Daqui em diante cabe ao governo fazer o que dele se espera, governar
Segundo o ministro, há outras questões que devem ajudar a alavancar a economia, parada por insuficiência respiratória. Zerar o déficit das contas públicas é a mais urgente. Depois, nas palavras de Guedes, privatizar, privatizar e privatizar. Fazer as reformas tributária e administrativa também é urgente. Reduzir as despesas obrigatórias, carimbadas constitucionalmente, e, quem sabe mais adiante, voltar com a proposta de capitalização da Previdência, sonho do ministro inspirado no exemplo chileno. Opa, Chile? Chile, não. Melhor buscar outro exemplo.
O fato é que a mais importante de todas as reformas, a reforma mãe, como dizia Guedes no começo do ano, foi aprovada pelo Congresso. As outras serão resultantes dessa. Daqui em diante cabe ao governo fazer o que dele se espera, governar. Se governar para valer, sujando as mãos nas suas tarefas cotidianas e exclusivas, como de um agricultor se espera unhas sujas de terra e de um pedreiro calos nas mãos, o país pode avançar, empregos podem ser gerados, a economia pode crescer. Para isso, Bolsonaro deve assumir suas obrigações imediatamente.
Nenhuma dúvida de que os brasileiros querem mais educação, e educação de qualidade, e mais saúde, com hospitais e postos de saúde equipados e sem filas nas portas e goteiras nos tetos. Precisam de segurança melhor. Desejam um SUS mais eficiente. Exigem estradas mais seguras. Para onde você olhar, vai encontrar problemas que devem ser objeto da ação governamental, seja de modo próprio, seja viabilizando a exploração privada. O governo ainda não começou, talvez seja esta a hora, já que agora vai dispor de meios.
Mas, para tocar uma boa pauta, Bolsonaro precisa antes se livrar de algumas amarras que o mantêm imobilizado, ou se mexendo apenas em direção da confusão. Primeiro, precisa calar a boca e segurar os dedos ágeis dos meninos. Se Flávio, Carlos e Eduardo fizerem menos barulho, melhor para Jair. Em segundo lugar, já passou da hora de dar tratamento político a questões políticas. Depois, se for inteligente, o presidente aproveita e faz uma reforma ministerial, trocando os que só conseguem somar ideologicamente por gente que pense como ele mas seja competente. Por fim, deveria arejar suas relações externas. É governar ou governar, não tem mais desculpa. [o presidente Bolsonaro começando a governar logo que volte da China, esquecendo por algum tempo os inimigos, começará a realizar as ações, missão para a qual foi eleito:
- melhorar a economia do Brasil, reduzindo o desemprego, aumentando a produção;
- com a economia melhorada o presidente Bolsonaro terá condições de promover ajustes no Brasil, incluindo as ações para neutralizar os inimigos do Brasil, que,coincidentemente,também são os inimigos do presidente e adeptos do 'quanto pior,melhor'.]
Ascânio Seleme, jornalista - Opinião - O Globo
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