Partidos agem para sucessão de Maia na Câmara, que eleva incertezas
Com a atrofia das principais lideranças pós-redemocratização e a
ascensão do bolsonarismo infenso à articulação parlamentar, o conjunto
de partidos parasitários do poder conhecido como centrão assumiu um
insólito lugar de destaque na cena política nacional. Outrora meros apêndices numéricos em coalizões encabeçadas pelo
presidente de turno, essas legendas desprovidas de identidade
programática compõem hoje uma força mais autônoma — embora por natureza
dependente da ração de cargos e verbas — e sem rival à altura no
Congresso Nacional.
Daí ser digno de nota o movimento anunciado na segunda-feira (27) por
DEM e MDB, que deixarão formalmente a aliança circunstancial feita com o
centrão para votações na Câmara dos Deputados. De mais visível, está em jogo a preservação do comando da Casa,
presidida por Rodrigo Maia (DEM-RJ), e de sua independência em relação
ao governo Jair Bolsonaro, que busca cooptar as siglas fisiológicas, a
partir do próximo ano.
Trata-se, ademais, da busca pela sobrevivência das forças centristas
(não confundir com o centrão), que incluem ainda o PSDB, esmagadas nas
últimas eleições nacionais entre a direita populista e o que restou do
lulismo. Para os rumos mais imediatos do país, o que importa é como o Congresso
conduzirá as agendas política e econômica após a sucessão de Maia, que
desde o governo Michel Temer (MDB) tem sustentado a pauta da reforma do
Estado e do ajuste do Orçamento.
Se no ano passado o instinto de sobrevivência fiscal levou o mundo
político a aprovar a reforma da Previdência, agora há novos interesses e
pressões a considerar. A calamidade da pandemia deu impulso a demandas por mais gasto público,
de transferências de renda a investimentos em infraestrutura, que tendem
a unir o centrão parlamentar aos militares do primeiro escalão do
Executivo. Desinteressado em projetos mais complexos e incapaz de materializar no
Congresso sua plataforma ideológica, o presidente vislumbrou uma
ampliação do Bolsa Família como caminho mais seguro rumo à reeleição em
2022.
Existe, em tese, apoio para avanços como a reforma tributária, mas não
se vê coordenação de esforços capaz de obter um denominador comum entre
as diferentes propostas do governo e do Legislativo.Ficará latente, por fim, a possibilidade de abertura de um processo de
impeachment de Bolsonaro. Este, no entanto, está mais condicionado aos
humores das ruas do que a qualquer arranjo partidário. [esqueçam esse desejo infundado, absurdo e impossível de realização = impeachment.
Gastem suas energias na busca pelo apoio das ruas e dos 342 votos - mínimo necessário para que o processo dê um passo.]
Editorial - Folha de S. Paulo
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