Quem fará mais estragos ao Brasil?
O cenário era sugestivo. De um lado, a imponente sede do Quartel-General do Exército, no Setor Militar Urbano de Brasília, [Forte Apache] uma monumental obra do arquiteto comunista Oscar Niemeyer. Do outro, cerca de 200 a 300 pessoas, a maioria vestida de verde e amarelo carregando faixas e cartazes onde pediam a volta do AI-5, o ato mais brutal da ditadura militar de 64, a censura à imprensa e o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.
No meio, em cima da
caçamba de uma camionete, sob a proteção da Polícia do Exército, o
presidente Jair Bolsonaro tossiu, tossiu, tossiu, balançou um pouco, mas
não caiu, e durante cinco minutos, sem máscara, expelindo perdigotos,
disse que estava ali porque acreditava nos manifestantes que clamavam
por uma nova intervenção militar. Mais de uma vez afirmou que o povo,
agora, estava no poder e que poderia contar com ele.
Como reagiriam os
militares? Soltariam uma nota condenando o ato de natureza claramente
golpista?
Pelo menos uma nota para garantirem que nada tiveram a ver com
o que assistiram tão de perto?
Renovariam seu compromisso em respeitar a
Constituição?
Ou nada fariam, recolhendo-se ao silêncio?
O “povo no
poder” dito por Lula soaria à provocação, coisa de esquerdista?
O de
Bolsonaro, um extremista de direita, como coisa normal? [Normal, considerando que JAIR BOLSONARO, o presidente está no Poder - Bolsonaro hoje, em conversa com a imprensa, oportunamente, lembrou o que os jornalistas que o esperavam haviam esquecido: quem é o presidente da República, exercendo o Poder, não dá golpe, nem conspira contra SEU PRÓPRIO governo.]
O Grande Mudo, como é
conhecido o Exército, foi dormir calado. Políticos de todos os matizes
foram dormir apreensivos. Quando se pensa que Bolsonaro ultrapassou
todos os limites da irresponsabilidade, ele vai adiante. No seu caso,
por desespero, mas não incoerência. Bolsonaro enveredou há muito tempo
pela Avenida da Irrelevância. Perdeu o bonde da História quando
subestimou o coronavírus. Não soube ou não quis corrigir o passo.
Por incoerência não
morrerá. Foi um mal militar, como dele disse o ex-presidente Ernesto
Geisel. Afastado do Exército por indisciplina e conduta antiética, [absolvido na última instância da Justiça Militar da União = Superior Tribunal Militar] alojou-se durante 28 anos na Câmara e, ali, foi um deputado sem nenhuma
importância. Acidentalmente eleito presidente, o que se poderia esperar
dele se não que fosse um presidente medíocre? Muita gente, mesmo assim,
ainda acha que valeu a pena porque derrotou o PT.
A situação terá que
piorar muito para que só depois comece a melhorar, ouvi de um ministro
do Supremo Tribunal Federal. Em meio a uma pandemia, não se depõe
presidente. Sirva de consolo que em meio a uma pandemia também não se
aplica golpe. Impeachment não é golpe. [com todo o respeito ao ilustre articulista, perguntamos: alguém em sã consciência acha que se o deputado Maia tivesse a mais remota chance de ver aprovado o impeachment do presidente Bolsonaro, ele não encaminharia, de imediato, o pedido.]
É instrumento previsto na
Constituição para remover governantes ineptos que perdem o apoio
político necessário para governar. A hora de Bolsonaro chegará. Ninguém, mais do que ele,
se empenha tanto para que chegue a hora da verdade. Bolsonaro compete
com o coronavírus para ver quem causará maior estrago ao Brasil.
Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA
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