A proposta, compartilhada por evangélicos nas redes sociais, será tratada no Supremo Concílio da igreja, órgão máximo de deliberação da denominação, entre os dias 24 e 31 de julho, em Cuiabá. A cúpula da Igreja Presbiteriana do Brasil é majoritariamente conservadora e alinhada ao governo federal. Já não é mais segredo nos círculos presbiterianos que o comando da instituição está diretamente alinhado com o atual presidente e apoiará Bolsonaro na tentativa de reeleição, em outubro. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, indicado por Bolsonaro, também é da mesma organização.
Na proposta do Supremo Concílio, os líderes da igreja sugerem a criação de uma comissão formada por altos dirigentes “que apresente a contradição entre Marxismo e suas variantes com o Cristianismo Bíblico” e “que essas pastorais orientem os declarados ‘cristãos de esquerda ou progressistas’ de suas inconsistências.”
O documento precisa ser aprovado na reunião em Cuiabá para se tornar um posicionamento oficial da instituição. Nos bastidores, a proposta é apontada como uma pressão contra fiéis críticos de Bolsonaro e eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que não seriam mais bem-vindos no reduto presbiteriano.
O relator da proposta é o reverendo Osni Ferreira, da Igreja Presbiteriana Central de Londrina (PR). No último dia 3, ele usou o púlpito da igreja para pedir apoio à reeleição de Bolsonaro, ignorando regras impostas pela própria instituição, que orienta os pastores a não pedirem votos, mas, na prática, faz vista grossa às manifestações de apoio ao atual governo. ”Nós temos que reeleger Bolsonaro. Irmãos, não tem outro caminho para o Brasil. Olha a América do Sul inteira...”, disse Ferreira no culto. O deputado Filipe Barros (PL-PR), aliado de Bolsonaro e membro da igreja, estava presente e também foi “ungido” pelo reverendo para sua campanha à reeleição na Câmara.
Foi nessa mesma igreja em Londrina que, em janeiro de 2020, o pastor Emerson Patriota, genro de Ferreira, desafiou os fiéis a assinarem uma ficha de apoio à criação do Aliança pelo Brasil, partido idealizado por Bolsonaro, conforme o Estadão publicou. A legenda não saiu do papel e Bolsonaro acabou se filiando ao PL para ser candidato em 2022. Agora, Emerson Patriota também assina a proposta relatada pelo sogro contra as manifestações de esquerda.
A comissão “anti-esquerda” deve ter como relator o reverendo Alfredo Ferreira de Souza, da Primeira Igreja Presbiteriana de Roraima, autor de estudos sobre “as raízes satânicas do comunismo”. O grupo também deve ser formado por líderes que têm ligação com Bolsonaro, entre eles o presidente do Supremo Concílio, Roberto Brasileiro Silva. Ele esteve ao lado de Bolsonaro quando aliados do governo comemoraram a aprovação dada indicação de André Mendonça ao STF, em dezembro do ano passado. Na ocasião, ele elogiou o presidente.
Hernandes Dias Lopes e Augustus Nicodemus Lopes, conhecidos como dois pastores “pop” por terem milhões de seguidores nas redes sociais e influenciarem o pensamento presbiteriano no Brasil, também foram indicados para compor a comissão. Bolsonaro aposta no apoio de evangélicos para a campanha de reeleição. Pesquisas de intenção de voto têm indicado que o eleitor com esse perfil religioso é mais propenso a votar no presidente do que no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. [o descondenado petista é ateu e um enviado de 'satã' - e para vencê-lo vale o esforço.]
Nos últimos meses, Bolsonaro esteve ao lado de líderes religiosos, participou de cultos e subiu em trios elétricos da Marcha para Jesus em capitais como São Paulo, Curitiba e Fortaleza. “Todo dia eu dobro os joelhos, me concentro, rezo um Pai Nosso e peço a Deus que vocês não experimentem as dores do comunismo”, disse Bolsonaro no último sábado, 16, no evento organizado por evangélicos em Fortaleza. Procurada, a igreja ainda não se manifestou.
Política - Daniel Weterman - O Estado de S. Paulo
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