Petista acerta em lançar pontes para militares, mas subestima risco
Apesar de ter ido bem na sabatina desta quarta, 27, o ex-presidente Lula fez uma sinalização às Forças Armadas que, a pesar de ser politicamente acertada, contém um erro de avaliação por parte do petista.
É preciso deixar claro que as Forças Armadas vinham mantendo uma distância correta da política desde 1985, após a redemocratização. De maneira muito acertada, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica se comportaram como as instituições de Estado que são. Em 2018, no entanto, ano da campanha de Bolsonaro à presidência, as coisas começaram a mudar. Em abril daquele ano, o então Comandante do Exército, General Villas Bôas, fez uma publicação marcante às vésperas do julgamento do habeas corpus impetrado pela defesa de Lula no Supremo Tribunal Federal.
“Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”, escreveu Villas Boas no twitter.
Esse foi o primeiro passo dos militares em direção a Bolsonaro. Na época, o então candidato inclusive agradeceu o recado e declarou apoio a Villas Bôas. É um fato que essas “movimentações políticas” foram importantes para a vitória do atual presidente. Tanto que Bolsonaro agradeceu ao general Villas Bôas ao ser eleito. “O senhor é um dos responsáveis por eu estar aqui”, disse, e acrescentou que havia coisas conversadas entre os dois que ele, Bolsonaro, jamais revelaria.
Desde que começou seu mandato, em 2019, o presidente colocou militares em todos os lugares que conseguiu dentro do governo, sempre fez questão de falar das Forças Armadas como se fossem sua propriedade e tenta puxar os militares para si em cada ocasião que pode. Na Reforma da Previdência, eles foram poupados. [os militares pela própria Constituição Federal não são servidores públicos, o que impede que sejam alcançados por uma reforma no sistema previdenciário dos servidores públicos civis.] A reforma deles é completamente diferente da dos civis.
Pelo comportamento de alguns militares, as Forças Armadas deixaram de ser uma instituição de Estado e passaram a ser um braço de governo, como esta coluna já apontou. Inclusive, depois que Bolsonaro assumiu a presidência, as Forças Armadas soltaram notas com um tom diferente relacionadas ao 31 de março, seguindo a conhecida linha de pensamento do atual presidente
Um bom exemplo foi o caso do também general Edson Pujiol, ex-comandante do Exército, que, ao perceber que Bolsonaro queria usar a força, se afastou do presidente. Um mau exemplo foi o general Eduardo Pazuello que, como militar da ativa, participou de atos antidemocráticos ao lado do atual mandatário.
É preciso ponderar que existem bons exemplos e maus exemplos dentro do Exército, da Marinha e da Aeronáutica durante o atual governo. Lula fez uma sinalização claramente política, mas errou na interpretação que expressou. Ele pode nem acreditar nela e estrategicamente estar apenas buscando um diálogo com as Forças Armadas.
Blog Matheus Leitão - Revista VEJA
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