VINÍCIUS VALFRÉ e JULIA AFFONSO
Há CACS pré-candidatos ao Congresso e a governador; objetivo é flexibilizar leis de armas
Incentivados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), nomes ligados a um grupo em ascensão no Brasil, o dos colecionadores de armas, atiradores desportivos e caçadores (CACS), planejam formar uma bancada no Congresso em 2023 e criar um partido político, informam Vinícius Valfré e Julia Affonso.
A entrada oficial dos armamentistas na política é incentivada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). O candidato à reeleição tem recebido líderes e pré-candidatos do movimento no Planalto para vídeos e fotos. A estratégia conflita com o que o núcleo da campanha tem se queixado: falta de interlocução de Bolsonaro com apoiadores de outros segmentos, como o meio empresarial.
A movimentação política é vista com preocupação por policiais e especialistas em segurança pública. Diferentemente da polícia e das Forças Armadas, os CACS não possuem a hierarquia do meio militar e têm no presidente e no deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) suas principais referências. Líder do Proarmas, o advogado Marcos Pollon anunciou sua candidatura à Câmara por Mato Grosso do Sul dias depois de ser recebido por Bolsonaro no Planalto.
Em vídeo publicado por Pollon em 6 de julho, três dias antes de uma grande manifestação dos CACS na Esplanada dos Ministérios, Bolsonaro acenou mais uma vez à classe. “A todos vocês CACS um grande abraço, parabéns pelo momento, por essa oportunidade, pela iniciativa”, disse.
O objetivo do movimento Proarmas é eleger candidatos ao Legislativo, em Brasília e nos Estados, para flexibilizar leis que tratam do tema. A atuação política funciona há meses, coordenada por Eduardo. Como mostrou o Estadão, o filho do presidente articula armamentistas nos Estados para aprovar leis que facilitam o porte de arma aos CACS. “Quando batermos 1 milhão (de apoios), vamos criar um partido político”, disse Pollon em uma entrevista, em fevereiro.
PRIORIDADE. O Estadão identificou 27 candidaturas à Câmara e ao Senado de armamentistas e políticos regionais que querem formar em Brasília a “bancada dos CACS”. Além desses, há outros nove políticos com mandato no Congresso que recebem oficialmente o apoio do Pro armas para disputas ao Senado e a governos estaduais, coma condição de tratar a pauta armamentista com absoluta prioridade. Há, ainda ,23 candidatos às assembleias estaduais e distritais, distribuídos por PL, PMN, Podemos, Progressistas, PRTB, PSC, PTB, PTC e Republicanos, partidos que integram o Centrão.
Candidatos afirmaram que o crescimento do número de CACS sob Bolsonaro deu à pauta armamentista potencial para atrair votos. Lojas de armas e clubes de tiros são vistos pelos articuladores como propagadores das candidaturas. Esses estabelecimentos também cresceram exponencialmente no atual governo.
Hoje, há 2.066 clubes no País, alguns com nomes de inspiração nacionalista: Patriotas do Brasil, Pátria Armada, Brasil Atividades de Tiro e Armas Brasil. São Paulo é a cidade com a maior quantidade de clubes, segundo dados do Exército. São 53. Em seguida vêm Brasília e Rio, com 32 clubes cada.
ELEITORADO. Na avaliação de especialistas, são grandes as chances de alguns CACS serem eleitos. O movimento, que adota o mote “não é sobre armas,é sobre liberdade”, ganhou espaço no eleitorado conservador e evangélico. O lema costuma vir acompanhado pela “defesa da família” e “valores cristãos ”. A pauta pró-armas pega carona no bolsonarismo. E vice-versa. Nas redes sociais, os candidatos afirmam “vou pra guerra com Bolsonaro ”.
No entanto, a real força precisará ser testa danas urnas .“É possível que essas pessoas votem em candidatos pró-armas, embora pesquisas indiquem que a maioria da população não acredita que, com as pessoas se armando, haverá mais segurança. Tem movimento fortalecido, mas não sabemos se vai garantir votos”, disse a diretora executiva do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo.
“Eles não têm uma agenda programática de segurança pública. É uma agenda armamentista que pega carona com Bolsonaro para reduzira esquerda. Dificilmente, se eleitos, trarão ganhos para a‘ bancada da bala’. Possivelmente, vão aderir à agenda tradicional”, afirmou Carolina. •
Digital - O Estado de S. Paulo
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