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domingo, 14 de julho de 2019

O capitão e os generais - Bernardo de Mello Franco

O Globo

Há quatro anos, uma editora avisou José Murilo de Carvalho de que não tinha planos para sua obra “Forças Armadas e política no Brasil”, então sumida das livrarias. “Eles pensaram que o problema já estava resolvido”, brinca o historiador, um dos principais convidados da 17ª Flip. Com a ascensão da família Bolsonaro, ele decidiu relançar o livro pela Todavia. No prefácio à nova edição, explica por que o assunto voltou à tona.
“A origem militar do presidente eleito em 2018, amplamente alardeada por ele próprio, e a inédita e massiva presença de militares em postos-chave do governo fizeram ressurgir em alguns setores da população o receio de regresso a uma nova ditadura. Justificado ou não, o temor trouxe de volta o interesse pelo tema da relação entre Forças Armadas e política”, escreve.

Bolsonaro na posse do novo ministro da Defesa - Sergio Lima/AFP

Para o imortal da Academia Brasileira de Letras, que faz 80 anos em setembro, a presença de militares no poder não permite dizer que estamos diante de um regime parecido com o de 1964. “Ironicamente, o pouco de sensatez e equilíbrio em meio a posturas radicais e desastrosas do presidente, incentivado por seus apoiadores mais fanáticos, tem sido devido aos generais em posições-chave”, observa. “O curioso é que agora os generais têm que obedecer a um capitão indisciplinado”, acrescenta, em conversa com a coluna em Paraty. [esclarecendo o óbvio: a intenção de enxovalhar os militares, a pretexto de malhar o presidente da República Federativa do Brasil, JAIR BOLSONARO, é tamanha que fingem esquecer que o 'capitão indisciplinado' - absolvido de todas as acusações pelo Superior Tribunal Militar, instância máxima da Justiça Militar da União,e que os generais não obedecem ao capitão e sim ao presidente da República, que é o comandante supremo das FF AA.]
 
Ex-professor da Escola de Guerra Naval, Carvalho pondera que os oficiais de hoje não são iguais aos que lideraram o golpe contra João Goulart. Mesmo assim, ele se diz preocupado com novos episódios de interferência militar na política. Um dos mais barulhentos foi o tuíte do general Eduardo Villas-Bôas em abril de 2018, na véspera de um julgamento do Supremo Tribunal Federal que poderia libertar o ex-presidente Lula. O então comandante escreveu que o Exército estava aliado aos “cidadãos de bem” e “atento às suas missões institucionais”.

“Aquilo foi uma clara ameaça ao Judiciário. E surtiu efeito”, diz Carvalho. Em janeiro, Villas-Bôas deixou a ativa e virou assessor do governo Bolsonaro. Ele dá expediente no Gabinete de Segurança Institucional, chefiado por outro general de quatro estrelas.
Ao atualizar o livro, o historiador notou que a atribuição de papel político aos militares está em cinco das nossas sete Constituições. A atual diz que as Forças Armadas são organizadas “sob a autoridade suprema do presidente da República” e podem ser acionadas pelos Três Poderes a pretexto da garantia “da lei e da ordem”.
“Isso é uma contradição em termos. E se o presidente resolver fechar o Congresso?”, questiona o historiador. “Parece haver um acordo tácito em torno da ideia de que a República ainda precisa dessa bengala”, critica.
Embora as pesquisas mostrem que as Forças Armadas são a instituição mais respeitada pelos brasileiros, Carvalho diz que as trapalhadas do presidente podem afetar a imagem dos militares. “Com toda a maluquice do Bolsonaro, eu esperava que ele aprendesse alguma coisa no cargo”, comenta. A última “asneira”, nas palavras do historiador, foi a indicação do filho para chefiar a embaixada do Brasil em Washington. “O familismo é típico de governos autoritários”, sentencia. [caso o acadêmico esteja certo, Rodrigues Alves que nomeou um civil para o cargo de embaixador em Washington, cometeu uma asneira, Getulio, incorreu no mesmo erro, Castelo Branco, idem, todos nomearam pessoas de fora da carreira para aquele cargo.]

Bernardo Mello Franco

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