Roberto Simon
Democracia chilena oferecerá respostas à desilusão da massa?
Apesar da Cordilheira dos Andes e dos níveis de renda mais elevados, o
Chile não está isolado e os eventos dos últimos dias —da explosão das
manifestações ao pacote de medidas proposto por Sebastián Piñera— tocam
em vários desafios comuns a outros países da América Latina. Um ponto,
porém, merece atenção especial: se nem a mais avançada democracia
latino-americana conseguir dar conta das demandas criadas por uma nova
classe média, cada vez mais desiludida, é difícil imaginar quem, na
região, consiga.
[em certas situações a 'democracia' precisa ser deixada de lado e substituída por autoridade;
O caso do Chile é exemplar, a desordem começou protestando contra aumento das tarifas do metrô, agora os desordeiros já ultrapassam um milhão de pessoas e querem reformas imediatas na aposentadoria, educação e saúde - pretende conseguir, na marra, consertar em dias o que vem errado desde que os governos de esquerda (entre as quais a Bachelet, presidente do Chile por sua vez e agora alta comissária da ONU dos direitos humanos -por óbvio, vai ajudar a consecução do desmonte,por ela iniciado, do Chile.
Ou o Piñera age com energia ou logo o Chile precisará de outro Pinochet - e eventual sucesso das desordens naquela País (sucesso de ações de guerrilha urbana, sempre significa o sucesso da esquerda, o fim das liberdades e a destruição de todos os valores da nação vítima.
Sem esquecer que a praga da revolta pode se estender a outros países da América Latina, incluindo o Brasil.]
Nos primeiros dias da crise, parecia que a corte de Maria Antonieta
havia se instalado em Santiago. Na quinta-feira (17), o presidente
Piñera apareceu no Financial Times dizendo que o Chile era um “oásis”
numa América Latina em convulsão. 24 horas depois, em meio a confrontos
no centro de Santiago, seu gabinete, no Palácio la Moneda, cheirava a
gás lacrimogêneo e o sistema de transportes da capital havia sido
paralisado.
Jornalistas estranharam a ausência de Piñera em uma entrevista coletiva
sobre os distúrbios. Uma foto nas redes sociais revelou seu paradeiro:
uma pizzaria gourmet, celebrando o aniversário da neta. Quando ficou
claro que a suspensão da alta no preço do metrô seria insuficiente para
desarmar os protestos, Piñera declarou que o Chile estava “em guerra”. O
general a cargo do estado de emergência discordou: “sou um homem feliz,
não estou em guerra contra ninguém”.
O entourage de Piñera também errava pelos jardins de Versalhes. Um de
seus ministros sugeriu que, para evitar os preços mais altos do metrô na
hora do rush, trabalhadores deveriam acordar mais cedo. Os
manifestantes eram “uns alienígenas”, desabafou a primeira-dama em um
áudio de WhatsApp, vazado à imprensa.
Na visão dos milhares nas ruas, Piñera —um dos homens mais ricos do
país— e seu gabinete de gente bem vestida são a imagem perfeita de uma
elite chilena que foi, de longe, a maior beneficiária do progresso das
últimas décadas. Aos estudantes endividados, às famílias com renda
estagnada ou aos aposentados desamparados, o Chile do 1% mais rico só
existe no Instagram, junto com a crescente percepção de que eles nunca
chegarão naquele país. Na terça-feira, com a contagem de mortos em dois dígitos, Piñera iniciou
uma guinada política. O presidente convidou todos os partidos ao La
Moneda para discutir uma solução de consenso. No Twitter, disse que
“acolhia com humildade” as demandas nas ruas, pediu desculpas e lançou
uma “Nova Agenda Social”.
O pacote de medidas sociais custará cerca de R$ 5 bilhões, parcialmente
financiados com um aumento de cinco pontos no imposto de renda dos mais
ricos. O dinheiro subsidiará aposentadorias, gastos de saúde e contas de
luz. Discretamente, o governo também sinaliza que suas propostas no
Congresso —incluindo uma lei tributária generosa com acionistas e a
reversão de parte dos direitos trabalhistas ampliados na era Michelle—
são coisas do passado.
A incapacidade inicial do governo agravou a crise, ao custo de vidas. E a
“agenda social” de Piñera oferece muito menos do que pede a oposição
moderada (considerando que a centro-esquerda chilena, traduzida à
realidade brasileira, seria considerada centro-direita). Mas a
democracia chilena parece, finalmente, estar oferecendo respostas
concretas às demandas da classe média insatisfeita. É difícil imaginar uma reação política similar em outros cantos da região, incluindo no Brasil de hoje.
Roberto Simon, é diretor sênior de
política do Council of the Americas - Folha de S. Paulo.
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