamente. Os governadores do Nordeste, todos eles do PT
ou ligados ao partido, ignoraram a reforma [eles querem os beneficios da reforma sem se comprometer e isto tem um nome: covardia.] e fizeram uma nota
unicamente para atacar Moro e os procuradores e, indiretamente, mas nem
tanto, defender a liberdade do ex-presidente Lula.
Na nota, um óbvio contraponto às manifestações de domingo, os
governadores consideram as conversas entre Moro e procuradores da Lava
Jato, reveladas pelo site The Intercept Brasil, como “de extrema
gravidade” e condenam: “ao lixo o direito”... Eles são do PCdoB, do MDB,
do PSB, além do PT, e calaram sobre a reforma da Previdência,
fundamental para o futuro não só do Brasil, mas dos seus Estados.
Com o governo apoiando ostensivamente as manifestações pró-Lava Jato e
os governadores nordestinos condenando, o Brasil aprofunda uma
polarização insana que gera tensão e expectativas e alimenta
manifestações. Por enquanto, elas são pacíficas, como destacou o
presidente Jair Bolsonaro, mas o governo só tem seis meses. Até quando
dura a paz nas ruas? Em São Paulo, ficou bem claro como a polarização vai abrindo divisões
dentro dos próprios movimentos. Boa parte da sociedade é cegamente a
favor de Bolsonaro e boa parte, também cegamente, a favor de Lula. Mas
há quem seja pró-Moro, mas não morra de amores por Bolsonaro, e quem
seja pró-Bolsonaro, mas desconfiando das conversas de Moro e
procuradores da Lava Jato, pelo combate à corrupção.
Divisões fortes, com o Nordeste se assumindo como um bolsão vermelho e o
Sul, como a principal base bolsonarista – única região onde o
presidente, em vez de cair, subiu no Ibope. [por coincidência (!?!) a região Sul é a mais desenvolvida do Brasil.] Em resumo: o governo estimula manifestações que, daqui e dali, atacam o
Congresso, o Supremo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. [se aproxima o momento do Maia mostrar que tem a liderança que pensa ter.] Governadores
de uma região inteira invertem prioridades. O general do GSI assume
pela primeira vez sua veia palanqueira, com viés belicoso. [o general Heleno é um militar da reserva e tem os direitos de qualquer cidadão, entre eles o de se manifestar livremente sobre qualquer assunto.] E o filho do
presidente teme misteriosas forças ocultas, de dentro e de fora do
governo, que podem até custar a sua vida.
Tudo isso quando o Planalto deveria estar comemorando o acordo com a
União Europeia e as energias do presidente da República, do governo, dos
governadores e da sociedade deveriam estar concentradas na reforma da
Previdência. Não é assim. Os mesmos manifestantes que defendem a reforma e atacam o
Congresso não percebem que é ele, o Congresso, que está salvando a
reforma, o equilíbrio fiscal e o futuro do País. Viva o Congresso!
Aliás, um viva às instituições!
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