O Globo
Os juros baixos vieram para ficar, avisa Ilan Goldfajn. Ele falou aos repórteres Claudia Safatle e Alex Ribeiro, do “Valor”, na primeira entrevista após deixar o BC, no início do ano. Ilan, no comando do Banco Central, ajudou o país a atravessar uma anomalia brasileira. "Os juros menores vieram para ficar", disse
Ele assumiu o cargo com o país em recessão e juros de 14%, em meados de 2016. A inflação chegou a 10%. A política econômica no governo Temer conseguiu derrubar o IPCA para um patamar até abaixo do piso da meta. As taxas de juros puderam cair. É claro que a economia fria também influencia. Depois de dois anos de recessão, a atividade estagnou. Mas não se pode subestimar. O Brasil, mesmo em períodos de recessão, já registrou inflação alta. Aconteceu em 2015 e em 2016.
Especialistas não prevêem nenhum susto para a inflação no curto prazo. Os juros devem cair mais. Quando Ilan deixou o BC, a taxa havia caído para 6,5%. Hoje está em 5,5% e estima-se que cairá mais um ponto este ano. O Brasil escapou dessa anomalia, mas precisa fazer todo o resto, que é escapar da “armadilha da renda média”, como dizem os economistas. O país não cresce suficientemente nem consegue aumentar a renda per capita e a produtividade. Não basta ter juros baixos. Mudanças têm que ser feitas para que a economia ganhe mais vigor. Ilan explica que a Selic em níveis baixos não garante o crescimento da economia. O BC sozinho não vai resolver sozinho o desafio atual, que é crescer e gerar emprego.
Uma boa notícia é que economistas de alguns bancos revisaram para cima a projeção de crescimento deste ano e dos próximos. O Itaú, que previa 0,8% para 2019, aumentou para 1%. O desempenho melhora nos anos seguintes. Em 2020, a estimativa é de alta de 2,2%. Apesar dessa melhora nas expectativas, em geral espera-se um crescimento melhor que o atual, mas ainda baixo.Ilan entende que o recuo nos juros começa a chegar a algumas linhas bancárias, voltadas a grandes empresas. O grande problema no setor bancário do Brasil é que a Selic, paga pelo governo, cai e não é acompanhada pelos juros dos bancos.
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