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quarta-feira, 29 de julho de 2020

Lava-Jato enfrenta seu pior ataque, e ele vem da PGR - Míriam Leitão

O Globo

Em um debate virtual na terça-feira, Aras disse que “é a hora de corrigir os rumos para que o lavajatismo não perdure”, mas ponderou que isso “não significa redução do empenho no combate à corrupção”. Aras explicou que a Lava-Jato tem mais informação do que todo o sistema único do MPF, e reclamou dos “segredos” que a Força-Tarefa guarda.   
O curioso é que esses sinais de Aras se acumulam exatamente no governo que durante a campanha eleitoral prometia combater a corrupção. Era uma propaganda enganosa, Jair Bolsonaro nunca em sua carreira política atuou contra os desvios. Em 2018, ele surfou a onda contra a corrupção, que é um sentimento legítimo da sociedade.    

O presidente Bolsonaro levou para seu governo um símbolo da Lava-Jato e o enfraqueceu. O ex-juiz Sergio Moro diz agora que foi usado. Aras foi escolhido procurador-geral da República a dedo para determinadas ações, e tem cumprido essa promessa. Havia a expectativa de que ele, a partir do momento em se tornasse indemissível como PGR, desempenhasse seu papel constitucional. Desde o começo Aras combate a Lava-Jato. Ele assedia a Força-Tarefa, dá declarações críticas e agora fala em corrigir os rumos da operação.   

O procurador-geral diz que a Lava-Jato acumulou dados sobre 38 mil pessoas, sem critérios. Dá a impressão de que se formou um poder discricionário dentro do estado na mão de alguns procuradores. A realidade é que muita gente foi citada. Algumas não foram investigadas, outras serão acompanhadas por outras instâncias do MP ou da PF. A Lava-Jato vem desde 2014.   Aras, desde o início, exigiu o compartilhamento das informações obtidas pela operação e pretende centralizá-las. Por outro lado, ele luta contra o que chama de lavajatismo”, que na realidade levou o país a conhecer profundamente as entranhas da política para corrigir os desvios.   

A Lava-Jato teve excessos, todo o processo numa democracia exige fiscalização e correção. Mas para isso há a própria Justiça que várias vezes impôs uma correção de rumo à Lava-Jato. Corrigir o processo investigativo é muito diferente de tentar acabar com ele.  As declarações e ações de Aras passam a impressão de que ele acabar com as investigações. Em outra frente, ele ataca a Lava-Jato. Em outra, ele mira na Polícia Federal. Aras propôs o arquivamento dos inquéritos nascidos da delação de Sergio Cabral, que foi negociada pela PF. É claro que uma delação tem que ser confirmada por provas, caso contrário não é homologada. Mas aí há uma briga entre dois grupos dentro do estado brasileiro. A Polícia Federal sempre quis o poder de conduzir delações premiadas, e o MP entende que essa prerrogativa é exclusiva dos seus membros. A discussão vem desde antes do mandato de Aras. O STF já havia reconhecido o direito da PF celebrar acordos de delação. Aras quer voltar ao debate anterior. A ideia dele é que um acordo de colaboração só será celebrado se o MPF concordar.     
O movimento de Aras vai enfraquecer a investigação sobre desvios. 

Míriam Leitão, jornalista - O Globo


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